terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O Filósofo E O Vento Ou Eu E Você?

Malditos ventos terríveis, que tiram o meu sossego! Abalam a minha quietude! Atiram-me no tormento! Tento escrever, mas as folhas voam. Tento pensar, mas as idéias planam, para fora da minha cabeça! E não consigo apanhá-las! — Pensava o filósofo em sua mente abstrata que fora atingida pela abstração temporal.
— Grito teu nome Bóreas! Vento forte desgraçado pare com essa balbúrdia, pois tu já estas me deixando estressado! Se não parares com essa loucura, terei de invocar o nome do teu pai! Para ele próprio castigá-lo! Pare agora já filho de Uranos! E servo de Éolo! Deixe-me continuar com minhas divagações! Deixe-me acobertar com pretensões! Toda a bazófia que a jocosa loucura me toma! Arre! Deixe-me cá eu hiperbolicamente elucubrando, no meu mundo taciturno embatucado! Temerários ventos trácios! Que me fatigam e...
Ele continuou com suas palavras requintadas tiradas de livros antigos e bolorentos. O Vento começou a achar que ele era maluco. Ver e ouvir um homem evocando o nome dele e dando o mó esporro, não era muito típico. Ele até chegou a pensar em falar com o mortal, mas viu que não ia dar muito certo e resolveu parar de atuar e aturar aquele doido. Até porque se o fizesse aquele não ia mais sair do seu pé, ora pedindo mais vento e ora pedindo para parar, tirando que ele também iria se gabar por ter o poder de controlar a natureza, coisa que o deixaria ainda mais chato que já era e mais louco!
E foi desta maneira épica, linda e bela, que aquele filósofo, fazendo aquele alvoroço, conseguiu fazer o vento parar de atazaná-lo! Este fora assim, tão chato e inconveniente que conseguiu mexer na natureza com apenas vocábulos. Feito nunca antes feito.
No final das contas, o Vento teve piedade daquele pobre sujeito louco, que este louco, ao julgar pelas suas ações, agiria de forma contrária a do Vento. Aliás, quem foi mais louco o filósofo ou o Vento? O filósofo, que com seu diálogo sem o menor sentido, porém recheado de palavras bonitas; o Vento, que mostrou toda a sua complacência com a humanidade, coisa que não se vê naturalmente; você, caro leitor, que não entende porque está lendo isso e que possivelmente há de se questionar por ter perdido tempo lendo e provavelmente não adquirindo nada deste texto irrisoriamente louco; ou eu, que tive a falta de sanidade ou o excesso de substâncias ilícitas o suficiente para compor este texto altamente burlesco e com o maior sentido?

