sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Contra o Espelho

Corpo, partido.
Espelho, tinindo,
Me mostra o abrigo
Daquele vazio.
D’um reflexo infindo,
Mostra-me espremido
Sozinho e pequeno.
Ligado num laço
Tão sujo quanto um nó
De cadarço.
Prendendo-me num delírio,
Tão delirante, tão indefinido,
Que me faz gritar ao relento.
O meu passado.
Afiado, gritado, chorado, explorado:
“Feio, porco, tosco, banal,
Idiota, estapafúrdio, ogro,
Mentecapto, imprestável,
Vagabundo; isso era o que
Me diziam. E assim eu
Fui crescendo e aceitando.
E comecei a beber e fumar,
Criei maus hábitos para,
Esquecer do que diziam.
No final, virei poeta...”
E assim vou me perdendo
Com discursos ao vento
Que não se somam, que não criam, que não servem para nada!
Lapsos de uma vida sem glórias.
Com pequenas esperanças como, talvez, ao voltar do trabalho:
Um breve trago (de uísque) e um cigarro.
Para tirar o amasso da cara, de dias mal vividos.
Sei que não sou o único a reclamar disso,
Muitos antes de mim já reclamaram.
E até fizeram sucesso, com seus blues,
Seus sambas, seus tangos, seus fados, seus punks!
Eles também reclamaram, ou deviam reclamar,
Dos frascos, dos troços, dos Marios, dos equinócios,
Das mulheres, das sequelas, das lanternas, dos talheres.
Que não me dizem nada!
E assim vivemos. Tão juntos, porém tão separados.
Como lobos alfas de suas respectivas alcatéias
De sonhos e angustias,
De medos e de faltas...
Falta de algo tão grande e tão indefinido, que uns falariam de fé.
Mas eu realmente não acredito nisso.
E assim vamos fazendo uivos poéticos
Para tentar conquistar aquela grande lua.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Um Prelúdio, Para A Fuga Do Nada, Que Me Lembra Você!

O carro passava.
A rua fedia (muito),
Mas isso não tirava
Nem destituía
A minha embriaguez cíclica.
Que ao longo dos anos
Só aumentava.
E eu, parado,
Do lado do poste,
Vendo o movimento belo das coisas.
Observando.
Como elas andam, agem,
Amam, vivem,
Tão rapidamente!
Coisas que eu não entendo.
Mas que eu crio fórmulas
Teses
Com as faculdades que me restam.
Em-bre-a-ga-das!
Já sou mestre no álcool!
E doutor em ressaca!
E isso me lembra que eu tenho que voltar a beber.
Isso,
Se eu quiser,
Continuar,
Não entendendo,
A nossa,
Tão,
Delirante realidade!
Isso se eu não quiser
Parar de escutar o lindo tango da minha existência
Que toca, abaixo, desse luar sereno.
Me lembrando do tempo que eu deitava
A minha cabeça sobre o seu colo,
Naquela grama,
Naquela grama verde!
Nós dois e umas garrafas,
Olhado pro céu e vendo suas cores.
Nós dois e umas garrafas,
Vendo as nuances dos nossos olhos.
Nós dois e umas garrafas,
Nos amando como dois cachorros em um poste.
Nós dois e uma garrafa,
Reclamando sobre a falta:
Do nosso amor, de reciprocidade, de romantismo,
De vida!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Chineses No Metrô

Volto pra casa
Na terça
No metrô das duas.
Volto depois de um dia de amor,
Bebidas e selvageria.
Volto, cansado e feliz.
Volto para o meu porto!
Que me espera quentinho
E confortável.
Com um belo bife no prato.
Volto no metrô das duas,
Com chineses do meu lado.
Pego na sacola uma cerveja
E abro.
Bebo e penso no quê eles estão falando.
Para que estão gritando?
Pessoas normais voltam pra casa,
Ou vão para o trabalho...
Nesse dia dos mortos.
Eu,
Só estou esperando o fim.
Da linha.
O fim da cerveja.
E o início da rotina.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Falta de Palmas

Estava quebrando um galho num evento lá no Centro, lá na querida casa onde vou aprender o meu oficio de investigador, era uma festa de recepção aos calouros e mais uma das festas de integração entre os cursos. Bem, ia rolar um som lá, havia uma possibilidade deu tocar, haveria palco livre depois das bandas. Dei um chega na passagem de som, descobri que havia uma falta de bateristas, parece que o dono da bateria e o batera da banda tinha ido embora sabe-se lá o por quê, o que importava é que eles precisavam de um batera e eu estava ali. E toquei, devo ter tocado bem umas duas horas, não sei, toquei bastante, foi maneiro, foi divertido, me davam cerveja, as pessoas curtiam, se balançavam, conversavam, se pegavam. As pessoas estavam realmente tendo momentos legais por lá. Só que eu notei uma coisa. Uma coisa que eu já vinha achando estranho.
Era um sábado, era aniversário de um motoclube lá por Vila Isabel. Tinha churrasco 0800 (para os de colete e pros caras de pau) e cerveja. Fora isso tinha o som de uma banda, banda de uns coroas gente fina que eu virei a tocar. Fui lá pra prestigiá-los e tal. Isso tudo era lá na sede do motoclube, bem legal, todo preto, cheio de caveiras, fotos de moto, pessoas barbudas, loiras, sinuca, chamas, tabaco, cerveja, a única coisa de pitoresca era a escola de balé na frente da sede... Mas tudo bem, viva a diversidade! E se eles não se importam, quem sou eu para falar algo? Bem, a banda começou a tocar, o repertório deles foi legal, as pessoas realmente curtiram, dava pra ver em suas faces rosadas e empolgadas totalmente embriagadas. Mas havia algo estranho lá, era estranho, de vez enquanto, entre uma música e outra, pra ser mais preciso, acontecia um silêncio. Um silêncio mortal, que remetia morte e desanimo, falta de graça e vergonha. Um silêncio que tomava conta daquela sede do motoclube, mas aquelas pessoas de preto pareciam não se importar, e logo após alguns segundos dessa angustia desconcertante a música recomeçava e ninguém parecia se importar, só tinham que levantar um pouco a voz e nada mais. Ao término do show falei com o baixista:
— Cara, por que eles não batem palmas? — Ele riu e simplesmente disse que não entendia aquele povo.
Pois bem, tive essa revelação lá, naquele dia no IFCS, quando percebi que as pessoas não se importavam com a música. Tanto faz como tanto fosse. Só batia palmas quem realmente estava perto do “palco”, assim como no motoclube, e só realmente bateram palmas algumas vezes, porque na maioria das vezes eles nem ligavam. Não entendo mais essas coisas. Antes quando alguém tocava alguma coisa em algum lugar às pessoas paravam de conversar, batiam palmas e voltavam a se falar. Era como reticências na conversa. Isso me leva a pensar por que isso esta acontecendo?
Levanto duas ideias. Uma é que hoje em dia qualquer um pode tocar qualquer coisa, aumentou o número de músicos (profissionais, amadores, de fins de semana, de carnaval, de acampamentos, recreativos), por isso as pessoas perderam o valor a música tocada ao vivo, parece o rádio, só que mais alto e às vezes com versões piores. Outro ponto é o do músico ao vivo no recinto, a questão dos cantores de churrascaria, e dos músicos de MPB de barzinhos, que estão ali apenas para você pagar mais caro à conta do bar, e para servir de música ambiente. E talvez seja nesse ponto que o problema começou a existir (pois um maior número de músicos de bar implica num aumento do número de músicos, na acessibilidade e facilidade de se aprender música), porque no barzinho as pessoas não vão pra escutar aquele músico, pois se fossem o cara estaria numa casa de show, não num bar. Logo a música no bar é música ambiente, ou seja, na cabeça das pessoas, aquilo que está tocando pode facilmente ser uma rádio, ou a seleção mp3 do bar. Ou seja, a música é ambiente, a conversa está em primeiro plano. O músico só trás a trilha sonora singular para as diversas cenas que acontecem no local onde ele está se apresentando que vai da comédia ao drama passando por memoráveis tragédias de amor. E por isso que as pessoas não batem palmas, porque não há nenhuma norma de etiqueta que mande aplaudir o sistema de som.

