quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dia De Tirar A Barba

Comigo é sempre assim, depois de dois ou três meses de um saudável relacionamento as coisas começam a desandar. Começa a irritar, encher o saco e tal. E no fim, tudo acaba em no máximo meia hora. Eu fico lá triste vendo tudo ir pelo ralo. Eu realmente não gosto de ficar sem barba.
Sabe como é a barba cai bem, se você souber que barba usar. É mais do que um simples acessório, é quase como uma coisa fundamental, pelo menos para mim. E sempre acontece isso chega uma hora, principalmente no verão, que você começa a se questionar e se coçar demais e a esquentar também e você pensa em rever o seu relacionamento com a sua barba. Fica noites sem dormir pensando se isso é realmente de fato certo, que o seu conforto é mais importante do que esse ser que respira junto contigo, que divide a mesma cama que você, que come com você, que pensa com você, que faz tudo junto de você!
E você pensa nisso tudo, vê que você tem que manter aquele seu bichinho de estimação, mas você vai um dia à Cidade, passa o dia naquele calor insuportável do Saara, rodando que nem um maluco atrás de coisas, passa pela Ouvidor, pela Carioca, praça Tiradentes, entra no Lavradio, e termina na Lapa bebendo uma cerveja ou coisa que valha; você está cansado, está desde manhã rodando o Centro, e resolve ir pra casa, chega a tal, lá pra meia noite, morto de cansaço, sem um puto no bolso, semi alcoolizado, puto porque não conseguiu acertar as contas naquele fatídico dia, e você para na frente do espelho todo nu, vê toda aquela alergia da barba, lembra como foi um inferno aquela maldita o dia inteiro, não lhe deu um minuto de sossego, só fazia coçar e lhe atazanar! E você, puto, incauto, nervoso, alcoolizado, faz o que? Perde a razão e pega a gilete, e acaba com aquele lindo laço de amor que você tinha com aquela barba, três meses de alegrias, glórias, pensamentos — vão embora como passarinhos atrás de alimento.
Você toma um banho depois e vai dormir aparentemente feliz. No dia seguinte, você vai ao mesmo banheiro que ocorreu a cena do crime e se depara com um estranho no espelho. Você pensa ainda meio sonolento “quem é você? Onde você está não era para eu estar? Ah! Céus! Você sou eu, mas sem...Barba, o que aconteceu com ela? Seu monstro! Você matou a sua barba! Seu crápula!”. Você grita, grita, grita, acorda toda a vizinhança, os cachorros começam a latir, o interfone começa a soar, já ouve sirenes vindo de longe, a campainha já grita, e você tem que dar uma explicação a eles, todos eles, e você no auge de sua irracionalidade abre o berreiro:
— BARBA! BARBA! AONDE ESTÁ VOCÊ BARBA! — de repente tudo volta ao normal, todos sabem de seus ataques. A vida continua a ser mesma pra eles e não para você. Que senta ao vazo e fica balbuciando alucinadamente a maldita da dissílaba que você fez o favor de assassinar, a palavra que durante uns dias será o símbolo da angústia e da agonia, você não poderá ver mais a foto de seus ídolos por algum tempo sem não chorar, vai ter pesadelos com barbas que matam seus donos. Isso tudo só irá acabar daqui a uns dias quando a sua barba voltar a crescer, talvez lá daqui a um mês a sua auto-estima volte a ser a mesma, mas é mais possível que somente uma semana antes de você cometer esse barbicídio, mais uma vez, você talvez volte a ser o mesmo.

Um comentário:

  1. rsrssrr
    cara, vc eh uma figura msm!!!srsrsrs
    sou sua fã!! ;* Lu

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