sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um Perdido Amor Sincopado, Encorpado E Encontrado

Eu não estou me sentindo bem.
Eu não vou nem um pouco bem hoje.
Primeiro, o nosso amor que acabou;
Depois, esse calor que não bastou;
Também tem essa ressaca que hoje me contemplou!
Acabar assim não é pra mim.
Eu fico perdido e distante,
A procura de uma bacante,
Ou de uma saia dançante,
Com todo o seu lirismo empregado ao balanço,
Assim tão delirante.
Não me resta mais outra opção!
Além de por o chapéu e me mandar pro bordel!
Mandando aquele scat no meio do salão.
TCHUM DAREM PDEREM PÉ RI DOM DOM
TCHUM DAREM DÉ DEREM PÉ DÉ DÉ
DÁ DÁ DIM DOM BOM DOM DON
(O amor cansa)
BARA DIM DEM DA DUM DOM
(E acaba perdendo-se no fade out do sax)
TCHE DAREM TCHE DAREM PÁ DA BARA PABARABÁ
(No final as pessoas aplaudem)
TCHUM DAREM DÉ DEREM PÉ DÉ DÉ
TCHUM DAREM PDEREM PÉ RI DOM DOM
Um bom amor perdido é como um belo show,
Pois quando ele acaba você sente saudades,
Daqueles momentos bonitos.
Mas hoje eu apenas procuro uma mulher perdida.
Para satisfazer a minha fome,
Para que ela ria da minha fala.
Espero que ela ainda esteja lá em casa!
Perdida entre os lençóis da minha cama...
Ou entre as águas da banheira...
Espero que ela esteja apenas lá:
Perdida.
Para eu encontrá-la...