And They Play the Tarantella

Barulho de mar. Ondas quebrando perto de mim. Calor, muito calor. Caralho, onde eu estou? Abro os olhos vejo o grande saudoso sol abrasando a minha ressaca e a do mar. Dou me conta que estou deitado na areia e que o mar chega até minhas canelas. Devo estar parecendo um filé à milanesa. Permaneço deitado pensando como eu cheguei aqui, na praia, aliás, que praia é está? Passei a mão na cabeça, o cabelo cheio de areia, todo duro, a barba por fazer, os óculos estão como sempre intactos. Tomo coragem e levanto e quase caio, meu terno está todo cheio de areia, minha carteira está toda molhada, meu celular continua vivo, os cigarros estão encharcados, pelo menos o isqueiro ainda está funcionando, meu caderninho de anotações está se desfazendo, cheio de borrões e com páginas grudadas a ponto de rasgarem. Não tinha nada para fumar, nada para beber, nada para ler, e uma ressaca sem sentido, uma alma encharcada e estava cheio de areia e estava na praia, meu deus o que eu fiz ontem? Muitas perguntas e muito prejuízo.
Bem, parecia domingo, não tinha ninguém na praia. Comecei a ganhar a areia. Reparei que havia muito cigarro, muita ponta, muita garrafa de cerveja, vodka, vinho, e sujeira pela areia. Parecia ter havido uma festa, e uma boa festa. Percebi que tinha umas tochas também, talvez tenha rolado um luau muito louco. Parece que eu cai, ou tropecei, não sei estava ainda meio tonto. Percebi que eu cai por causa se uma bigorna. Sim, uma bigorna no meio de uma praia. Fiquei me perguntando que tipos de loucos eram esses que faziam um luau com uma bigorna, não conseguia vir nada a minha mente. Era muito sem sentido para mim. Levantei e resolvi olhar mais pro chão, tomando mais cuidado onde iria pisar. E vi maços de cigarro, ossos de galinha, latinhas de cerveja, garrafas de destilados, alguns pedaços de panos, papel rasgado, sacolas de lixo cheias, pontas de cigarro, algumas saias de havaiana, calcinhas, cuecas, camisinhas, flores, colares de flores, palhetas, copos amassado, uma serra, um martelo, cocos, baquetas quebradas, uns baldes, e um bongô. Peguei o bongô e fui embora. Percebi que eu estava na Praia do Diabo. Peguei ali pelo Arpoador. Parei num quiosque, comprei um maço. Acendi e fui andando até a General Osório pegar o metrô. Quando fui pegar o dinheiro pra pagar o metrô reparei que tinha um flyer dentro da carteira. O flyer mostrava tipo o que parecia ser uma estátua de um anão dourado barbudo fazendo a saudação nazista, ele estava em pé em uma lótus e tinha vários outros seres bizarro ao lado dele, o mais estranho era um saci abraçado ao anão. Realmente tomei um susto ao ver aquela porra, fiquei parado sequelando analisando aquele flyer e quase criando um motim na fila do metrô, eu tinha aberto a carteira pra pegar o dinheiro e eu era o primeiro da fila e a fila começava a ficar grande e furiosa. Depois disso fiquei a volta pra casa inteira olhando curiosamente para aquele anãozinho e o saci, que coisa mais bizarra. Depois percebi que tinha algumas coisas em hebraico. A parte de trás do flyer estava toda borrada, mas tinha como endereço a Praia do Diabo.
Era realmente domingo, e só fui perceber isso à tarde. Foi automático assim que cheguei a casa, apaguei no sofá. Merda. Acabei com o sofá, agora ele ta todo fedendo a bebida, cigarro e cheio de areia. Resolvi tomar um banho e tentar relaxar um pouco, eu parecia mais firme, mas a cabeça ainda martelava. Quando eu tirei a roupa e me deparei com o espelho vi que meu corpo estava todo rabiscado, parece que me pintaram com tinta guaxe, sei lá, que coisa mais bizarra. Tinha um sol no meio da minha barriga, muito bem desenhado, e no resto do corpo, várias sílabas e mãozadas sem sentido. Pouco me importei e tomei banho, custou um pouco tirar aquela guaxe, mais saiu. Agora eu estava limpo, fui à cozinha e fiquei bebendo água.
Tentei me lembrar do que fiz ontem, não consegui. Fiquei encarando o flyer e nada. Tentei achar algo na internet e mais nada. Tentei ver se aquele anão era sobre alguma seita maluca com sacrifícios e santo daime, e não achei nada, porra nenhuma. Pensei seriamente dum complô maligno de neo-nazistas doidões de aiuasca, ou com os cus cheios de outras drogas pesadas, chapadões num luau falando sobre arte contemporânea, rasgando as próprias roupas, se libertando dos padrões da moda, e pintando os corpos celebrando as antigas tradições celtas e batucando sons loucos e ancestrais de noites tão escuras que não podem mais serem vistas. Noites ancestrais de celebrações da carne e do contato do homem primitivo com o complexo ser astral, a junção dos corpos, a união num batuque hipnotizante e delirante de tempos em que o homem era um ser complexo e rico de cultura e significados sobre as coisas do mundo. Um mundo onde deuses andavam pelos homens e não havia essa distinção, todo eram iguais e felizes batucando e celebrando a vida! Eu forcei muito a minha cabeça, mas não pude me lembrar de nada, nem achei nada na internet, a única coisa que eu achei foi o nome do artista plástico alemão que fez o anãozinho dourado... Bem, dane-se, uma amnésia nunca faz mal a ninguém.
No dia seguinte, chegando à redação, o meu chefe perguntou:
— Então, como foi à festa do Anão Dourado?
— Festa do Anão Dourado?
— É, a festa que eu mandei você cobrir que ia acontecer no sábado na casa do... — Puta que paril! NA CADA DO RENATO GOLDENBERG! Tudo na velocidade e com a intensidade de um soco no rim. O ponto de encontro era na casa dele no Arpoador, tinha uma porrada de gente lá, muita gente mesmo, mas tava tudo escuro. Ai ele surgiu na sala cuspindo fogo e tacando confete. Gritando que a festa era tudo uma celebração demoníaca e que deveria ser feito o “ritual” na praia do Diabo! Ele se deparou na janela, com quase metade do corpo para fora, apontando para as tochas que estavam na praia, e gritando que a festa era lá, e ele tacava confete e gritava e todos riam, e ele disse que quem chegasse por último seria a mulher do padre! Nesse momento alguém riu loucamente, com uma risada profunda e de satisfação, será que seria o padre? E numa cortina de fumaça o Renato desapareceu. Todos sabiam que ele era um louco-poeta-ilusionista-pseudo-judeu-anarquista. Então as portas abriram e todos foram correndo para lá. No calçadão reparei nas figuras estranhas que estavam lá. E realmente existia um padre, ele era enorme, e eu não queria ser a mulher dele, e aquele homem olhava para todos com um olhar denso e profundo, parecia estar tendo uma orgia com todos só em olhar as pessoas. Quando todos chegamos lá foram nos dadas cerveja e o Renato deu como iniciada a festa! Então, bongôs começaram a tocar, logo em seguida, atabaques, djembês, congas, alfaias, caixas começaram a fazer o som. O som era realmente hipnotizante. Tinha uma mulher dançando dança do ventre e tocando castanholas, um casal dançando tango, pessoas fazendo malabarismo, pessoas cuspindo fogo, pessoas gritando coisas, pessoas construindo poesia desses gritos, pessoas se pegando, pessoas nuas, pessoas cheias de areia, pessoas bebendo, fumando, conversando, fodendo! Estava tudo desordenado, até que o cara do acordeão chegou. Ele era muito cigano, e pos ordem na festa. E começou a tocar uma tarantela, e todos os instrumentos o seguiram. Foi lindo eles tocavam uma tarantela e todo os cachorros começaram a uivar, nenhuma criança deveria estar acordada naquele momento, e os cubanos massacravam em suas congas, pensava eu donde via aquele vigor, se fosse eu já estaria morto! Era uma loucura todos aqueles instrumentos coordenados e um poeta de voz grave recitando versos dos mais distintos e inquietantes! O fogo, o confete, a comida, o sexo, a música, era a exaltação máxima da carne para um deus pagão. O mais estranho foi o casal que dançava tango em todas as músicas, não paravam, era louco, apaixonante, intenso, violento, sublime humano! Eles dançavam tango até sangrar, naquela areia fofa, celebrando a vida, a carne, o sentimento melancólico, celebrando a nossa vida delirante, a nossa realidade alucinada.
— Então, cê lembrou?
— Não, acho que eu estava me preparando para essa festa, quando eu fiquei muito bêbado em casa vendo algum filme do Woody Allen. — Bem, o público não pode saber de todas as loucuras, fora que eles não iam gostar de saber de uma orgia louca de malucos.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Músicos De Copa

Tem certas coisas que só aparecem no Brasil em época de Copa, como os pseudo-nacionalistas coloridos, chamativos e barulhentos, que saem do armário a cada quatro anos; mas além deles aparecem os músicos de Copa.
Acho que esse movimento pró-batucada deve acontecer por todo o mundo, porém, como o meu mundo apenas se limita ao Rio de Janeiro, não que ele seja o mais importante (e que todos devam se curvar diante do possível gigante do petróleo), mas é o único que eu conheço bem, pelo menos determinados locais da região metropolitana. Mas a coisa é incrível em todo lugar que você vai tem um infeliz de um batuqueiro.
Não reclamo de batuques, mas sim de batuques fora do ritmo, como os que acontecem nas Copas, com esses músicos de Copa, que esperam quatro anos para tirar o surdão do armário e para espancá-lo feito um animal acéfalo e disrítmico. Pensa bem, o cara tem, pelo menos, uma vez por ano pra treinar o surdão, desfilando embriagado pelos blocos da cidade; ou então toda semana, colando em alguma torcida organizada. Mas não! O cara é preguiçoso! E como todo bom brasileiro, que só veste a camisa do Brasil a cada quatro anos, só é músico nessa festa.
Pena que isso não acontece com esses pseudo-compositores que vemos a cada esquina, tocando de perna cruzada, chapéu legal, voz estranha, e músicas sobre por do sol, eu, você e a cosmologia universal que separa nossos beijos tão pertos e tão longes! Malditos intelectuais...

