sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Elegia à gata Pérola

Te conheci a pouco tempo, mas gostava de você
sempre vinha ronronar e passar por entre minhas pernas
sempre queria carinho e amor.
Saiba que quando escutei a trágica cena da sua morte,
através da triste voz da Turca,
que devia estar com os olhos inchados,
senti uma enorme tristeza e uma raiva ainda maior.
Gostaria de te vingar, gostaria de te fazer lembrada
devido a banalidade de tua triste morte.
Isso não se faz com ninguém, muito menos com uma bela gata.
Tento imaginar a pessoa que fez isso... envenenar a comida de uma gata!
ENVENENAR A PORRA DA COMIDA DE UMA GATA, PRA QUÊ?!
O QUÊ ELA TE FEZ DE MAL!
PORRA, QUE MALCARATISMO!
Para mim, não há desculpa, não tem razão que explique:
um pessoa, tecnicamente, racional a matar um gato por nada,
ou porque não gostava do gato, ou porque a gata o arranhou,
de todo jeito, a gata tinha donos!
A TURCA ERA SUA DONA!
Acredite, pequena bola de neve, algo será feito
para você, Pérola, voltar para o mar de onde veio feliz,
para ficar quentinha e tranquila dentro da ostra que lhe
dará carinho, amor e tudo aquilo que já lhe davam aqui..
Agora você deve estar no belo paraíso felino, correndo,
vivendo, comendo, fazendo amor e olhando aqui para baixo
vendo a sua dona chorar.
(Mas ela mal sabe que um substituto há de chegar).

domingo, 2 de outubro de 2011

Num Sábado

Eu voltava à mesa com ketchup e mostarda, quando disse a ela:
— Baby, eu te amo muito! Te amo mesmo. — Ela riu, eu continuei. — E os pássaros continuam a cantar, o sol a brilhar e a bela criança loira nos olha com uma
cara de levemente entretido! — Ela me olhou, queria me beijar, mas estava um
tanto longe, havia uma mesa entre nós. Simplesmente riu, ficou envergonhada
e continuou a comer o seu hamburger.

domingo, 4 de setembro de 2011

Mil e uma noites com ela

Turca,
não sei o que poderia te escrever hoje
que não acabasse soando clichê ou blasé.
Só posso dizer que
tudo tem sido ótimo
e espero que continue assim, por um bom tempo.
Que eu ainda possa acordar e me encantar
ao te ver bela na cama
ao te ver bela vivendo!
Turca,
minha musa, minha amante, minha amiga,
se eu tivesse que ir pra Turquia só por você
iria feliz em saber que teria Mil e uma noites de prazer,
deitado entre seu ventre e seus véus
me aquecendo na fria noite do deserto
com seus beijos e carícias e dizendo:
"Eu te amo!".

sábado, 27 de agosto de 2011

Penso nos poetas,

que gloriosos seres iluminados
pois conseguiam proferir seus célebres versos
sobre o efeito dos mais variados narcóticos.
Gostaria de ser assim, como eles, ou pelo menos
como eles foram eternamente consagrados:
boêmios, existenciais e com boas memórias!
Falta-me essa tal boa memória, que me anda falhando horas a fio
fazendo-me divagar sobre os versos proferidos ao leito do amor...
Bate-me uma imensa culpa em não poder lembrar
de todas a palavras que eu te disse,
mas de todas somente poucas iam mesmo importar,
principalmente aquelas mais obscenas e apimentadas
que somente após de ter me embriagado com seu cheiro
rompem o seu ouvido com palavras que cortam o ar por serem tão violentas e quentes
soltando aquele vulcão que há dentro de nós dois.
Jorrando o alegre gozo das horas de perversão, nos exaurindo a humanidade
e apenas restando o divino descanso do sublime prazer
à luz de velas.