Por Um Papai Noel Melhor

Como sempre deixamo-nos levar pela “cultura de fora” (tida como melhor) e como de praxe, o Natal não seria diferente. Acho eu que teríamos que romper com essa cultura imperialista norte americana. Deveríamos começar com o maior expoente dessa doutrina, o Papai Noel.
Esse pobre coitado que lhe arrancaram as roupas verdes e lhe puseram a roupa vermelha deve estar até hoje traumatizado, pela tamanha violência que foi empregada nele. E a culpa é de quem? Da nossa linda e bela Coca, que fez um sensacional golpe publicitário, resgatando um cartoon do Thomas Nast o qual já empregara a sua concepção de Noel (um gordinho todo de vermelho e benevolente); acabando de vez com a idéia de roupas verdes e aumentando a sua lucratividade nos meses de inverno e no mundo.
A questão é ele foi baseado em São Nicolau, pois se diz que ele ajudava anonimamente pessoas com problemas financeiros, além de ressuscitar criançinhas, em suma, ele era o cara. Hoje vemos que o bom velhinho não é apenas um bom velhinho por querer, mas sim porque pessoas poderosas querem que ele seja. Isso não podemos combater, mas podemos tirar pelo menos aquela roupa de inverno dele aqui no Brasil.
Se em alguns países da Europa fazem isso, mantêm os costumes tradicionais, porque nós não podemos fazer? Então que sigamos a Europa! Aliás, o que em boa parte da nossa história nós fizemos de trajes finos e quentes até a “Paris dos Trópicos”. Uma observação: as pessoas não deviam suar no Brasil na época do Império e até metade da República Velha, deve ser meio que lamarquista isso, as pessoas pela necessidade pararam de suar em prol da utilização daqueles trajes ultrajantes nos trópicos.
Devíamos ter pena do Noel, o cara entrando nas casas brasileiras com roupas de inverno deve ser um incomodo tremendo, talvez seja por isso que ninguém nunca o viu entregando presentes no Brasil. Vamos por um bermudão nele, uma camisa social vermelha até tirar, reduzir o tamanho da barba e trocar o gorro por um chapéu panamá. Devemos construir a nossa tradição Natalina (já que eu não posso vencê-los me juntarei a eles, mas do meu jeito). Se o Noel banaliza a mente das crianças, ou se é a primeira porrada que a criança leva para aprender a não confiar no outros, ou se deturpa o espírito Natalino, realmente pouco me importa. Porque essa loucura não deveria existir, mas se existe, bem, que tenhamos uma loucura pelo menos mais razoável.
A outra coisa que se deve mudar no Natal é a comida. Deveria ser mais brasileira! Mais tropical. Pois bacalhau, pernil, lombinho, peru, tender, entre outras são comidas muito pesadas para o verão Natalino. Só sei que deveríamos procurar comidas mais leves e mais típicas, sem essa padronização e essa babaquice de querer imitar a ceia de inverno dos países do hemisfério norte. As pessoas têm o ano inteiro para comer nozes, mas não, em pleno verão os insanos querem comer essas malditas nozes!
No final das contas, teríamos que matar esse Natal comê-lo, absorver as melhores coisas, para enfim fazer o nosso Natal tipicamente brasileiro, ou seja, antropofágico.

Ode Às Musas

Gasto todo o meu lirismo em mulheres
Que nunca eu vou sentir o gosto.
Para uns parece suicídio ou viver em desgosto.
Mas o que eu posso fazer?
Esse é o meu caminho, minha escolha.
Sei que eu como um pierrot apaixonado,
Não me abalo em não ter o meu trabalho
Recompensado!
Nessas horas sou meio parnasiano!
Arte pela arte,
Pois o que importa mesmo é a arte!
Não posso trair a minha arte!
Seja o poema, o conto ou a crônica,
Ou rock, o jazz ou o samba,
Ou cinema, a cerveja ou o coco!
Arte é o que importa para mim!
Minha musa é a minha vida
E a vida das minhas musas
Se elas me amarem um dia
Ficarei eu muito feliz
O que importa é que eu as amo!

Ferida

Está aberta!
A ferida.
E o sangue,
Sai pulsante!
Vejo-o pingar no chão!
Fazendo uma piscina fascinante.
Todos olham bem chocados,
Para o meu braço,
Todo avermelhado!
Perguntando-me o que aconteceu.
Eu respondo sorrindo que foi um cão,
Que Me mordeu.
Eles não acreditam.
Querem a verdade!
Mas eles não podem
Entender por falta de sanidade.
Me perguntam e perguntam.
Não querem se calar!
Então eu digo que um político me alvejou!
Com uma lei contra vagabundos que ele lançou!
E no final para minha surpresa.
O povo veio a me falar
Com toda a calma e compreensão
Deixe de bobagem companheiro
E trate de acordar.