Annus Invictus

— Acorda! — Falei pra mim mesmo, após um estrépito momento de despertar. Devia ter tido um pesadelo. De todo jeito não deu muito certo. Tentei conversar comigo mesmo, mas não deu em nada. Apenas tragava aquele ar poluído e devolvia-o ainda mais abatido a cada baforada.
Lutei contra o sono e o cansaço, mas os deixei ganhar-me.
Não sei por quanto tempo mais eu padeci naquele leito aconchegante e frio. Mas sei que depois de muito tempo fui acordado por uma voz feminina. A voz dizia que era para eu levantar para comer. Pelo menos eram duas boas notícias pra quem estavam acordando: que eu estava na casa de uma mulher e que eu era para eu me vestir para comer.
Levantei-me com dificuldade, fui até o banheiro, tomei um banho, enxuguei-me, pus uma roupa e fui comer. Guiei-me pelo som dos talheres, tilintando nervosamente, pareciam talheres esfomeados de pessoas afobadas, também senti os cheiros das comidas, parecia ter bacalhau, batatas, e coisas do gênero que leva muito azeite. Aquelas típicas comidas natalinas... Não!
— Não pode ser! — Eu pensei. Como já poderia ser o Natal? O ano passara assim tão rápido? Maldição!
Cheguei à sala de jantar, aquela mesa enorme cheia de comida e cheia de gente. A primeira vista pude concluir duas coisas: primeiramente eu não conhecia nem metade daquelas pessoas que estavam ali e a outra coisa era que como sempre tinha mais comida do que pessoas. Isso é até bom, mas o desperdício é uma coisa lamentável. Essa é uma das coisas que eu mais abomino do Natal.
Sentei junto à horda e me acabei! Realmente aquilo tava mais para uma festa romana. No começo, quando eu cheguei, as pessoas estavam esperando outras pessoas chegar, estavam falando as trivialidades básicas, aquela salva de “nossa como você cresceu!” ou “você não esta mais com ela?” ou “porque você não me contou que isso tava acontecendo... é claro que eu te ajudava.”, resumindo: babaquices. Quando todos estavam presentes as pessoas começaram a comer. Foram perfeitos cavaleiros e damas da corte inglesa usaram todos os talheres possíveis para fazerem as coisas mais irrisórias como por a comida na boca. Mas não sei direito quando as coisas começaram a desandar, talvez quando todos perceberam que ia sobrar comida, foi naquele momento que o circo pegou fogo e que eu ri. Do nada as pessoas começaram a pegar a comida com a mão, e não só por na boca, mas a esfregar na cara também, passavam azeite nos cabelos, enfiavam as batatas nas orelhas e coisas piores.
Eu estava na minha, no meio daquele tumulto que se iniciava. Que crescia como uma doença. Era uma verdadeira balburdia, as pessoas pareciam porcos, mas elas ainda estavam sentadas. Pois quando elas se levantaram e deixaram de sentar a mesa para sentar na mesa que foi lindo! Um cara gordão lá pela casa dos cinqüenta começou a gritar e reivindicar o porco, que o porco era de ele e tal. Foi uma coisa assim no mínimo dantesca, sabes? Vi uma sociedade aristocrática ir da socialização a tomada de terras, de propriedade privada.
Privada, porque não tinha uma lá? As pessoas não concordaram com o velhaco e começaram a brigar pelo porco, de fato era um belo porco e que valia uma boa briga, mas cadê todo aquele sentimento “Natal, Natal, Natal sinta essa magia no ar!”? À medida que os socos foram trocados as roupas iam rasgando e eu permanecia no meu lugar distante com o meu bacalhauzinho, o meu cigarrinho, o meu vinhozinho e os meus óclinhos.
Lá pelas tantas, quando o gordo estava quase morrendo, parece que ele teve uma ereção e uma mulher começou a transar com ele (aliás, porque ela não transou comigo?), todos pararam de se bater e fizeram o mesmo. Uns até que gostavam de apanhar fizeram dos dois. Eram mais ou menos uns sessenta corpos juntos se mexendo de um lado pro outro e para todos os lados uns encima da comprida mesa, que devia chegar até o final daquela sala, que mais parecia um corredor; outros pelo chão e acho que tinha até um povo dependurado no lindo lustre no centro da sala.
Sêmen, sexo e sangue. Acho que eu devia estar... com certeza devia estar na festa errada! Aquilo estava mais para uma orgia swinger louca com fortes tendências sádicas. Era incrível ver aquela massa de pessoas se embrenhando, se entrelaçando, se engalfinhando. Eles chegaram a fazer uma pilha, quase que alcançaram o teto, aquilo foi interessante, o problema foi quando eles caíram em cima das louças, ai sim, todos sangraram. O cheiro estava horrível suor, sangue, sêmen, vômitos, comida amassada, fezes! O som era o mais legal, um misto de palavras soltas sem sentidos que faziam uma poesia, era como ver a inteligência coletiva ali na minha frente fazendo um poema dada.
Eu só sei que eu fiquei muito tempo os observando, e no final não deu em nada. Apenas um belo passeio antropológico vendo que como a humanidade não tem jeito. Resolvi sair daquela sala, dei um adeus aos animais eles não me retribuíram nada, ainda bem. Achei uma porta, sai por ela e vi fogos no céu, estava em Copacabana. Meti a mão no bolso achei meu celular. Vinte mil ligações não atendidas. Dia primeiro de dois mil e dez. Droga! Passei numa birosca bebi uma cerveja, tomei um táxi fui pra casa. E dormi. E assim mais um ano se acaba rapidamente e mais um ano começa estranhamente, moral da história: viva o Sol Invictus!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Digníssimos Senhores