Não-Lugar

Uma vez apareceu um velho em algum lugar. Olhou, parou, sentou. E falou com seu tom de voz inigualável:
— Maldito homem animal! Maldito seja esse animal capitalista! Que mesmo tendo, abertamente, se livrado de todos os vícios do passado selvagem e criado tantos outros vícios para a sua intelectualidade não conseguiu se desvencilhar de um! Ah! Esse um... O maldito desejo animal! Pelo qual, fazemos tudo, pelo qual inventamos a diferença! Imagine se todos fossemos iguais, logo, todos seriamos aptos a tudo, poderíamos, todos, cumprir a nossa missão na Terra e seriamos felizes por isso! Porém a realidade não é assim tão utópica... Nem os animais, que primeira vista, são todos iguais o são! Eles têm que se mostrar mais interessantes, mais fortes, mais intimidadores, mais protetores, mais “corretos”, mais ricos!!? Seja uma coroa ou um título de propriedade, esse infeliz será mais feliz que nós! Ele estará mais apto a se reproduzir! Não sei como seria uma sociedade igualitária, não sei como seria a ética dessa sociedade, como funcionariam suas leis em relação às felações, será que seria uma orgia comunitária? Rodízio de casais? Rodízio de camaradas?! Porém esse mundo não existe... Não vai existir, vai contra a nossa humana de lei de livre concorrência liberal... O que importa é essa nossa mágoa, essa nossa tristeza criada por esse mundo opositor... Meu filho TENHA DINHEIRO E TU COMERÁS QUEM QUISERES! Mas com certeza você já percebeu isso, né? Mulheres são que nem passarinhos, vão e vem quando bem entendem, e nem adianta enjaulá-los, pois ninguém quer ver pequenos cantores tristes; nem feri-los, nem nada, apenas deixe um pouco de alpiste na sua sacada, para eles saberem que você é o cara, e pra voltarem mais vezes...
Ele terminou o seu discurso em nenhum lugar, ninguém de lá se quer aplaudiu, nem repudiou, apenas deixou passar, deixou voar as palavras ao vento. E no vento aquela voz grave, melancólica, triste, digna de um poeta foi ecoada para algum lugar longe de lá como cá. E assim o poeta itinerante foi embora, voando como um passarinho, procurando outro não-lugar para se pronunciar.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Balde De Gelo

Me lembro de uma noite doida, de pessoas loucas, de palavras soltas e da minha voz rouca. Acho que era uma festa. Pessoas alegres falando de música, falando de Brasil, falando da vida, bebendo cerveja e comendo bolo. Tinha uísque também pra quem quisesse, salgadinhos e amendoim também. Um violão, um baixo, uma percussão peruana bastante louca e pessoas aptas a tocar. E foi assim à noite. Tocamos de tudo, literalmente, até porque eu toquei um balde de gelo (acredite, baldes são excelentes instrumentos de percussão, na verdade, são os melhores, pois você pode unir tudo o que você sabe de percussão que dá certo!).
Conversei muito sobre música e cheguei a seguinte conclusão: eu sou um chato. Porque eu não gosto de Legião Urbana, de Cazuza, Los Hermanos e de futebol! Não sei se eu sou realmente desse planeta ou se eu sou realmente um merda! Por não saber apreciar a “verdadeira música brasileira”! E alguém na casa gosta de samba, de Adoniran Barbosa? Alguém curte aquele maracatu, do Estrela Brilhante? Mestre Salustiano? Monarco? Tábua de Esmeraldas?! Tim Maia Racional?! Da Lama ao Caos?!
Eu não entendo por que cultuar Legião? Uma banda, pelo menos para mim, fraca tanto de letra quando de música. Mas que conseguiu transmitir todo aquele sentimento daquela geração perdida, desiludida, sem esperança, todos do partido do coração partido que foi fundado durante a nossa linda década de 1980. Entenda que eu não vou agredir ninguém na rua, ou pedir para parar de tocar esta ou aquela música, eu respeito. Cada um tem o direito de gostar do que quiser e isso nunca poderá ser um fator para descriminar uma pessoa.
Mas uma parada que me irrita mesmo é essa coisa de comparação. Eu odeio comparação, sempre odiei ser comparado, acho que você só pode ser comparado dentro das suas aptidões, como um cd de uma banda só pode ser comparado com um outro album da mesma! Não existe essa parada de o que é melhor Beatles ou Rolling Stones! Ou Led Zeppelin e Black Sabbath? Quem canta mais: Robert Plant ou Freddie Mercury! Miles Davis e Coltrane! Samba ou maracatu! Não existe essa parada de cultura superior! Muito menos cultura inferior! Cultura é cultura e ponto final! É manifestação e tem que ser aceita! Se você não quiser aceitar o funk, pra mim tudo bem, até porque não adianta falar com uma parede.
Você é livre para viver a sua vida, faça o que bem entenderes, como se agora você achou desnecessário ler esse texto, queime-o com o seu cigarro, assim como o autor dele acabou de fazer.

Bugigangas

Augusto era uma pessoa até normal. Conseguia se misturar no meio das pessoas sem chamar atenção, em casa não tinha hábitos muito extravagantes, era um bom amigo, era um ótimo pai, e um marido maravilhoso. Não arrumava briga com ninguém, sabia se portar, raramente blefava, não tirava vantagem da vida, antes de chegar ao limite parava de beber. Em suma, uma pessoa, assim, perfeita!
Mas como todo homem ele tinha os seus mimos, algumas paixões, pequenos atos incorrigíveis que estavam marcados em sua alma. Como todo bom homem que tenta controlar seus demônios, às vezes, às vezes, eles saem pra dar uma voltinha. O seu grande problema eram as “sucatinhas”.
É que ele desde moleque ia andando pelas ruas e esbarrava com algo pequeno, brilhante e sujo. E ele se apaixonava por aquele pequeno objeto e resolvia pegar e guardar! E foi assim a vida inteira, guardando pregos, parafusos, porcas, arruelas, pistões, aros, correias, discos, pedaços de ferro entre outras coisas. O que mexesse com ele, ele guardava.
Quando pequeno sua mãe reclamava, pois enchia a casa de coisas sem menor utilidade, mas ele dizia que era melhor estar prevenido. Seus amigos também reclamavam, estavam todos indo pro Maracanã, ver aquele Fla x Flu, quando ele aparecia com um volante de Fusca e falava que iria para casa, pois poderia quebrar o volante no jogo. Quantas namoradas não agüentaram ser interrompidas por um mísero parafuso no chão do quarto do motel.
A que mais agüentou foi a Dora, porque ela achava aquilo até bonitinho, era o hobby dele, e afinal era a única coisa de errado nele, aquele homem tão atencioso, romântico, prestativo, inteligente, criativo. Era parte de seu ser aquilo! Quantas vezes ela falou pra ele fazer alguma coisa com aquelas coisas, montar alguma coisa, talvez uma obra de arte contemporânea, já que estava na moda fazer arte de sucatas. Mas ele não gostava da ideia, pra ele aquilo era um tesouro, algumas coisas que valiam, que pessoas gostariam de ter, coisas úteis!
Com o tempo, Dora não sabia mais entender o marido, ela achou que o entendia, mas viu que ela mesma só o piorou! Foi incentivando o monstro, ela se sentiu como o Frankenstein, arrependida pela sua criação e um dia ela precisou falar com ele.
— Augusto, acho que devíamos redecorar a casa, o que você acha meu amor?
— Hum... Ta bom, o que você quer mudar?
— Você!
— Como assim? Eu?!
— Não agüento mais viver nesse lar! Você nunca me tratou direito! Nunca quis saber do que eu gostava! Enquanto eu fui alimentando o seu “hobby”! Agora a casa está cheia de coisas inúteis! Você realmente piorou muito, meu amor... Antes você só pegava coisas pequenas, agora você pega motores na rua! E também os compra na internet! Nós vivemos num chiqueiro de graxa!
Augusto parou, tirou os óculos, pousou o jornal em cima de uma pilha de pneus, olhou pra Dora, tomou ar, e disse:
— Tudo bem, meu bem. O que você quer que eu faça?
Dora já exaltada, quase chorando, sabendo da resposta que iria vir. Pegou fôlego e tentou dizer calmamente:
— Ou eu ou essas quinquilharias...
Hoje em dia, Augusto é dono de um ferro-velho e de uma loja de serragem. Seus filhos o visitam uma vez por semana, e nunca viram o seu pai mais feliz na vida.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