domingo, 7 de agosto de 2011

Cogitando A Não Existência

Ressaca. Lembranças parciais sobre a noite passada. Boca seca. Lembro que tinha muita gente e tava rolando um som. Ou seja, temos uma margem de possibilidades impossíveis para saber onde estava, podia estar numa micareta como num bizarro culto pagão, visando à ascensão do Grande Templo de Odin no Rio de Janeiro. Ou podia estar pela Lapa mesmo, o que poderia ser mais possível dentro destas impossibilidades. Ou não.
E o que importa com isso? Eu poderia ter presenciado o surgimento de uma nova consciência política ontem, mas não sei, não lembro e também pouco me importo. Também não há como se importar com o mundo com essa dor de cabeça absurda, só gostaria de permanecer na cama. Entre o labirinto de lençóis e as grandes dunas dos travesseiros. Será que eu presenciei algo primoroso ontem? Algo que deveria ser lembrado, algo pra ser inesquecível, algo para entrar na História?
Seria a minha existência vazia e conflituosa interessante o suficiente para isso? Ou relevante. Não sei... Acho que serei mais um dentro daquela massa cinzenta e esquecida que meche a vida e que nunca e lembrado, vários casos aleatórios e altamente pessoais que por serem demasiadamente, e subjetivamente, importantes são esquecidos a sombra dos fatos e dos “grandes vultos da humanidade”. E mais um monte de besteiras vazias e cheias de epistemologia visionária do século passado. E eu um mero receptor e agente social não valho de nada?!
Foda-se! Não adianta, só saberei disso só depois de morto.
Mas de quem serve as flores amigas depois de morto? Os consolos, a amizade, os presentes, a consagração deve ser feita em vida, como Nelson já havia dito, pois depois de morto pra que serve tudo?
Maldita dor de cabeça, maldita ressaca, talvez se eu escrever esses pensamentos eu possa ser lembrado. Com uma pessoa que sofria de uma ressaca absurda, e que após de uma possível amnésia alcoólica reflete sobre as variáveis e efemeridades da existência, tendo sempre em mente a sua triste e irredutível vida pacata. Mas que maldito pessimista inconformado alguém pensaria ao ler esse texto num futuro (não) muito distante.
Acho que é isso só escrevendo, somente escrevendo eu poderei tocar alguém que está fora do meu alcance, seja este geográfico ou temporário. Apenas escrevendo, tantas palavras que algumas delas terão de dizer alguma coisa que preste, só assim...
Chega! Não agüento tanto devaneio sem o menor sentido, pra que tudo isso? Não quero mais pensar nisso, nem em onde estive ontem, nem na minha dor de cabeça, nem se tenho algum dinheiro para comer, nem em porra nenhuma! Só quero uma cerveja. E voltar para o aconchego dos grandes lençóis felpudos, cogitando a não existência.
E alguém ainda disse que a vida é justa...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Numa Madrugada de Quarta

Frio, dor de garganta
e ela a meia noite canta os hinos religiosos,
reproduzidos por temíveis flautas peruanas.
O ônibus dela chega,
me beija lasciva
e seus olhos brilhantes, infelizmente, vão embora.
Sigo meu rumo a espera do ônibus e da compreensão do ser.
O vento meche a minha barba, meu bigode se enverga
e minha garganta quase fecha.
E eu, mais um pequeno descontentado com a vida
sigo o meu caminho nessa linha torta de desesperos ressentidos,
angústias angulares
e poucas e sublimes alegrias fracionadas.
Mais um dia de trabalho, logo sonolência e alienação.
Uma rotina sadia, trabalho e estudo, com a possível
esperança de deitar na cama quente no final do dia.
Não durmo bem, e vivo desejando meus sonhos.
Há dias que tenho mais prazer numa noite de sono, que numa noite de sexo...
O que é lastimável, mas totalmente possível, porém nem um pouco preferível
"melhor era tudo se acabar" como o diria o poeta, acabar com a minha rotina.
Com o trabalho, com o dinheiro, com o sistema, com a porra toda que é discutida
por todos ao longo da sua jornada, a diferença é que alguns ganharam certa
notoriedade com seus problemas, mas no fundo, somos todos uns condenados a não
nos compreendermos.
E as teorias, as parábolas, a sonolência...vontade de dormir.
Só o prazer de me deitar, principalmente
me deitar com ela, só isso já me traz uma boa vontade
para encarar a vida.
Meu porto seguro.
Só o sorriso dela para eu não mandar o mundo se foder.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Foi...