A cara do Brasil,
É a bunda de Brasília!
A Babilônia do país!
Onde homens erram e são agraciados.
É a cidade sem pecado.
Onde tem um pinico a cada esquina.
Mas lá não há esquina você pode dizer,
Mas mesmo não existindo eles deturparam
O seu significado e agora existem esquinas.
Onde existem pinicos públicos para senadores e deputados,
Também existem ventiladores caso eles queira ser mais carnavalescos!
Quem sabe?
Eles podem escolher tudo e de tudo!
Mandam em tudo, quer dizer desmandam em tudo.
O certo deles é o nosso errado!
Não há parâmetros nem paralelepípedos.
Pois palavras difíceis são difíceis,
E para eles é tudo fácil, mas não para nós.
Que pagamos pelos seus pequenos caprichos,
Se eles ao menos fizessem algo eu não os culpava.
Desculpem-me falei calunias, que audácia a minha, é claro que eles trabalham!
De fato não posso os culpar, pois eles trabalham muito bem!
Enganando-nos e botando em nossas bundas!
É verdade não podemos os culpar, eles fazem o trabalho sujo e que ninguém quer fazer:
—O triste trabalho de roubar dinheiro de um país

Cãe

Começa o sofrimento.
A agulha enterra,
Na terra do corpo,
Que agoniza e sangra
E grita calões,
Que não calam a agulha certeira,
Que golpeia a carne
Lateja!
Faíscas saem.
Dum corpo grunhindo,
De uma dor diferente,
Uma dor agradável.
O som do motor indesligável,
Produzindo uma obra de arte indiscutível.
O corpo quer chorar, mas não chora.
O corpo quer gritar então grite!
A alegria pela sua dor.
De uma alma em transe,
No som fustigante,
De repente vem o silêncio num rompante!
Uma voz agradável o tira do transe.
Um acabei foi o que ele disse.
Um amei foi o que o outro disse sorrindo!
E lá se foi emocionado.
Um homem com o coração reconstruído.
Levando em pele o nome de uma amor para sempre tido,
Um belo monossílabo:
Cãe!

La Vie En Noir

Eu adoro narrações noir.
Vida noir.
Tendo aquela esperança de não estar
Lá.
O mundo podendo desabar,
Mas o cigarro estará sempre
Lá.
Para enfumaçar o ambiente,
Para manter a calma no batente.
E você olha pela janela,
Vê um mundo que não está
Lá.
Nem como cá.
Meu mundo apenas desaba,
Quando a bebida termina.
O espelho apenas se quebra,
Quando alguém o atira,
Noir.
NO,
AR!
Mas,
NÃO,
VÁ!
Pois eu ESTAREI
LÁ!
NO,
AR!
Há te esperar a te abraçar
Noir e para depois viver,
Pelo ar:
Poluído, negro, ordinário,
Cinzento, escuro, reacionário!
Pronto para me impedir
De viver.
Pronto para me ver morrer.
Mas eu não
Estou a fim de o fazer.
Ficarei apenas esperando.
O momento certo.
O dia certo.
Pra eu erguer as minhas mãos contra você:
— Vida maldita,
Vida noir!
Vida,
NO,
AR!
Vida,
NÃO,
VÁ!

Pesadelo De Calor

Sonhei um poema,
Veja meu problema:
Beijei uma ema
No meio do cinema.
E ninguém reclamou!
Ninguém resmungou!
Do meu amor animal,
Que parecia normal.
Mas não para mim,
Eu meio tigre beijando um herbívoro assim.
Mas não desisti,
Somente prossegui,
Levei-a pra comer,
Pensei em comê-la,
Mas bem no final,
Deste encontro casual,
Lá veio o fiscal
Dizendo assim:
“Agora o predador não quer caçar,
Agora o predador quer se casar!”
Aí dei-me um grito assustado.
Acordei em um lago
De meu próprio suor.
Olhei pro relógio, quatro da manhã,
Quarenta graus no Rio, que horror!
Apenas mais um pesadelo de calor!