No Dia Que São Pedro Parou Sebastião

Tudo começou na segunda depois da Páscoa, dia 5 de abril, e como os jornais falaram foi a pior chuva que atingiu o Rio de Janeiro em 44 anos. Realmente eu posso falar que foi horrível, até a natureza deveria ter um pouco de escrúpulos ou pelos menos fingir que tem! Porra! Uma chuva em plena segunda-feira às seis da tarde, quando todo mundo ta saindo do trabalho, ou iniciando o seu expediente; hora do rush na cidade! Em bom funcionamento já é meio complicado transitar, seja a pé ou de meios de transporte. E foi mais ou menos isso: a chuva caindo tranquilona, cheia de raiva no coração e com aquele apetite maneiro por destruição, e foi alagando, que por sua vez foi parando, e parando, e parando e parou a cidade do Rio de Janeiro! E foi assim, eu tava no Centro, lá pelas oito ou nove horas, pronto para voltar pra casa, só que fui surpreendido pela fila de ônibus e carros parados no sentido Praça da Bandeira da Presidente Vargas, nas outras faixas não passava se quer uma alma vinda da mesma praça. Esperei um pouco, não deu em nada, a Praça da Bandeira devia realmente estar submersa. Resolvi tomar o metrô até a Saens Peña. Enfrentei uma fila gigantesca pra comprar o bilhete na Uruguaiana, esperei um pouco o metrô chegar, me joguei pra dentro dele quando este chegou, lutando por um espaço. Até que não foi uma luta tão pavorosa, cheguei rapidamente a Tijuca. Enfrentei mais uma fila de quase mesmo tamanho, desta vez na chuva, no ponto do ônibus da integração. Depois de um tempo chegou a minha vez de embarcar no ônibus. Cheguei rápido no Grajaú, até porque não tinha muito trânsito na rua. Ainda bem que não estava faltando luz da minha casa, porque ultimamente, caiu uma garoa falta luz!
Quando cheguei confirmei a calamidade em que nos encontrávamos. E foi assim, pelo menos até hoje (quarta-feira, dia sete), continua caindo chuva, até agora temos 138 mortos, segundo os bombeiros; mais de onze mil desalojados, pelo que nos informa a Defesa Civil. Ainda temos vários pontos de alagamento, estradas bloqueadas, muitos bairros ficaram sem luz nesses dois dias, muitas pessoas passaram muito sufoco na volta pra casa. E foi decretado estado de luto pelo Governador nessa terça.
Vivemos um momento de crise, uma séria crise que não deixa ninguém de fora. Essa chuva mostrou mais uma vez, pela segunda vez no ano, que há sérios problemas na administração da cidade e do estado. Voltamos àquele grande problema de ocupação irregular nas encostas, as famosas áreas de risco (que pra mim não devia falar que apenas um lugar é perigoso, ou mais perigoso, pois toda a favela é um risco). Pois o terreno foi desmatado para aquela construção irregular e precária, assim chamada de barraco. E quando chove muito, o terreno que foi devastado pelo arranque das árvores não consegue segurar o volume d’água e sede. E nisso o morro desce pro asfalto. Temos também os alagamentos que acontecem por causa de entupimento do esgoto pelo lixo que é carregado pelas águas da chuva, além disso, temos o problema da falta de ampliação desse sistema de esgoto, que não atinge todos os pontos da cidade; também carecemos de um sistema funcional de escoamento na cidade, pra mim ele não existe. Se nesse caso ele existe e é feito pelo esgoto... Eu realmente vou começar a me por a rir. Também temos os transportes, que normalmente já são precários e escassos. Foi muito legal, o ônibus não está passando, peguemos o metrô então, que está lotado; e o trem que não funciona... O que mais podemos pensar de legal? Temos a situação das ruas, hospitais, o problema da polícia, o problema do “terrorismo” carioca, a luta de classes... Tem aquele que tá na moda, o problema da emenda Ibsen, que propõe uma nova forma na divisão dos royalties do petróleo e do Pré-Sal, onde os estados produtores, como é o caso do Rio, perderiam muito dinheiro, pois os royalties seriam divididos por todos os estados e municípios da união de acordo com o fundo de participação. Porque, para Ibsen, “não existe estado produtor, no máximo tem uma vista para o mar, que é muito privilegiada”. O Senado voltou atrás, percebendo a grande burrada feita, propondo a divisão entre os estados da união sendo que existiria um percentual majoritário para os estados produtores. Verdade que não existe o estado produtor, então mande o dinheiro para Atlântida, eles precisam mesmo de uma grande verba para a reconstrução. O dinheiro vai para o estado ou município que tem em sua zona de influência um ponto de extração de petróleo, isso não é uma coisa privilegiada, pois aquela região tem que estar preparada para manter todos os trabalhadores daquela região! Se um poço de petróleo brotar no meio de Bangu ou no meio de Porto Velho os royalties, as infra-estruturas, tudo vai para lá! Pelo menos eu acho isso, é o meu ponto de vista, ao invés de fazer isso com o petróleo por que não faz com o latifúndio? Expropria-o, loteia-o, enche de novos proprietários e faz o Maranhão feliz!
Só digo que perdemos tudo! As Olimpíadas, a Copa, a promessa de vida nos nossos corações! Cabral chorou. Tadinho, como ele chorou ao ver que o seu sonho indo por água a baixo. Mas sua tristeza foi vingada, uma vingança divina, São Pedro agiu por si só! E como Cabral que lançou águas de tristeza, o grande Santo nos trouxe muitas outras carregadas de mágoas e angústias! A hedionda enxurrada mostrou que nós temos muito a melhorar, mostrou que o único órgão público que presta são os bombeiros, pois eles agem na hora certa, sabem aproveitar o momento e também que não se deve especular como fazer o resgate de uma pessoa: indo de imediato arriscando sua vida em detrimento do bem do outro, sem esperar o bote chegar.

Herói Moderno

Heróis, sempre presentes em todas as culturas e todos os tempos como modelos de pessoas, admirados por todos, tidos como exemplos! Grandes exemplos e personalidades, aqueles que as mães falavam aos filhos para serem, aqueles que as filhas queriam casar aqueles que os pais queriam ter criado e aqueles que muitas nações queriam. Porém essa realidade não está presente em nossa modernidade. O tempo do “role model” acabou-se! Hoje vivemos a era dos azarões!
Para começar essa divagação, temos que nos perguntar o que é um herói? De que herói? Como nasce um herói? Bem, o herói é o exemplo de caráter integro, de honra inestimável, um cavaleiro, um paladino, um defensor da justiça, da ordem, da paz; um lago de excelências, o perfeito, o único, o imortal, e toda aquela bobagem clássica que todos nós sabemos. Mas tem uma coisa que não podemos esquecer: é que ele representa uma cultura, é o arauto da dignidade, do comportamento e de todas as honrarias daquele povo! Não citarei exemplos, pois se não, me enrolarei entre os fictícios e os reais e acabarei lembrando-me que no Brasil não saudamos os nossos verdadeiros heróis.
Só que isso não acontece mais. Parece estranho isso, mas é verdade. Essa mudança do estereótipo do herói veio com a existência dos anti-heróis. Assim nomeados por não conterem toda aquela glória em seus atos ou por não seguirem os padrões de honra, moral, justiça e conduta dos clássicos. O anti-herói não devia ser tratado como uma negação e sim como uma evolução. Esse termo é deveras pejorativo, pra mim o melhor termo seria chamar de herói moderno. Ele é um herói que acompanhou a mudança do mundo feudal pro mundo capitalista, para o mundo moderno, o mundo da exploração do homem pelo homem, o mundo das contradições o mundo da falta de honra, o mundo cão, que te devora se você não abrir os olhos; o mundo antagônico ao mundo feudal. O mundo dinâmico, o mundo do capital! E nem por isso o chamamos de anti-mundo!
Idolatramos os caras mais traumatizados, que nunca conseguiram superar o assassinato cruel de seus pais num beco escuro; que foram excluído da sociedade pela sua aparência, os segregados, que se acabam em bebida, cigarros e putas baratas; que tentam trabalhar, tentam funcionar conforme os padrões escritos pela sociedade, mas que são terrivelmente massacrados por esta; em suma, eles são pessoas que não se encaixaram direito na sociedade ou a sociedade não os encaixou direito e por isso decidem virar os lobos solitários, fazendo as coisas com as próprias mãos. Gostamos desse sentimento desvairado de justiça, desse código de honra próprio, sujo e correto. Correto porque ele faz alguma coisa, não importando os meios, meio que um justiceiro maquiavélico, importando-se apenas com os fins!
Nos importamos com a trajetória suja e podre desses heróis que nos correspondem tanto, pela sua vida difícil e seus sucessos impossíveis. Porque no final todos nós somos traumatizados por viver num mundo violento, num país violento, numa cidade violenta, num bairro violento, numa casa violenta. Somos pessoas insignificantes que fraquejam ao atravessar o semáforo da vida, tendemos a cair a cada passo dado e não acreditamos mais naquele exemplo de pessoa, pois nunca a seremos! Acreditamos hoje em dia no exemplo mais real, seja o astro da TV ou o bandido do morro.
Foi-se o tempo de vivermos a sombra de um Ulisses de Homero, hoje vivemos a sombra de um Henry Chinaski de Bukowski, ou quiçá um Brás Cubas, porém a realidade brasileira vive, hoje em dia, idolatrando um ícone Dourado da TV.

Trote

Sinal fechado, ele se aproxima dela e diz:
— Oi! Você poderia me dar uma ajuda com o trote?! — Diz ele com aquela pitoresca simpatia que se escondia por trás de sua pintura de apache que se embrenhava com sua barba. Assustada ela olhou pro seu corpo gordo estranhamente pintado com símbolos que representavam nada mais nada menos, do que a ideologia de seus autores. E riu e disse que não daria dinheiro a ele. Aquele gordo era como uma tela ambulante, não assinada, pedindo dinheiro no meio da rua.
— Ah! Mas por que não?
— Porque eu não concordo com essas coisas de trote! — Respondeu ela ainda risonha.
— Mas por que você não concorda? — O sinal abriu. Mas os dois prosseguiram com a “conversa”.
— Porque acho um absurdo! As pessoas passarem por esse vexame para dar dinheiro prum bando de vagabundo beber! Você não deveria se sujeitar a isso, você tem que acabar com isso! — Ela era difícil, mas o gordo gosta de mulheres difíceis.
— Também acho isso, mas o que eu posso fazer? Você acha que eu posso acabar com esse sistema assim rapidamente? Você tem que entender que o trote é um socializador! O trote é necessário! Agora me explica como é que eu acabo com o trote? — Ela desabou em risadas mais uma vez.
— Sei lá! Só sei que você tem que acabar com isso! Tem que mudar tudo isso! — Ela era bonita, a sua risada era gostosa, em si, ela era bem gostosa, enrolada, confusa. O gordo sabia que poderia se apaixonar por ela facilmente, porém, ele não relevou aquele afronte.
— Então você acha que é assim, sem explicação, que eu vou conseguir mudar essa realidade que reflete a problemática da ética pequeno-burguesa, que atinge um dos maiores rituais de passagem da vida estudantil de uma pessoa na vida sócio-estudantil frente a uma realidade capitalista?! — Ela riu dele, riu muito, e foi-se embora. Ele, porém, ficou parado no meio da rua, sem sorriso, sem dinheiro, sem camisa e sem mulher!