Quando você saiu daqui de casa
no domingo,
parece que o dia ficou cinza,
ficou com aquela cara de domingo morto.
Eu fiquei estressado por ter
que voltar aquela rotina chata,
aos estresses do mundo.
Parece que com você o mundo fica mais aceitável.
A vida parece mais tranqüila,
e as sublimes horas do despertar parecem durar mais.
Só de lembrar de nós dois enrolados em nós mesmos
e nos lençóis,
já me bate uma gostosa sensação de nostalgia,
e talvez do sentimento mais certo,
de saudade.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Brinde

Estava comendo com a Turca aquele lanche meio qualquer coisa de domingo, ou seja, uns pãezinhos e tal. Enchi nossos copos, e levantei o meu para brindar, ela riu, pois era Coca e eu disse:
— Qual o problema?
— É Coca! — disse rindo.
— Nós devemos brindar os momentos e não as bebidas. — Ela me olhou com seus profundos olhos para mim, estava envergonhada. Brindamos, bebemos e logo depois ela me deu um forte e tímido beijo com sua boca molhada.
Naquele instante a Terra parou, um cachorro assobiou, um canário latiu, um pilantra disse a verdade, um honesto fez uma ruindade, uma associação que gostaria de destruir o mundo resolveu desistir dessas terríveis pretensões e resolveu fazer uma orquestra de pianos, e pela primeira vez dois tomates se beijaram ao se encontrarem no fundo de um saco de tomates que ia para o Cadeg. Fora isso, a cotação do café de Bromley despencou naquele domingo cinzento, onde um casal se olhava e o silêncio de suas palavras dizia tudo.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Turca

Seus olhos tur-
cos da cama brilham tão
fortes quanto o sol.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Exuberante Dualidade Escondida Nos Atos Dela

Não sei se é ela que me monta,
Ou se sou eu que monto nela:
Minha cúmplice dos delírios carnais...
Ora égua, ora cavaleira.
Quando ela sai e me rodeia
Com seus olhos, me come
Me prende em sua teia.
E quando de repente some
Minha mente vagueia
— Vagabundamente —
Pensando, imaginando, coisas...
Possibilidades, alternativas.
Imaginando a sua bunda,
Seus seios, seu olhos, seu corpo.
Um emaranhado de detalhes,
Hermeticamente harmonizados,
Constitui esse lindo e belo todo
Que eu gosto tanto de olhar de manhã
Com os raios de sol batendo no seu corpo nu
(O quarto esta quente, a atmosfera é densamente agradável.
E a fumaça do último charuto ainda paira pelo quarto,
Inda resta a tequila e o lobo uiva, nervoso, frenético;
Enquanto isso, a cavaleira se preparava para domá-lo)

domingo, 3 de abril de 2011

Meu Humor Temporal

Ela me pergunta: o que fazer?
(Eu exatamente não me lembro qual foi a pergunta)
E eu digo que:
Em quanto as flores existirem,
E as crianças continuarem brincando nos parquinhos,
Tudo ficara certo! (certo?)
Tudo “numa relax, numa tranquila, numa boa”!
Acabo viajando um pouco na letra do Tim...
E volto para os risos dela, na fila da carne no mercado,
De um sábado ensolarado.

Eu me pergunto: por quê?
Isso tudo, esse domingo cinzento e chuvoso, a falta de vontade,
O tédio.
Um ócio nem um pouco produtivo. (e era para ser?)
O mundo caindo
E você bebendo café, tranquilamente,
Sentando na poltrona virada para a tela,
Não da TV, mas da Internet.
E você se sentindo impotente,
Desprezível, e mesmo assim, não faz nada para mudar!
Apenas atualiza a tela do site
Mais de 300 atualizações por dia do mesmo site, para quê?
Pra nada.
E a tela vai sugando a sua inteligência e esquecendo de por algo no lugar,
A sua sede de vida, e você acaba pesando em morte, na falta de graça e num tango argentino.
Acho que o computador contribui para essa terrível sensação de angústia.
Porque você não faz nada e ao mesmo tempo faz tudo sem sair do lugar.
Sabe, eu nunca gostei muito de computadores.
É claro que eu os uso, mas eles são muito estressantes.
Não sei se é pela falta (ou não) de troca/produção de informações com a CPU
Sinto falta daquela conversa dialética que eu tenho com os humanos...
Mesmo assim acho que o computador contribuiu para a minha falta de comunicação.
Sei lá, só acho que me sentirei muito melhor no dia em que eu destruir um computador!
Sabe, para me sentir dominante perante a máquina,
Mostrar quem esta a serviço, ou pelo menos, quem é a ferramenta,
Acho que isso ajudaria a acertar os papéis, mas sei lá.