Relacionamento Chato

Eu estava deitado naquela cama redonda e avermelhada. Olhava para mim, para as minhas tatuagens, para a minha ereção através da lente negra dos meus olhos. Na verdade eu olhava para a imagem, que devia ser minha, que refletia no espelho do teto. Olhava também para aquela bunda que eu acabara de me deleitar. Ela acordava. Virava o corpo, se arrastava por entre os lençóis até a minha direção. E disse mordendo a minha orelha:
— Nossa! Você é realmente demais! — Realmente não sabia se eu era tão bom assim, sempre achei que fosse. E essa foi só a primeira noite.
O problema é que eu dei corda, não para ela, mas para mim. Quer dizer, dei até a corda para ela enrolar o meu pescoço; dei até o teto para ela por a corda e também dei um banco para ela me por em cima. Era tudo uma questão de tempo para ela chutar o banco, ou para eu mesmo pular dele e sair daquela vida inescrupulosa e nefasta.
Foram mais de seis meses, de pura ladainha, ela me tornou um maldito pusilânime, sem vontade de nada, ela me fez perder a pouca que eu tinha. Ela me domou de um certo jeito que eu quase tirei os óculos. Eu realmente estava cego, nela não havia defeitos, mas em mim havia todos e no mundo também.
Eu realmente não sei como eu deixei isso acontecer. Só sei que aconteceu! Era uma rotina ordinária, meu bem pra lá, docinho pra cá, dentre outros frufruzinhos. Eu me sentia uma obra de arte barroca: cheio de hipérboles — meu bem você está tão lindo hoje —, cheio de catacreses — meu bem —, cheio de paradoxos — meu bem —, dentre cultismos — meu bem, hoje você está tão bem, meu bem. Não agüentava mais aquele tête-à-tête banal. Estava realmente me sentido oprimido.
O pior é que ela começou a se interferir no meu trabalho, pois eu não conseguia mais fazer aquelas belas e justas críticas. Naqueles meses tudo fora ótimo, mas hoje em dia eu vejo que apenas, talvez, menos de um por cento de todas as críticas realmente mereceram a nota máxima.
Foi incrível a transformação da coisa. No começo era até um relacionamento legal, toda noite rolava um sexo bem selvagem. Porém depois de quase dois meses na selva ela começou a se revelar uma besta completa. Tudo era água com açúcar. Filme água com açúcar, cerveja água com açúcar, novela água com açúcar, livro água com açúcar, música água com açúcar, jornal água com açúcar o inferno água com açúcar! E o pior de tudo ela só amava os Estados Unidos da América, ela idolatrava aquele país, coisa que me deixava totalmente enjoado. Eu me sentia no meio de uma ilha açucarada perdida no meio do oceano a espera do meu leviatã vermelho de azul me engolir com a sua boca rosada e maravilhosa.
E o sexo foi minguando e o amor, que nunca existiu, minto! Existia no sexo quando ele a proclamava que a amava, mas como um foi minguando o outro morreu na conseqüência da falta de existência do outro. E eu como um tolo, entrei de cabeça na onda. E me afoguei. Virei o cachorro dela, perdi a minha virilidade de bulldog transformando-me num poodle chato.
Depois de tanto agüentar decidi insurgir. Planejei a minha revolta. Friamente calculada. Eu inconfidente comigo mesmo, e com meus botões, já tinha tudo planejado, não tinha como dar errado, era só esperar a Derrama.
Que num belo dia chegou.
— Meu bem, meu bem!
— Diga...
— Já comprei tudo!
— É mesmo?
— É comprei as passagens para Disney! Também vamos passar um mês em Miami! Eu também comprei o novo DVD do mercado e o novo fogão também...
— Baby, dinheiro não dá em árvore, sabia?
— Ah! Meu cachorrinho não se preocupe! Eu não esqueci da sua coleirinha não! — Então ela tirou uma coleira rosa de umas das suas vinte sacolas, só falta combinar com a lingerie — Olha! Olha! Ela combina com a...
— Chega...
— Barbie, Veja, novela das oito, Crepúsculo, rosa choque, pipipi pápápá... — Ela não havia me ouvido.
— Baby, sabe o que tu és?
— O seu amorzinho que te ama muito, muito, muito! Que quem você ama muito, muito, muito!
— Não, você é uma terrorista fundamentalista do amor!
— Isso quer dizer que você não me ama? — Fiquei calado — Você não me ama! Como você não pode me amar!? Eu te dei tudo de mim! Eu te aturei tanto! Te amei tanto! E agora você diz que não me ama! — E ela gritava e chorava e batia o pé. Eu estava adorando aquilo. De repente um sorriso sarcástico estava começando a surgir no meu rosto. Animei-me. Acendi um cigarro e disse:
— Então baby, como foi que você conseguiu planejar o ataque as Torres Gêmeas? Eu achei aquilo genial! — Nunca tinha visto aquela cara dela. Era ódio. Larguei a cabeça para trás, olhei pro teto, dei um tragada e larguei uma bela fumaça no ar. Quando voltei à cabeça para frente ela estava parada na minha frente com todas as suas quarenta malas na porta. Quando voltei a olhá-la só vi um tapa vindo na minha cara. Ela começou a chorar e eu rindo. Ela não parava de chorar e bufar e tremer, de repente ela gritou um singelo “idiota” tão rasgado que perfurou o meu peito e tão choroso que merecia um Oscar. Era aquele grito gutural que as mulheres soltam em momentos desesperadores, você sentia que vinha do fundo de suas vísceras e que enquanto o som ia saindo o seu coração ia se despedaçando. Ela se virou, ainda chorando e tremendo, e foi-se embora para nunca mais, junto com todo o seu carregamento.
Assim que ela fechou a porta eu dei um tempo, pus um Coltrane no máximo e fui tomar banho. Aproveitei aquele banho maravilhoso, fiquei bem uma hora debaixo d’água. Depois fui até a cozinha, ainda molhado, peguei a vodka e me deitei no chão da sala, molhando todo o tapete. Foi belo, foi lindo: eu molhado, com uma garrafa, um maço, jazz, um grande sorriso e sem a chata!