Dia De Tirar A Barba

Comigo é sempre assim, depois de dois ou três meses de um saudável relacionamento as coisas começam a desandar. Começa a irritar, encher o saco e tal. E no fim, tudo acaba em no máximo meia hora. Eu fico lá triste vendo tudo ir pelo ralo. Eu realmente não gosto de ficar sem barba.
Sabe como é a barba cai bem, se você souber que barba usar. É mais do que um simples acessório, é quase como uma coisa fundamental, pelo menos para mim. E sempre acontece isso chega uma hora, principalmente no verão, que você começa a se questionar e se coçar demais e a esquentar também e você pensa em rever o seu relacionamento com a sua barba. Fica noites sem dormir pensando se isso é realmente de fato certo, que o seu conforto é mais importante do que esse ser que respira junto contigo, que divide a mesma cama que você, que come com você, que pensa com você, que faz tudo junto de você!
E você pensa nisso tudo, vê que você tem que manter aquele seu bichinho de estimação, mas você vai um dia à Cidade, passa o dia naquele calor insuportável do Saara, rodando que nem um maluco atrás de coisas, passa pela Ouvidor, pela Carioca, praça Tiradentes, entra no Lavradio, e termina na Lapa bebendo uma cerveja ou coisa que valha; você está cansado, está desde manhã rodando o Centro, e resolve ir pra casa, chega a tal, lá pra meia noite, morto de cansaço, sem um puto no bolso, semi alcoolizado, puto porque não conseguiu acertar as contas naquele fatídico dia, e você para na frente do espelho todo nu, vê toda aquela alergia da barba, lembra como foi um inferno aquela maldita o dia inteiro, não lhe deu um minuto de sossego, só fazia coçar e lhe atazanar! E você, puto, incauto, nervoso, alcoolizado, faz o que? Perde a razão e pega a gilete, e acaba com aquele lindo laço de amor que você tinha com aquela barba, três meses de alegrias, glórias, pensamentos — vão embora como passarinhos atrás de alimento.
Você toma um banho depois e vai dormir aparentemente feliz. No dia seguinte, você vai ao mesmo banheiro que ocorreu a cena do crime e se depara com um estranho no espelho. Você pensa ainda meio sonolento “quem é você? Onde você está não era para eu estar? Ah! Céus! Você sou eu, mas sem...Barba, o que aconteceu com ela? Seu monstro! Você matou a sua barba! Seu crápula!”. Você grita, grita, grita, acorda toda a vizinhança, os cachorros começam a latir, o interfone começa a soar, já ouve sirenes vindo de longe, a campainha já grita, e você tem que dar uma explicação a eles, todos eles, e você no auge de sua irracionalidade abre o berreiro:
— BARBA! BARBA! AONDE ESTÁ VOCÊ BARBA! — de repente tudo volta ao normal, todos sabem de seus ataques. A vida continua a ser mesma pra eles e não para você. Que senta ao vazo e fica balbuciando alucinadamente a maldita da dissílaba que você fez o favor de assassinar, a palavra que durante uns dias será o símbolo da angústia e da agonia, você não poderá ver mais a foto de seus ídolos por algum tempo sem não chorar, vai ter pesadelos com barbas que matam seus donos. Isso tudo só irá acabar daqui a uns dias quando a sua barba voltar a crescer, talvez lá daqui a um mês a sua auto-estima volte a ser a mesma, mas é mais possível que somente uma semana antes de você cometer esse barbicídio, mais uma vez, você talvez volte a ser o mesmo.

The Last Shout Of Jack

Já havia feito tudo. Defecado, lido um livro enquanto expurgava os demônios, feito a barba, parado para olhar as cicatrizes, lavado o rosto, em suma, estava pronto para tomar um belo de um banho. Ao entrar no box ele tropeçou. Tropeçou lindamente naquela borda de borracha que serve pra proteger o vidro. Faltavam dois segundos pra ele e menos de dois centímetros até a saboneteira que o mataria.
Ele até possivelmente saberia o que fazer, mas não conseguiu fazer nada. Todos aqueles anos perseguindo maltrapilhos internacionais, anos a frente da MI6 como um dos melhores espiões. Mais de trinta anos de serviços perfeitos e perigosos. Fazendo coisas tão surpreendentes quanto qualquer espiãozinho de filme de quinta categoria, explosões são tranqüilas, mas fazer tudo sem os outros realmente desconfiarem, na calada da noite ou então durante anos como espião infiltrado na KGB servindo vodka a todos os presidentes da União Soviética e também acabando com uma seita secreta de donos de bar que tinham como objetivo controlar as empresas de cerveja para adicionar uns cogumelos alucinógenos viciantes nas fórmulas e aumentar demasiadamente o preço da cerva ao ponto de controlar o mundo, escravizando o mundo para retomar a antiga linhagem dos faraós!
Quantas aventuras, quantas tramas bem feitas ele passou. Quantos croissants, quantas burkas, quantos joelhos de porco e quantas pernas maravilhosas ele se deliciou. Ele realmente comeu de tudo: de mulheres perigosas (filhas de sultões, princesas, professoras de história), a comidas envenenadas. Mas ele sobreviveu a tudo isso. Sabia levar uma vida dupla. De dia um inglês que morava há anos no Rio de Janeiro com uma mulata sensacional e de noite um agente da MI6, renomadíssimo, perigosíssimo.
Agora nada importava isso, nem todas as artes marciais, nem a sua habilidade como poliglota, nem seu pós-doutorado em história, nada mais importava, nada lhe salvaria de seu destino findável e irrefutável: era ali! No box, no Rio, por uma saboneteira! Já estava a um centímetro de sua morte. Por que eu não morri na Rússia, ou então na Índia contra aqueles grupos separatistas, ou então no Japão por aquele velho que estava aliciando jovens e os matando em nome do espírito do grande Musashi, ou então por qualquer bala perdida de um meliante carioca?! Por que a saboneteira?! Porquê?!
—Why God! — Foi o seu último grito. No final ele foi pro céu e Deus não o respondeu nada até porque Deus é um cara muito ocupado.

Chora O Folião

Quarta de cinzas:
A folia desatina
Estandarte cai.

Esperança Explanada

Eu a vi no carnaval.
Ela era
Negra,
Linda,
Perfeita!
Naquele mar de gente,
Multicolorido,
Fitei seus olhos...
Fui correspondido por um riso,
Largo
Suave.
Ela era pequenina,
Em comparação a mim.
Tinha um lindo black,
Que empunhava uma
Rosa
Linda.
Seu corpo era algo gracioso:
Uma criatura delicada.
Havia certo lirismo nela.
Suas formas continham
Certo
Nuance.
Perfeito!
Porém não cheguei a conhecê-la,
Mas escrevi esse poema a ela.
Só para manter a esperança...
De achá-la um dia,
De amá-la,
Nesse,
Dia!

Momo

Eu, Rei Momo,
Abdiquei toda a natureza
E toda a incerteza
Daquele povo tonto.
Trouxe lhes o carnaval!
O meu cortejo real!
Carregado de sarcasmos jocosos
E ironias fugazes.
Para acabar com a rotina melancólica,
Daquela platéia paranóica.
Abduzida pela monotonia
Absurda da falta de bebida
E da falta de risada.
Eu, que vos trouxe com toda a minha graça,
A minha inspiração, como pirraça!
Para os poetas vos sacaneares,
Com toda pompa, vossos ares,
Que respirais com tanta dificuldade...
Pois sabeis que como o ar sujo que pondes:
Para dentro e para fora,
Sabeis que precisais dele tanto,
Que não se apavorais!
Em viver em meio falta de luz e da falta de água,
Sendo dentre estes o maior problema:
A falta de cachaça!