Isso é só mais um daqueles pensamentos, que a gente tem
Num final do dia e toda hora,
Da nossa sublime existência humana

sexta-feira, 18 de março de 2011

Fim do Início

Aniversário do Haiti.
Tunísia, Egito, Líbia
Japão, quem mais?
Ano louco.
Obama vem à Cinelândia,
Kadhafi recomeça matança,
Bolsas caem,
Luas cheias,
Teorias de fim do mundo!
Lunáticos religiosos saem às ruas a procura de derrotados.
Ivete Sangalo no Rock In Rio,
Tulipa Ruiz é aplaudida...
A mesma juventude perdida
Bebe, fuma, se enche de balinhas,
Come fast food, cheira no meio da rua,
Mata, fode, chora, trabalha,
E frita seus neurônios na tentativa de assimilar:
A realidade com as “visões de suas viagens” a base de drogas caras...
Isso me enjoa, e o japoneses tentam continuar sua vida através
De um desespero velado e irracional.
Quando isso me enche, dou descarga.
Vejo como o mundo me embruteceu
Nem consegui chorar, embora quisesse, ao terminar
O Pequeno Príncipe.
E assim vivemos embrutecidos em nossas cascas,
Protegidos contra todo o mal externo.
Sempre esperando o pior
Preparados contra a sublime insatisfação e depressão
Causado pelo hipocondríaco pessimismo do passar dos anos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Longe De Sua Flor

Ah! Que beleza, quantas flores!
E que cores, que formas, que espécies!
Todas maravilhosas.
Você passa por elas, elas até riem pra você, ou de você.
Algumas até parecem querer te receber...
Até parecem não reparar muito em você, afinal é carnaval!
Que viva a fantasia, o mistério, a ilusão!
Mas você lembra que você não é o único com um ferrão por ali.
Tem outros, mais fortes, mais experientes, com ferrões maiores.
E outros até mais fantasiados.
No final, aquele imenso campo florido,
Não é tão grande assim, fora outros problemas, como:
Algumas flores lhe conhecem, de outros carnavais;
Você não é o abelhudo mais atraente;
Por fim, você esta vadiando num campo sem ser o seu.
E assim você passa um carnaval,
(Triste) Voando perdido, sem saber o que fazer,
Com pouco hidromel na cabeça e longe de sua flor.
Mas amigo é carnaval!
Ninguém é de ninguém!
E o que falta é gente pra acabar com o hidromel!
Deixe as melancolias para trás, ou traga-as para cantar, para espantar!
Vamos zunir o mais alto que pudermos, que se faça barulho!
(O grande mistério da folia quem é você a cada momento:
O pierrot, apaixonante, terrivelmente delirante e triste.
A colombina, que se perde neste ménage entre o eros e o erótico.
O arlequim, brincalhão, infame e terrivelmente tão trágico e romântico quanto o pierrot.
Sempre há um arlequim para um pierrot e uma colombina para ambos!)
E eu fui pierrot e arlequim, voando por campos desconhecidos,
Suspirando por flores a conhecer e sentindo falta da minha conhecida.