Bala

Duas balas são compradas no mesmo instante.
Por duas crianças de realidades distantes.
As duas servem para a diversão,
Mas não com a mesma denotação,
Uma simples palavra com ampla conotação.
Que só depende de seu estado e de sua ação.
Tudo depende dos verbos e dos versos.
De quem alveja ou de quem a almeja.
Que de resto não seja e que eu não veja,
Um pior futuro que o nosso presente
Por favor! Mente, invente, tente!
Mudar este nosso lar, pois não quero pensar
Em comer uma bala na sala de estar

Nenêm

Restam mais de doze horas para o combate. Estou aqui no frio e no conforto do meu alojamento esperando para a batalha. Sei que o desembarque às doze horas de amanhã será terrível. Muitos podem não chegar até os portões do inferno. As tropas devem chegar a tempo, mas acho que talvez a ressaca complique um pouco a trajetória dos carros anfíbios. Amanhã é o dia D. Depois de tantos rumores e distúrbios, de espionagens e contra espionagem o momento chegou, e ninguém poderá apartar esta guerra, contra as forças do Inep.
Várias ondas estudantis desembarcaram, lutaram para a sua sobrevivência, dormiram em estado de vigília, alertas e assustadas com os horrores da guerra e voltaram a lutar pela sua liberdade e pelo seu ingresso a faculdade até as seis horas do domingo. Será uma luta revolucionária, “totalmente” guerrilheira, porém sem ideologia concreta e com pouca organização; contra as forças ditatoriais das questões malditas, manipuladas pelo sultão Haddad, o Filósofo, que em seu reino da Educação engendrou um imperialismo intranacional. Formulando uma prova “anti-decoreba”, uma forma de alto promoção para talvez uma elevação de poder, quem sabe vir a se tornar um Xá. Uma forma de tentar revolucionar com o ensino brasileiro, tentado unificá-lo sem acabar com as disparidades criadas através de anos de falta de planejamento.
Sei que cometi uma infração gritante acima, porém o meu objetivo é fazer o improvável. Nunca um turco virará persa. E muito menos o contrário. Esse tal “Novo Enem” é uma digna falcatrua tupiniquim, alegando que tudo irá mudar, porém nada muda. Tá minto, mudou sim a prova: o maior número de questões, o menor tempo para fazê-las, a transdisciplinaridade da prova, a maior interpretação, maior número de textos insignificantes, maior cunho social (tentando pagar as dívidas que nunca foram quitadas antes).
Porém a prova não ficou mais ridícula até por causa da relação de pouco tempo pra muita questão, ademais, a prova nunca fora tão idiota assim, tanto é que não é todo mundo que tem bolsa de cem por cento nas melhores universidades particulares do país.
O falar que uma coisa é nova é instigar a curiosidade das pessoas, fazendo-as roubar a prova e entregá-la para um jornal; também falar que o novo é obrigatório é totalmente antidemocrático! Sendo assim, prefiro o antigo. Não sou contra mudanças, mas não gosto de mudanças que não mudem nada. As pessoas querem mudar a educação por cima, queria entender este ato pedagógico, talvez isso deva ser de uma nova escola de pedagogia, criando uma mudança demagógica. Nunca vi isso, construir um arranha-céu em cima de uma laje de barraco. Mas fazer o que, mudar a educação assim pode dar voto se der certo, se colar. A política certa não da voto, demora muito, não é imediatista como o nosso mundo moderno.
É horrível sentir que eu estou indo para um campo de extermínio. Ou para um Vietnã. Amanhã será o: ou dá ou desce. Mas se todos descermos, não iremos para o inferno mal acompanhados, levaremos conosco todos os demônios santos ou santos demônios da nossa louvável nação. E lá faremos a nossa justiça pelas nossas próprias mãos.

Tirano Liberal

Tirano liberal
Te amo no carnaval
Um maldito regional
Que tramou no canavial
Apenas outro bacanal
Um tango lateral
Leitura labial
Soutien no varal
Um arraiál a esmo
Para sair do mesmo
E pra cantar bebendo
E pra dançar chovendo
Correndo pego
Te pego e não solto
Pois pra mim amor não é como voto
Pois se escolheu é pra ir até o fim
Pra um lugar sem fim
Onde não se precise de rins
E que haja a fugacidade irreal
Pois lá, baby, eu me tornarei
O Tirano liberal!