sábado, 20 de março de 2010

Falta de Controle

Estava cheio de tudo. Cheio do trabalho, cheio da mulher, cheio do país, cheio da cerveja vagabunda, cheio da rotina e só para constar, cheio da vida!
Há dias sabia que a única coisa que poderia me alegrar seria um porre. Estava a mais de anos sem ter uma amnésia alcoólica, estava realmente precisando esquecer algum fatídico dia qualquer. Mas por causa da rotina, adiei este meu sonho. Na verdade, a minha rotina de adiar coisas acabou me fazendo adiar o lazer e os sonhos de uma vida perdida. Estava procrastinado! Perdendo a vontade de viver, quando eis que me surge um feriado, um feriadão!
Não era apenas um simples feriado, porque nesse feriado em especial eu não trabalharia! Coisa que não acontece há anos. Por que isso acontecerá justo agora comigo? Não sei o porquê, nem quero saber, mas se eu sempre tivesse tido alguns descansos a minha vida não estaria assim, em estado deplorável. Mas já que o temos, devemos aproveitar cada momento, como um jovem prestes a perder a virgindade, tem que ser tudo perfeito.
Decidi então me divertir, coisa que não conheço desde a década de 70, nos meus lindos anos de faculdade. Também só na faculdade que os anos eram realmente lindos, mas eu adorava aquele momento de ser radicalmente, assumidamente contra o governo! Lia tanta coisa que era tida como proibida, agia como não era permitido, eu até segurava o cigarro de maneira promiscua, toda vez que eu acendia um cigarro tinha que correr para não me prenderem por eu ser “subversivo”!
Quantas vodkas, quanto Marx, quantas mulheres! Mas isso durou muito pouco tempo, pois depois que eu entrei numa redação eu nunca mais sai dela! Mais de vinte anos prestados às letras, uma das piores amantes que um homem pode encontrar em vida.
No começo elas até deixavam eu me divertir, conhecer outras mulheres e tal, mas depois de um tempo elas me proibiram até de ir ao bar nos finais de semana, pois diziam que o álcool acabava com a perfeição do nosso romance! Elas falavam que eu as violentava com traçados violentos e expressões agressivas. Eu era um sultão das palavras, com milhões de mulheres, o meu acervo era inacabável, o meu harém, tão invejável quanto os dos verdadeiros sheiks que me dava mais dor de cabeça do que prazer.
Quando o dia chegou, me senti afobado, falei pra mulher não me esperar nem me acompanhar, que eu só voltaria na segunda e que ela até podia me trair com qualquer outro com traços mais fortes que eu pouco me lixava! E como sempre ela chorou, mas não pode me impedir. Não me deixariam entrar no jornal e muito menos em casa antes de segunda. Fiquei tão afobado ao me ver livre que não sabia o que fazer, talvez essa deve ser a mesma sensação de liberdade de um preso, que fora injustamente detido e que perdeu mais de dez anos de sua vida.
E como um ex-detento procurei o primeiro puteiro e entrei. Pra mim não importava o preço, porque o dinheiro eu tinha e vontade também. Estava precisando aliviar esses vinte anos de agreste. O local que achei era até bem razoável, pelo menos as atendentes tinham caras legais, simpáticas e bem agradáveis. Comecei com uma loira, linda, olhos azuis, corpo maravilhoso, bem aquele clichê americano de beleza feminina, ou seja, peitos enormes, pouca bunda e lábios carnudos. Nos primeiros trinta minutos me reacostumando, pegando o ritmo, a cadência, estava há muito tempo enferrujado. Eu parecia um triste garoto de dezoito anos no início: tomando cuidado, falando bobagenzinhas no ouvido dela, sendo delicado, e ela reagia a todos esses carinhos os maiores bocejos possíveis e com os gemidos mais artificiais de todos os tempos. Depois de uma hora eu realmente estava um animal, uma fera, um lobo! Um velho lobo sebento com fome e com todo o vigor do mundo. E foram assim umas três horas, mais ou menos, de pura selvageria. Dei uma parada pra descansar e pra beber um uísque. E nesse tempo vim a conhecer uma morena incrível inteligente, sensual, engraçada, gostosa e cheia de fogo! Com ela eu faria o meu show! Já tivera o ensaio com a loira, mas com a morena, meu Deus! Nem Deus sabe como eu fiz aquilo! Se ela fosse uma guitarra e eu fosse um bluesman, eu teria ganhado no mínimo um Grammy de melhor CD contemporâneo de blues! Meu deus! Como ela gritou, eu a fiz chorar, ela implorou para eu parar e não o fiz. Ela era o tipo de mulher que me faz a cabeça, com um belo par de pernas bem colocado no corpo, pois ela não era apenas um par de pernas, ela era um corpo que se harmonizava com as pernas. Eu me senti um deus quando aqueles olhos, verdes, me olharam de baixo, olhos tênues cheios de esperança e dor, e que eu nunca poderia recompensá-los.
Já me encontrava revigorado, mas ainda queria mais! Paguei minhas dívidas, e sai do bordel. Fui caminhando pelo Centro até chegar a Lapa. Comprei umas cervejas num armazém e fui dar uma rodada, a procura do próximo local. Achei um local com uma fila agradável, pra mim o quanto mais estranho estivesse o ambiente melhor seria para mim. Paguei a entrada e entrei num local bem bizarro, escuro e com luzes estranhas, com músicas estranhas insuportavelmente altas e pessoas mais estranhas que as músicas. Senti-me estranhamente confortável naquele lugar, eu até me sentia normal perto daquelas pessoas. Peguei mais algumas cervejas e comecei a andar pelo local. Me senti um peixe fora d’água, mas mesmo assim continuei andando pelo lugar e vendo as pessoas e bebendo cerveja. Depois que eu já estava meio tonto fui “dançar” na pista, eu realmente chamava atenção, um coroa com duas cervejas na mão e um cigarro na boca, soltando a fumaça pelo nariz, parecia um dragão esbaforido. Apesar das luzes me ofuscarem um pouco eu fui conseguindo me manter em pé, na verdade eu era mantido pelas mulheres que se esfregavam em mim, apesar deu estar bêbado elas eram bem bonitas até, cheias de piercings e tatuagens. Lambiam-me, beijavam-me, excitavam-me com suas línguas molhadas, seus piercings frios e seus corpos quentes. Fomos para um local mais reservado, propício para tal ato, e fizemos amor durante horas, eu e mais quatro mulheres góticas que abusaram de mim como um escravo. Quando acabei com elas, ou elas acabaram comigo, peguei uma garrafa de vodka no bar e pus-me a acabar com ela. E fui dançando louco pela boate sombria, acabei sendo expulso de lá, e fui dançando louco pela noite da Lapa sombria, acabei expulso de lá e parei num samba pesado numa dos botecos da redondeza. Fiquei cantando o samba, totalmente bêbado, todos riam de mim, estava quase caindo em cima no surdo, quando me despejaram no banheiro da birosca.
Estava no chão ao lado do vazo sujo com o meu vômito, e bebendo o resto da minha vodka, eu estava muito mal e feliz. Não sei se a minha felicidade veio com a minha podridão, porém isso pouco me importava no momento, eu vomitava feliz todos aqueles anos sem diversão. Quando deparei-me com a coisa mais aterradora da minha vida, um dragão.
Ele era estranho, realmente assustador, enorme, parecia que o restante dele estava pra fora do banheiro; eu não sei o que ele fazia ali, não acho que ele queria me matar ou muito menos da uma mijada. Fiquei tão intrigado que tomei vodka e perguntei:
— Ei, seu, seu, seu dragão! O que é que você está fazendo aqui-qui-qui-qui!?
— Eu?! Bem realmente não sei o que estou fazendo aqui, mas me parece que eu estou aqui, certo?
— Ce-ce-ce-ce-certo!
— Então eu devo estar aqui por alguma razão, certo?!
— AAAAAAAHAAAMMM!
— E que razão seria essa, meu caro señor?
— FALAR COMIGO!!! AHAHAAHAHA VOCÊ ESTÁ AQUI PRA FA-FA-FALAR COMI-MI-MIGO!!!
— Certo, certo. Agora me diga señor, você gostaria de ir até o México agora?
— LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ VAI TE-TER MULHER!? VA-VAI TE-TER TE-TE-TEQUI-QUILÁ?!!
— Vai sim! Lá terá tudo o que você quiser, é só você subir em mim que eu te levo pra lá...
— OBA!!

**********************************************************************************

Morreu hoje na Lapa o grande jornalista XXX. Aos quarenta e cinco anos, XXX, foi encontrado hoje na Lapa atropelado por um ônibus. O dono bar em que ele estava disse que ele saiu correndo do banheiro, atravessando o estabelecimento, indo pra rua, onde encontrou seu trágico fim com um 434. O dono do bar confirma que ele estava terrivelmente alcoolizado e que quando saiu, correndo de seu estabelecimento, gritava, dizendo que iria para o México. Triste fim para esse grande jornalista que com toda a sua técnica revolucionou as notícias diárias, deixando um legado, um número expressivo de fans e um maior ainda de palavras sem texto.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Claustrofóbico

Aprisionados
Na cela escura do esquecimento
Estamos nós.
Abaixo do nível do mar
Sujeitos a alagamentos:
O que alastra ainda mais,
O mau cheiro e o horror
Daquele cárcere sombrio!
Ai Deus! Se pelo menos houvesse uma luz!
Um quadradinho sequer!
Naquele alojamento retangular!
Apertado, quente e úmido!
Que somente o ar se deixa passar!
São poucos minutos que eu passo lá,
Mas soam como se fossem eternidades a sofrer.
Deus! Como queria eu morrer!
Para não entrar mais lá,
Naquele tênis que me dá falta de ar!

Minha Fuga

Muitas vezes eu saio desse mundo, me recolho no meu próprio universo, de belezas abstratas e de sons melindrados. Não é um mundo melhor do que o real, na verdade ele até é bem pior, a diferença mesmo é que eu prefiro o meu pior a o pior real. Pois o pior real também está empregado à hipocrisia, não digo que o meu pior também não tenha essa banalidade só que pra mim ele soa mais natural, diferente com a do outro mundo que soa muito forçado, às vezes nem era pra ter, mas tem apenas de pirraça.
São aqueles momentos em que eu não agüento mais ouvir aquele noticiário repetitivo, ou ler aquele boletim, com o furo de reportagem, que é sempre igual ao da concorrência. Quando o caos me parece monótono, ou até muitas vezes, bem engendrado, eu me desligo. Não suporto. Como pode me parecer haver uma desordem controlada? Não entendo, busco entender, não gosto do que leio ou do que ouço e simplesmente me desligo.
Fico olhando para a hélice do ventilador, que gira até bem rápido, ou fico olhando para fora da janela, esperando alguma coisa acontecer, ou paro pra ler algo que me faça pensar em outras coisas decorrentes sobre o mundo real. Tento entender o mundo por fora, com a minha trilha sonora. O trompete é o meu melhor amigo: sempre estalando forte aos meus ouvidos, vindo violento e delicado, ou delicado e violento, ou delicadamente violento, porém fugaz, nunca importa a ordem ele sempre será uma saída de escape pra mim. A minha abstração, a minha nave para o meu mundo de ideais e idéias intransponíveis, de coisas perfeitas. O Mundo Inteligível, fluido, líquido, perfeito, onde somente eu o entendo, cada vez mais perto do Sol.
Como sempre, o trompete cansa e para. E eu sou queimado pelo Sol. E eu caio de volta a esse Mundo Sensível, e volto a me machucar com as sombras que me circulam. E eu estudo pra entender o que eu já entendo, porém não lembro apenas abstrações esquecidas pela falta de jazz.
Sofro, tentando viver, engasgado num mundo em que a cada passo dado para frente, dão-se dois para traz. Isso só traz isolamento, perda de amigos, entes queridos, fome e desespero. O Sol me queima, mas mesmo assim eu quero chegar mais perto dele, ousando tanto quanto Ícaro. Só que eu sou mais esperto que ele, estou mais calejado que ele também, por isso larguei há tempos as penas e a cera, hoje em dia só vôo com minhas asas de metal, meus foguetes de trompetes.