sábado, 5 de março de 2011

A Cubana dos Olhos Verdes

Ele não entendia o que ela falava, ela só gemia e gritava o nome dele, nos pequenos momentos em que ela não estava resfolegando, suspirando, respirando, vivendo aquele momento casual. Ela gritava com a sua doce voz cubana:
— GEEERÁÁÁÁÁLDO!!
Até isso acontecer aconteceram umas coisas antes que talvez seja importante você saber.
Geraldo era professor de matemática que dava aulas de manhã numa escola particular pela Tijuca, pela tarde numa do município em Vila Isabel e a noite num pré-vestibular na Tijuca. E quando terminava tudo isso voltava pra sua casa no Andaraí. Nos tempos vagos, ele tentava ser humano. Ele até que na alienação dele conseguia se manter informado das coisas e conseguia nos fins de semana curtir um som em algum canto.
Durante o ensino médio ele tinha sido roqueiro, metaleiro, punk e maluco. Quando entrou pra faculdade começou a freqüentar umas escolas de samba, uns bares com mpb e a falar sobre world music. Hoje em dia, já com seu mestrado, seus três empregos, com mais de 15 anos de formado, tira uma onda de eclético e acha interessante falar sobre a influência do jazz na música latina. Como professor ele tinha falar sobre tudo, não era um cara chato, às vezes meio burro, mas consciente e fiel a sua asneira.
Contudo, sua vida era bem pacata. Em certos momentos do ano, períodos de prova acabavam de vez com a sua “vida”, deixava as vezes de sair pra corrigir aquele montante. Nessas épocas umas das melhores coisas que lhe aconteciam eram as reuniões de professores, a única coisa de emocionante que acontecia. Mas sempre que podia, saia às sextas. Varava noite adentro vagando de ambientes para outros ambientes, tudo para se livrar, mesmo que conscientemente, do peso e da responsabilidade de sua carreira.
Um dia desses, no final do primeiro trimestre, ficou sabendo de um show com uma cubana que iria acontecer, numa casa ali pela Lapa. Ele ficou empolgado com a ideia e mesmo sendo numa quarta-feira, tendo que aplicar prova no dia seguinte no município, conselho de classe na particular e aula de trigonometria para a turma especial no pré! Mesmo com tudo isso, ele resolveu ir. Botou pra foder, ele, que sempre seguiu essa mesma rotina massacrante de abstinência a diversão, resolveu esquecer tudo e prestigiar aquela linda cubana. Qualquer coisa ele ligaria pra escola falando que estaria doente, resfriado ou qualquer coisa que o valha, e não poderia participar do conselho. Pro município: tanto faz, como tanto fez, ele até já tinha deixado a prova lá, ligaria falando pro estagiário aplicar a prova. E pro pré, bem, foda-se aqueles nerds precisam de um descanso, até porque o ano mal começou e eles já estão quase explodindo! Mas coitados deles, eles com certeza iriam acabar tento aula com outro professor, como os prés são previsíveis.
Enfim ele chegou ao local, após ter ido ao bar errado e conseguiu pegar um táxi pra chegar à casa certa, lá em Santa Teresa. Porque esse show era meio que restrito ou exclusivo e o lance do endereço errado foi só para despistar e só quem estaria realmente interessado, e com uma onça no bolso para conseguir a informação com o gerente do bar da Lapa, conseguiria ver o show. Entrou no local, passou pelo bar da casa, e logo se deparou com o palco ao ar livre, o que o deixou um tanto bolado por não ter comprado um bom charuto para acompanhar o show, pensando que veria a cubana num local fechado onde não poderia se fumar. E logo começou a apresentação de Martha Orestes Ferrer. Uma linda morena cubana, de cabelos grandes, cacheados e negros, com olhos verdes profundos, lábios carnudos pintados de vermelho. Seu corpo poderia ser descrito, em detalhes, por mais de dois longos parágrafos, mas para ser breve pode-se dizer que ela tinha um belo de um corpo de violão. E sua voz! Era algo incrível, uma potência, uma profundidade, uma sensualidade sem igual!
Geraldo ficou terrivelmente hipnotizado por Martha, que cantava belamente, acompanhada pelas congas, pelo bongo, pelo contrabaixo e pelo piano. Ele não pestanejava, talvez não respirasse, apenas suspirasse a cada palavra entoada pela cantora. Geraldo ficou sem palavras e quase sem dinheiro, consumiu quase metade do chope da casa. Quando terminou o show, às duas da manhã (ele já estava sem condições de levantar cedo, e quisá de viver), ele decidiu que precisava falar com ela. E conseguiu, ele disse que sabia um pouco de espanhol e pediu pra ela falar devagar, e ela disse que entendia um pouco de português e que ele falasse algo inteligível. E começaram a conversar, ele falou sobre a vida dele, como adorou ela, como ela era linda, como adorava música cubana. Ela escutou, entendeu metade das coisas, e falou que gostava quando as pessoas gostavam da música dela, falou da infância dela, da vida dela em Miami, de seus avós, de suas experiências com alucinógenos e seu envolvimento com um movimento revolucionário de libertação da América do imperialismo Norte Americano. Ele escutou, entendeu menos que a metade das coisas que ela disse, entendeu que ela gostava do Che, e disse que morava sozinho e que adoraria passar aquela noite com ela e talvez o resto de suas vidas. Ela parou, sorriu, envergonhada, chegou perto dele, beijou a boca e disse em seu ouvido direito, que estava louca pra conhecer a cama dele.
Pagou a conta. Pegou o táxi, se pegou no táxi. Pagou o taxista. Pegou o elevador, se pegou no elevador. Abriu a porta de casa, jogou ela na parede e ficaram se pegando por um tempo. Depois mostrou a cama dele, ela disse que tinha que tomar um banho, ele mostrou o banheiro a ela. Ele foi até a sala pegou um uísque, e foi tomar banho com ela e o uísque. Findado o banho caíram na cama e de lá não saíram. Rolaram para todos os lados possíveis, suspiraram, gritaram, rimaram, se amaram, por uma noite inteira de amor e selvageria interamericana.
O sol batia na sua cara, ele estava deitado, do seu lado, aquela linda cubana. Devia ser perto do meio dia, pouco importava, ele estava feliz, muito feliz. Levantou pra buscar uma água. Voltou e viu aquela doce criatura despertando, com seus lindos olhos verdes fitando-o. Ela linda, sorria pra ele. Ele disse a ela que estava disposto a largar toda a vida dele pra viver com ela. Ela disse “bueno”, levantou (nua, linda), buscou seu celular, ligou pra alguém, com quem falou meia dúzia de coisas e depois disse a ele pra se arrumar que ela queria ir a praia. Ele se arrumou sem piscar. Afinal, como ele conseguiria dizer não a ela? Quando estava dobrando a esquina pra tomar o ônibus, uma van parou na frente deles, ela saiu correndo, quatro caras mascarados saíram de dentro dela e bateram nele.
O sol batia em sua cara, mas era um sol diferente, parecia ter outra intensidade, parecia mais forte. Ele levantou a cabeça e lá estava a sua cubana, vestida com roupas militares, dentro de um jipe, dizendo que hoje era o dia da revolução, que ainda bem que ele estava com ela, que ela queria dividir aquele momento com alguém especial no meio de uma floresta da Colômbia!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Seis Long Necks e Um Saco de Amendoins