Sorriso Sem Nome

Saía eu de uma boa aula de história. Estava andando até a Saens Peña para pegar o ônibus para ir para minha casa. Andava pelas infernais ruas tijucanas, infestadas de pessoas com caras inexpressíveis. Andava pelas veias que levavam o veneno pulsante para o resto do corpo da cidade infectada.
Andava distraído, ainda estava abatido pela aula. Viro uma esquina e entro numa rua. Olho para as pessoas da rua, todo normais menos uma moça. Tal moça que a me ver desenvolveu um sorriso muito sorridente. Fiquei muito assustado, não me lembrava de seu nome, mas seu rosto me parecia familiar. Ela era baixinha, usava uma camisa decotada preta, mostrando seu busto avantajado, um shortinho. Ela era bem bonita, tinha pernas grossas, cabelos grandes negros; era morena e tinha um sorriso lindo. Empunha um bebê em seus braços.
Ela não parava de sorrir com seus lindos dentes e seus beiços rosados. Eu fiquei tão atônito, que emiti sem querer uma cara de espanto que tentei conte-la, mas isso não acontecia.
Quando ela passou por mim olhou bem na minha cara com seus grandes e penetrantes olhos e ainda com aquele sorriso em sua boca disse um “olá” e um “tudo bem com você?”. Eu com uma cara pior ainda apenas disse um pequeno “tudo” e pus me a ir pela rua adentro pensando.
Pensando da onde eu a conhecia? Se eu a conhecia? Como ela me conhecia? Fiquei pensando se eu tinha comido alguém nos últimos quinze ou dezoito meses. Não conseguia lembrar. Não sabia de nada. Só conseguia pensar no trauma da aula de história.
Que o Sarney pode ser o Presidente. É só o Lula sofrer um acidente, o vice, José Alencar, que não anda com boa saúde não poderia assumir, então, o presidente do Senado assumiria, ou seja, o nosso digníssimo José Ribamar Ferreira de Araújo Costa!
Bem espero que um dia eu consiga lembrar o nome dessa linda moça cujas pernas eu bem gostei e que o Lula não morra até o final de seu mandato!