Gordos Divinos

Deus deve ser gordo! E eu afirmo isso com todo o conhecimento de causa possível, pois se ele não fosse gordo porque ele faria todo gordo viver cheio de problemas? Tão perto da morte, ou de um problema de coluna ou de joelho ou de coração? Ele faz isso para que nós, gordos, não tenhamos o mesmo prazer de desfrutar de uma enorme, divina e resplandecente pança como a dele.
Deus é um cara chato. Ele não quer deixar os seus filhos felizes com suas barrigas felizes. Não quer deixar que a criatura se pareça com o criador, não quer nos deixar aproveitar desta nossa procedência divina. Por isso acaba com a nossa saúde, e também com as nossas vidas, sempre nos dificultando para tudo.
E é sempre assim, sempre que um gordo se da bem na vida ele logo que pode faz uma cirurgia, para reduzir o estômago ou para tirar a pança, pois a coluna há muito já reclama.
As pessoas acham gordos engraçados e na maior parte das vezes eles são, porque eles têm que ser engraçados. Eles acham na comédia um subterfujo para as suas vidas miseráveis, de fato o gordo é feliz porque tem que ser feliz e não porque é feliz. Você acha que é legal ter um pé ferrado, ou ter que operar um joelho, ou ter um problema na coluna apenas porque gosta de comer? Acha que é legal olhar pra baixo e não enxergar o dedão do pé? Você acha que é legal ter sido criado com problemas familiares ou ter problemas de relacionamento? Acha que é legal ser sacaneado a vida inteira só por ser gordo? Achas tu legal ter que escolher uma cadeira forte para não quebrá-la ou para não ficar preso a ela? Você acha legal sofrer esse escárnio, esse motejo, esse dichote, essa putaria!?
Por isso somos irônicos, sarcásticos e sempre criticamos a Tu, Criador malvado que esqueceu seus filhos mais perfeitos! Porque Tu não nos gracejas com a normalidade, ou pelo menos a verdade e comprova que de fato somos o elo real que comprova a ligação divida da criatura com o criador!

Não!

Não confie mais em mim.
Eu mesmo já desconfio da minha sombra,
Quiçá das minhas palavras.
E se eu te disser que o meu amor por ti
Acabou-se,
Não acredite,
Não medite,
Não aceite!
Apenas veja as minhas ações
De um gordo bêbado apaixonado,
Melhor dizendo, obcecado por ti.
Pelos teus sutis trejeitos alegres
Ou pelos teus revoltosos atos de nervosismo.
Eu te amo e nunca deixarei de te amar!
Por isso eu posso falar muito,
Posso até impressionar nos meus discursos,
Mas são apenas palavras bonitas que não se encaixam,
É tudo da boca pra fora, é tudo sem emoção,
Por isso confie apenas na minha ação:
De tentar tocar mais uma vez o seu coração!

Cão, Árvore, Cachorro E Poste

Cão, árvore, cachorro e poste.
Cão, árvore, cachorro e poste.
Não adianta!
Eles sempre serão usados
E permanecerão mijados sem reclamar!
Como escravas sexuais...
Ademais, essa é apenas
Mais uma de suas funções,
De suas utilidades propriamente não ditas.
Cão, árvore, cachorro e poste.
No final eles são apenas objetos,
De uma realidade que não existe.
E não adianta pensar sobre isso,
Pois você se tornará tão louco quanto eu!
E no final eles sempre serão,
Os imutáveis,
Os imensuráveis,
Os famigerados:
Cães, árvores, cachorros e postes!

O Nosso Caso

O nosso amor é um pretérito imperfeito:
Um passado não realizado que um dia
Há de se realizar.
Espero que não demore muito,
Pois estou preso neste gerúndio
Que não quero mais estar!
Apenas dê-me um beijo
Para o sofrimento acabar.
Apenas um leve gracejo
Pra eu voltar a te amar!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O Filósofo E O Vento Ou Eu E Você?

Malditos ventos terríveis, que tiram o meu sossego! Abalam a minha quietude! Atiram-me no tormento! Tento escrever, mas as folhas voam. Tento pensar, mas as idéias planam, para fora da minha cabeça! E não consigo apanhá-las! — Pensava o filósofo em sua mente abstrata que fora atingida pela abstração temporal.
— Grito teu nome Bóreas! Vento forte desgraçado pare com essa balbúrdia, pois tu já estas me deixando estressado! Se não parares com essa loucura, terei de invocar o nome do teu pai! Para ele próprio castigá-lo! Pare agora já filho de Uranos! E servo de Éolo! Deixe-me continuar com minhas divagações! Deixe-me acobertar com pretensões! Toda a bazófia que a jocosa loucura me toma! Arre! Deixe-me cá eu hiperbolicamente elucubrando, no meu mundo taciturno embatucado! Temerários ventos trácios! Que me fatigam e...
Ele continuou com suas palavras requintadas tiradas de livros antigos e bolorentos. O Vento começou a achar que ele era maluco. Ver e ouvir um homem evocando o nome dele e dando o mó esporro, não era muito típico. Ele até chegou a pensar em falar com o mortal, mas viu que não ia dar muito certo e resolveu parar de atuar e aturar aquele doido. Até porque se o fizesse aquele não ia mais sair do seu pé, ora pedindo mais vento e ora pedindo para parar, tirando que ele também iria se gabar por ter o poder de controlar a natureza, coisa que o deixaria ainda mais chato que já era e mais louco!
E foi desta maneira épica, linda e bela, que aquele filósofo, fazendo aquele alvoroço, conseguiu fazer o vento parar de atazaná-lo! Este fora assim, tão chato e inconveniente que conseguiu mexer na natureza com apenas vocábulos. Feito nunca antes feito.
No final das contas, o Vento teve piedade daquele pobre sujeito louco, que este louco, ao julgar pelas suas ações, agiria de forma contrária a do Vento. Aliás, quem foi mais louco o filósofo ou o Vento? O filósofo, que com seu diálogo sem o menor sentido, porém recheado de palavras bonitas; o Vento, que mostrou toda a sua complacência com a humanidade, coisa que não se vê naturalmente; você, caro leitor, que não entende porque está lendo isso e que possivelmente há de se questionar por ter perdido tempo lendo e provavelmente não adquirindo nada deste texto irrisoriamente louco; ou eu, que tive a falta de sanidade ou o excesso de substâncias ilícitas o suficiente para compor este texto altamente burlesco e com o maior sentido?

Por Um Papai Noel Melhor

Como sempre deixamo-nos levar pela “cultura de fora” (tida como melhor) e como de praxe, o Natal não seria diferente. Acho eu que teríamos que romper com essa cultura imperialista norte americana. Deveríamos começar com o maior expoente dessa doutrina, o Papai Noel.
Esse pobre coitado que lhe arrancaram as roupas verdes e lhe puseram a roupa vermelha deve estar até hoje traumatizado, pela tamanha violência que foi empregada nele. E a culpa é de quem? Da nossa linda e bela Coca, que fez um sensacional golpe publicitário, resgatando um cartoon do Thomas Nast o qual já empregara a sua concepção de Noel (um gordinho todo de vermelho e benevolente); acabando de vez com a idéia de roupas verdes e aumentando a sua lucratividade nos meses de inverno e no mundo.
A questão é ele foi baseado em São Nicolau, pois se diz que ele ajudava anonimamente pessoas com problemas financeiros, além de ressuscitar criançinhas, em suma, ele era o cara. Hoje vemos que o bom velhinho não é apenas um bom velhinho por querer, mas sim porque pessoas poderosas querem que ele seja. Isso não podemos combater, mas podemos tirar pelo menos aquela roupa de inverno dele aqui no Brasil.
Se em alguns países da Europa fazem isso, mantêm os costumes tradicionais, porque nós não podemos fazer? Então que sigamos a Europa! Aliás, o que em boa parte da nossa história nós fizemos de trajes finos e quentes até a “Paris dos Trópicos”. Uma observação: as pessoas não deviam suar no Brasil na época do Império e até metade da República Velha, deve ser meio que lamarquista isso, as pessoas pela necessidade pararam de suar em prol da utilização daqueles trajes ultrajantes nos trópicos.
Devíamos ter pena do Noel, o cara entrando nas casas brasileiras com roupas de inverno deve ser um incomodo tremendo, talvez seja por isso que ninguém nunca o viu entregando presentes no Brasil. Vamos por um bermudão nele, uma camisa social vermelha até tirar, reduzir o tamanho da barba e trocar o gorro por um chapéu panamá. Devemos construir a nossa tradição Natalina (já que eu não posso vencê-los me juntarei a eles, mas do meu jeito). Se o Noel banaliza a mente das crianças, ou se é a primeira porrada que a criança leva para aprender a não confiar no outros, ou se deturpa o espírito Natalino, realmente pouco me importa. Porque essa loucura não deveria existir, mas se existe, bem, que tenhamos uma loucura pelo menos mais razoável.
A outra coisa que se deve mudar no Natal é a comida. Deveria ser mais brasileira! Mais tropical. Pois bacalhau, pernil, lombinho, peru, tender, entre outras são comidas muito pesadas para o verão Natalino. Só sei que deveríamos procurar comidas mais leves e mais típicas, sem essa padronização e essa babaquice de querer imitar a ceia de inverno dos países do hemisfério norte. As pessoas têm o ano inteiro para comer nozes, mas não, em pleno verão os insanos querem comer essas malditas nozes!
No final das contas, teríamos que matar esse Natal comê-lo, absorver as melhores coisas, para enfim fazer o nosso Natal tipicamente brasileiro, ou seja, antropofágico.