Chovia, mesmo assim isso não o impediu de sair de casa. Ele simplesmente não agüentava mais ficar lá, sozinho na frente do computador. Bebeu uma cerveja e foi para rua. Ao botar os pés fora de casa logo se arrependeu por ter saído de sua casa quentinha e entediante, porém protegida contra a chuva. Era uma segunda, uma amarga segunda chuvosa a dias do carnaval. Ele sabia que tudo melhoraria em questão de dias, ou até mesmo horas, mas insistiu no erro como um verdadeiro burro que é.
Saiu andando pelas ruas em busca de...Em busca de um algo, um algo perdido, que jamais será encontrado direito, e junto disso ele estava acompanhado daquela sensação de insatisfação. Uma insatisfação, satisfeita por na fazer nada, mas que o seguia por não fazer exatamente porra nenhuma. Ele parou num boteco comprou uma cerveja e seguiu andando.
Ele sabia que não queria respostas, não estava a fim de refletir. Também não havia muito que se refletir, talvez a sua vida, mas ele deixa isso pra os momentos mais solitários e sublimes, como quando ele ia ao banheiro. Ele era um homem teoricamente perturbado o suficiente para ser considerado normal, e ele achava normal isso: pensar na vida defecando, ele achava isso até ironicamente cômico, afinal ele estava, como dizem, “cagando pra vida”. Talvez fosse um caso de sexo, nem era abstinência, mas ele não tava fazendo nada e praticar um bom vai e vem seria bom pra matar umas horas. Começou a pensar em quem poderia praticar isso com ele, naquele momento. Não conseguiu pensar em ninguém disponível no momento, talvez quem sabe no carnaval...
De repente, surgiu um shopping no seu caminho. Entrou, achou um cinema, viu que uma sessão qualquer de um filme qualquer ia começar a dez minutos. Era o tempo dele achar cerveja e amendoins. E entrou pra ver um filme de animação de no mínimo duas horas com um saco de amendoim e seis long necks. E lá ele ficou no meio do cinema lotado bebendo cerveja e comendo amendoim sem prestar atenção ao filme. Ele se sentiu menos mal, se sentiu humano, se sentiu acolhido por aquela multidão prestando atenção nos lasers vermelhos que passavam pela tela e naquele escuro, já embriagado, ele chorou.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Meca

Dia desses rumando
Em alguma viagem minha alucinada
Ou em algum sonho,
Deparei-me com uma estrela de Davi.
Que me levou para Israel.
Mostrou-me suas belezas,
Seus problemas, suas coisas
Suas manias, suas crônicas.
Depois, colocou-me numa caravana
Rumo à Meca.
Lá fui acolhido
Como um amante...
Entrei pelas suas ruas,
Pelos seus templos,
Pelas suas vielas.
Descobrindo olhares,
Sons, prazeres
Que nunca antes tinha visto.
Eu gostei daquele lugar!
E quanto mais eu entrava,
Mais eu me sentia envolto de gozo
E de prazer ao redor:
De suas cores vivas,
De seus gemidos prazerosos,
De seus olhares afetuosos...
Acabei me acostumando.
E fiquei, sem esperar nada.
Fiquei como mais um cigano
Acolhido por aquele coração caloroso.
E esqueci de lhe atribuir tudo aquilo.
E quando resolvi ir embora como entrei
Fui expulso, deportado pela minha ingratidão.
Pela minha falta de comprometimento,
Não posso mais pisar lá...
Hoje brigo com a embaixada para tentar voltar.
Apenas quero voltar a ser amigo dela,
Tentar mostrar a ela quem eu sou,
E por que estive e estou ali.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A Voz Grave

A mente feminina tem umas coisas incríveis e o produto, ou substância, mais nefasto é o romantismo. Se bobiar quase toda mulher tem uma ideia distorcida sobre isso, que se faz presente numa imagem alucinantemente vertiginosa por mesclar flores, campos silvestres, montanhas, praias, camas gigantes, chocolates, luzes baixas, jacuzzis, champanhes, morangos, rosas, amoras adocicados e um tanto cítricos, poemas, frases lentas e um misto de Barry White com o melhor da música francesa (Serge Gainsbourg, de leve). Também deve haver o homem que chega ao ambiente sendo imponente, potente e sensível! Algo como um belo cavalheiro da Disney, ou algo como um fera indomável que pode beijar os seus lindos pés aveludados. Não sei se todas as mulheres compartilham dessa assombrante imagem, espero que não, mas sei que há certos pontos, disso que eu acabei de descrever, podem estar em intercessão nesse tocante das deliciosamente delirantes mentes femininas.
A coisa é que esse romantismo se tornou totalmente materialista e hoje em dia um cara é romântico por ele ter uns três milhões no banco, o que não é uma coisa ruim, pois ele poderá dar todas as montanhas, cavalos, chocolates, Al Greens e enfins! Isso também acabou com o cara que faz poemas, o colocou no mesmo nível dos sensíveis sentimentais e cheios de não me toque e dos loucos depressivos. Então o cara que faz poemas não é tão romântico assim! Todas dizem que acham lindo, fofo, mas não são todas que recebem bem um poema falando dos peitos dela, ou como ela ficou linda naquele vestidinho roxo que quase fez o poeta explodir.
No final eu não sou nem um pouco romântico! Pois não tenho o “quê” material, e sou um poeta sujo. Talvez eu seja até um pouco sentimental debaixo da minha crosta de grosserias. Minha poesia é aquela do homem mediano com uma vida cheia de conflitos e sempre permeada a música. Do homem enrijecido pela vida, por uma sociedade que o transforma em algo duro e áspero, que o fez guardar os passarinhos numa gaiola tão escura e tão distante que ele nunca consegue colocá-los para fora sem ter medo que eles não voltaram machucados.
Mas esse é o meu romantismo: o imaterial, o anti-poético mela cueca, o prosaico que sabe lidar com as diversidades se pondo nas situações. Eu sou um romântico de guerrilha, sem reforços, sem suprimentos, sem dinheiros, o da ação direta e subversiva! O da voz grave que faz ressoar na mente feminina, que chega por trás e que deslancha tudo ao improviso ao som de qualquer coisa em qualquer momento, pois são as pessoas que criam os momentos não os momentos que nos criam!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sensações Novas De Uma Volta Esperada