Ode Às Musas

Gasto todo o meu lirismo em mulheres
Que nunca eu vou sentir o gosto.
Para uns parece suicídio ou viver em desgosto.
Mas o que eu posso fazer?
Esse é o meu caminho, minha escolha.
Sei que eu como um pierrot apaixonado,
Não me abalo em não ter o meu trabalho
Recompensado!
Nessas horas sou meio parnasiano!
Arte pela arte,
Pois o que importa mesmo é a arte!
Não posso trair a minha arte!
Seja o poema, o conto ou a crônica,
Ou rock, o jazz ou o samba,
Ou cinema, a cerveja ou o coco!
Arte é o que importa para mim!
Minha musa é a minha vida
E a vida das minhas musas
Se elas me amarem um dia
Ficarei eu muito feliz
O que importa é que eu as amo!

Ferida

Está aberta!
A ferida.
E o sangue,
Sai pulsante!
Vejo-o pingar no chão!
Fazendo uma piscina fascinante.
Todos olham bem chocados,
Para o meu braço,
Todo avermelhado!
Perguntando-me o que aconteceu.
Eu respondo sorrindo que foi um cão,
Que Me mordeu.
Eles não acreditam.
Querem a verdade!
Mas eles não podem
Entender por falta de sanidade.
Me perguntam e perguntam.
Não querem se calar!
Então eu digo que um político me alvejou!
Com uma lei contra vagabundos que ele lançou!
E no final para minha surpresa.
O povo veio a me falar
Com toda a calma e compreensão
Deixe de bobagem companheiro
E trate de acordar.

Relacionamento Chato

Eu estava deitado naquela cama redonda e avermelhada. Olhava para mim, para as minhas tatuagens, para a minha ereção através da lente negra dos meus olhos. Na verdade eu olhava para a imagem, que devia ser minha, que refletia no espelho do teto. Olhava também para aquela bunda que eu acabara de me deleitar. Ela acordava. Virava o corpo, se arrastava por entre os lençóis até a minha direção. E disse mordendo a minha orelha:
— Nossa! Você é realmente demais! — Realmente não sabia se eu era tão bom assim, sempre achei que fosse. E essa foi só a primeira noite.
O problema é que eu dei corda, não para ela, mas para mim. Quer dizer, dei até a corda para ela enrolar o meu pescoço; dei até o teto para ela por a corda e também dei um banco para ela me por em cima. Era tudo uma questão de tempo para ela chutar o banco, ou para eu mesmo pular dele e sair daquela vida inescrupulosa e nefasta.
Foram mais de seis meses, de pura ladainha, ela me tornou um maldito pusilânime, sem vontade de nada, ela me fez perder a pouca que eu tinha. Ela me domou de um certo jeito que eu quase tirei os óculos. Eu realmente estava cego, nela não havia defeitos, mas em mim havia todos e no mundo também.
Eu realmente não sei como eu deixei isso acontecer. Só sei que aconteceu! Era uma rotina ordinária, meu bem pra lá, docinho pra cá, dentre outros frufruzinhos. Eu me sentia uma obra de arte barroca: cheio de hipérboles — meu bem você está tão lindo hoje —, cheio de catacreses — meu bem —, cheio de paradoxos — meu bem —, dentre cultismos — meu bem, hoje você está tão bem, meu bem. Não agüentava mais aquele tête-à-tête banal. Estava realmente me sentido oprimido.
O pior é que ela começou a se interferir no meu trabalho, pois eu não conseguia mais fazer aquelas belas e justas críticas. Naqueles meses tudo fora ótimo, mas hoje em dia eu vejo que apenas, talvez, menos de um por cento de todas as críticas realmente mereceram a nota máxima.
Foi incrível a transformação da coisa. No começo era até um relacionamento legal, toda noite rolava um sexo bem selvagem. Porém depois de quase dois meses na selva ela começou a se revelar uma besta completa. Tudo era água com açúcar. Filme água com açúcar, cerveja água com açúcar, novela água com açúcar, livro água com açúcar, música água com açúcar, jornal água com açúcar o inferno água com açúcar! E o pior de tudo ela só amava os Estados Unidos da América, ela idolatrava aquele país, coisa que me deixava totalmente enjoado. Eu me sentia no meio de uma ilha açucarada perdida no meio do oceano a espera do meu leviatã vermelho de azul me engolir com a sua boca rosada e maravilhosa.
E o sexo foi minguando e o amor, que nunca existiu, minto! Existia no sexo quando ele a proclamava que a amava, mas como um foi minguando o outro morreu na conseqüência da falta de existência do outro. E eu como um tolo, entrei de cabeça na onda. E me afoguei. Virei o cachorro dela, perdi a minha virilidade de bulldog transformando-me num poodle chato.
Depois de tanto agüentar decidi insurgir. Planejei a minha revolta. Friamente calculada. Eu inconfidente comigo mesmo, e com meus botões, já tinha tudo planejado, não tinha como dar errado, era só esperar a Derrama.
Que num belo dia chegou.
— Meu bem, meu bem!
— Diga...
— Já comprei tudo!
— É mesmo?
— É comprei as passagens para Disney! Também vamos passar um mês em Miami! Eu também comprei o novo DVD do mercado e o novo fogão também...
— Baby, dinheiro não dá em árvore, sabia?
— Ah! Meu cachorrinho não se preocupe! Eu não esqueci da sua coleirinha não! — Então ela tirou uma coleira rosa de umas das suas vinte sacolas, só falta combinar com a lingerie — Olha! Olha! Ela combina com a...
— Chega...
— Barbie, Veja, novela das oito, Crepúsculo, rosa choque, pipipi pápápá... — Ela não havia me ouvido.
— Baby, sabe o que tu és?
— O seu amorzinho que te ama muito, muito, muito! Que quem você ama muito, muito, muito!
— Não, você é uma terrorista fundamentalista do amor!
— Isso quer dizer que você não me ama? — Fiquei calado — Você não me ama! Como você não pode me amar!? Eu te dei tudo de mim! Eu te aturei tanto! Te amei tanto! E agora você diz que não me ama! — E ela gritava e chorava e batia o pé. Eu estava adorando aquilo. De repente um sorriso sarcástico estava começando a surgir no meu rosto. Animei-me. Acendi um cigarro e disse:
— Então baby, como foi que você conseguiu planejar o ataque as Torres Gêmeas? Eu achei aquilo genial! — Nunca tinha visto aquela cara dela. Era ódio. Larguei a cabeça para trás, olhei pro teto, dei um tragada e larguei uma bela fumaça no ar. Quando voltei à cabeça para frente ela estava parada na minha frente com todas as suas quarenta malas na porta. Quando voltei a olhá-la só vi um tapa vindo na minha cara. Ela começou a chorar e eu rindo. Ela não parava de chorar e bufar e tremer, de repente ela gritou um singelo “idiota” tão rasgado que perfurou o meu peito e tão choroso que merecia um Oscar. Era aquele grito gutural que as mulheres soltam em momentos desesperadores, você sentia que vinha do fundo de suas vísceras e que enquanto o som ia saindo o seu coração ia se despedaçando. Ela se virou, ainda chorando e tremendo, e foi-se embora para nunca mais, junto com todo o seu carregamento.
Assim que ela fechou a porta eu dei um tempo, pus um Coltrane no máximo e fui tomar banho. Aproveitei aquele banho maravilhoso, fiquei bem uma hora debaixo d’água. Depois fui até a cozinha, ainda molhado, peguei a vodka e me deitei no chão da sala, molhando todo o tapete. Foi belo, foi lindo: eu molhado, com uma garrafa, um maço, jazz, um grande sorriso e sem a chata!

Sorriso Sem Nome

Saía eu de uma boa aula de história. Estava andando até a Saens Peña para pegar o ônibus para ir para minha casa. Andava pelas infernais ruas tijucanas, infestadas de pessoas com caras inexpressíveis. Andava pelas veias que levavam o veneno pulsante para o resto do corpo da cidade infectada.
Andava distraído, ainda estava abatido pela aula. Viro uma esquina e entro numa rua. Olho para as pessoas da rua, todo normais menos uma moça. Tal moça que a me ver desenvolveu um sorriso muito sorridente. Fiquei muito assustado, não me lembrava de seu nome, mas seu rosto me parecia familiar. Ela era baixinha, usava uma camisa decotada preta, mostrando seu busto avantajado, um shortinho. Ela era bem bonita, tinha pernas grossas, cabelos grandes negros; era morena e tinha um sorriso lindo. Empunha um bebê em seus braços.
Ela não parava de sorrir com seus lindos dentes e seus beiços rosados. Eu fiquei tão atônito, que emiti sem querer uma cara de espanto que tentei conte-la, mas isso não acontecia.
Quando ela passou por mim olhou bem na minha cara com seus grandes e penetrantes olhos e ainda com aquele sorriso em sua boca disse um “olá” e um “tudo bem com você?”. Eu com uma cara pior ainda apenas disse um pequeno “tudo” e pus me a ir pela rua adentro pensando.
Pensando da onde eu a conhecia? Se eu a conhecia? Como ela me conhecia? Fiquei pensando se eu tinha comido alguém nos últimos quinze ou dezoito meses. Não conseguia lembrar. Não sabia de nada. Só conseguia pensar no trauma da aula de história.
Que o Sarney pode ser o Presidente. É só o Lula sofrer um acidente, o vice, José Alencar, que não anda com boa saúde não poderia assumir, então, o presidente do Senado assumiria, ou seja, o nosso digníssimo José Ribamar Ferreira de Araújo Costa!
Bem espero que um dia eu consiga lembrar o nome dessa linda moça cujas pernas eu bem gostei e que o Lula não morra até o final de seu mandato!