Ele tinha acabado de chegar a casa após uma exaustiva viagem, colocou a mala na sala, a mochila sobre o sofá, bebeu uma cerveja, tomou banho e resolveu dormir.
Sonhou que estava no meio de um deserto sendo perseguido por uma manada de elefantes rosa. Ele corria, mas os elefantes o perseguiam sobre as amarelas dunas daquele fim de mundo de nuvens púrpuras e de sol vermelho. De repente, ele não conseguia mais se locomover, ele não percebeu que estava em cima de uma areia movediça. O certo, como todo filme manda, é não se mexer, agarrar alguma coisa, sei lá, mas ele não parava de se mexer. Ele estava em pânico, desesperado para sair dali, mas a cada movimento que dava mais ele era sugado pela quente areia amarela daquele deserto e mais próximos os elefantes estavam. Logo ele se viu apenas com a cabeça para fora da areia e com muitos elefantes ao redor dele, olhando pra ele, com um olhar sarcástico, sentindo um prazer quase que masoquista, por vê-lo sumir lentamente pela terra.
Tudo estava escuro, ele levantou. Estava no meio de um banheiro sujo, com uma música alta tocando. Ele saiu do banheiro e se viu num mar de mulheres dançando ao som hipnótico que saia das caixas, elas pareciam estar em um transe. E luzes de todas as cores piscavam e cheiros de todos os cantos saiam. E ele foi andando por aquele mar de mulheres maravilhosas até encontrar uma criança, que chegou até ele e disse:
— Você não pode ficar aqui. — E ele nem teve tempo de responder e logo levou um belo soco na cara e caiu.
Caiu de cara com o seu travesseiro. Mas aquele não era o seu travesseiro, nem sua cama, nem ele! Ele começou a sentir um enjôo, e uma vontade de vomitar. E logo levantou e saiu correndo, instintivamente, achou um banheiro e vomitou sua alma no vaso. Ao levantar começou a sentir um dor na sua parte inferior, bem na sua bunda. E ao olhar-se ao espelho ele se deparou com o fato de ser uma mulher, uma mulher bem gostosa por sinal ( ele pensou). Ele olhou pro seus peitos, seus fartos seios, e começou a se tocar e a gostar disso. Sentou no vaso e começou a brincar com as rodelas rosadas de seus mamilos. Com a outra mão começou a percorrer outras partes do seu corpo até chegar a sua buceta. Ele ficou terrivelmente encantando mexendo nela, tocando e sentindo, acariciando e tendo essa resposta sensível. Ele ficou lá se contorcendo no vaso até que teve a ideia de voltar para a cama, correu e se jogou na grande cama de casal e ficou lá pelada em cima da cama, se tocando, se acariciando, se mimando, se masturbando como nunca antes ele havia feito! Quando olho para o teto se viu no espelho ela em todo o seu esplendor, seus olhos verdes, seus cabelos negros e longos, seus seios fartos, de pernas abertas mostrando sua delicada bucetinha rosada, seus pequenos lábios fechados, sendo invadidos pelas suas ferozes unhas vermelhas! E ela gozou, gozou como nunca antes (ele nunca tinha se sentindo tão bem), ficou curtindo aquela “onda” e dormiu. Ela acordou com algo entrando e saindo da sua bunda, arrastando pelas bochechas, aquela coisa doía, mas ao mesmo tempo ela gostava. E assim ela ficou, fingindo que estava dormindo.
Ele acordou com um susto, certificou se algo tinha ocorrido com ele, nada. Foi só um sonho, um sonho muito estranho. Ele se levantou, foi ao banheiro. Eram seis horas da tarde, não havia nada para fazer, ele foi a cozinha abriu outra cerveja e ficou debruçado na janela ouvindo o reggae que saia da janela do seu vizinho de cima. O grave era tão forte que ele sentia no peito, e isso o acalmava, e ele bebia a cerveja dele pesando no que fazer, no final do dia, no dia seguinte, vendo a rápida vida passar bem diante da sua janela, como uma revoada de pombos famintos, em busca de abrigo para mais um dia.