sexta-feira, 18 de março de 2011

Fim do Início

Aniversário do Haiti.
Tunísia, Egito, Líbia
Japão, quem mais?
Ano louco.
Obama vem à Cinelândia,
Kadhafi recomeça matança,
Bolsas caem,
Luas cheias,
Teorias de fim do mundo!
Lunáticos religiosos saem às ruas a procura de derrotados.
Ivete Sangalo no Rock In Rio,
Tulipa Ruiz é aplaudida...
A mesma juventude perdida
Bebe, fuma, se enche de balinhas,
Come fast food, cheira no meio da rua,
Mata, fode, chora, trabalha,
E frita seus neurônios na tentativa de assimilar:
A realidade com as “visões de suas viagens” a base de drogas caras...
Isso me enjoa, e o japoneses tentam continuar sua vida através
De um desespero velado e irracional.
Quando isso me enche, dou descarga.
Vejo como o mundo me embruteceu
Nem consegui chorar, embora quisesse, ao terminar
O Pequeno Príncipe.
E assim vivemos embrutecidos em nossas cascas,
Protegidos contra todo o mal externo.
Sempre esperando o pior
Preparados contra a sublime insatisfação e depressão
Causado pelo hipocondríaco pessimismo do passar dos anos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Longe De Sua Flor

Ah! Que beleza, quantas flores!
E que cores, que formas, que espécies!
Todas maravilhosas.
Você passa por elas, elas até riem pra você, ou de você.
Algumas até parecem querer te receber...
Até parecem não reparar muito em você, afinal é carnaval!
Que viva a fantasia, o mistério, a ilusão!
Mas você lembra que você não é o único com um ferrão por ali.
Tem outros, mais fortes, mais experientes, com ferrões maiores.
E outros até mais fantasiados.
No final, aquele imenso campo florido,
Não é tão grande assim, fora outros problemas, como:
Algumas flores lhe conhecem, de outros carnavais;
Você não é o abelhudo mais atraente;
Por fim, você esta vadiando num campo sem ser o seu.
E assim você passa um carnaval,
(Triste) Voando perdido, sem saber o que fazer,
Com pouco hidromel na cabeça e longe de sua flor.
Mas amigo é carnaval!
Ninguém é de ninguém!
E o que falta é gente pra acabar com o hidromel!
Deixe as melancolias para trás, ou traga-as para cantar, para espantar!
Vamos zunir o mais alto que pudermos, que se faça barulho!
(O grande mistério da folia quem é você a cada momento:
O pierrot, apaixonante, terrivelmente delirante e triste.
A colombina, que se perde neste ménage entre o eros e o erótico.
O arlequim, brincalhão, infame e terrivelmente tão trágico e romântico quanto o pierrot.
Sempre há um arlequim para um pierrot e uma colombina para ambos!)
E eu fui pierrot e arlequim, voando por campos desconhecidos,
Suspirando por flores a conhecer e sentindo falta da minha conhecida.

sábado, 5 de março de 2011

A Cubana dos Olhos Verdes

Ele não entendia o que ela falava, ela só gemia e gritava o nome dele, nos pequenos momentos em que ela não estava resfolegando, suspirando, respirando, vivendo aquele momento casual. Ela gritava com a sua doce voz cubana:
— GEEERÁÁÁÁÁLDO!!
Até isso acontecer aconteceram umas coisas antes que talvez seja importante você saber.
Geraldo era professor de matemática que dava aulas de manhã numa escola particular pela Tijuca, pela tarde numa do município em Vila Isabel e a noite num pré-vestibular na Tijuca. E quando terminava tudo isso voltava pra sua casa no Andaraí. Nos tempos vagos, ele tentava ser humano. Ele até que na alienação dele conseguia se manter informado das coisas e conseguia nos fins de semana curtir um som em algum canto.
Durante o ensino médio ele tinha sido roqueiro, metaleiro, punk e maluco. Quando entrou pra faculdade começou a freqüentar umas escolas de samba, uns bares com mpb e a falar sobre world music. Hoje em dia, já com seu mestrado, seus três empregos, com mais de 15 anos de formado, tira uma onda de eclético e acha interessante falar sobre a influência do jazz na música latina. Como professor ele tinha falar sobre tudo, não era um cara chato, às vezes meio burro, mas consciente e fiel a sua asneira.
Contudo, sua vida era bem pacata. Em certos momentos do ano, períodos de prova acabavam de vez com a sua “vida”, deixava as vezes de sair pra corrigir aquele montante. Nessas épocas umas das melhores coisas que lhe aconteciam eram as reuniões de professores, a única coisa de emocionante que acontecia. Mas sempre que podia, saia às sextas. Varava noite adentro vagando de ambientes para outros ambientes, tudo para se livrar, mesmo que conscientemente, do peso e da responsabilidade de sua carreira.
Um dia desses, no final do primeiro trimestre, ficou sabendo de um show com uma cubana que iria acontecer, numa casa ali pela Lapa. Ele ficou empolgado com a ideia e mesmo sendo numa quarta-feira, tendo que aplicar prova no dia seguinte no município, conselho de classe na particular e aula de trigonometria para a turma especial no pré! Mesmo com tudo isso, ele resolveu ir. Botou pra foder, ele, que sempre seguiu essa mesma rotina massacrante de abstinência a diversão, resolveu esquecer tudo e prestigiar aquela linda cubana. Qualquer coisa ele ligaria pra escola falando que estaria doente, resfriado ou qualquer coisa que o valha, e não poderia participar do conselho. Pro município: tanto faz, como tanto fez, ele até já tinha deixado a prova lá, ligaria falando pro estagiário aplicar a prova. E pro pré, bem, foda-se aqueles nerds precisam de um descanso, até porque o ano mal começou e eles já estão quase explodindo! Mas coitados deles, eles com certeza iriam acabar tento aula com outro professor, como os prés são previsíveis.
Enfim ele chegou ao local, após ter ido ao bar errado e conseguiu pegar um táxi pra chegar à casa certa, lá em Santa Teresa. Porque esse show era meio que restrito ou exclusivo e o lance do endereço errado foi só para despistar e só quem estaria realmente interessado, e com uma onça no bolso para conseguir a informação com o gerente do bar da Lapa, conseguiria ver o show. Entrou no local, passou pelo bar da casa, e logo se deparou com o palco ao ar livre, o que o deixou um tanto bolado por não ter comprado um bom charuto para acompanhar o show, pensando que veria a cubana num local fechado onde não poderia se fumar. E logo começou a apresentação de Martha Orestes Ferrer. Uma linda morena cubana, de cabelos grandes, cacheados e negros, com olhos verdes profundos, lábios carnudos pintados de vermelho. Seu corpo poderia ser descrito, em detalhes, por mais de dois longos parágrafos, mas para ser breve pode-se dizer que ela tinha um belo de um corpo de violão. E sua voz! Era algo incrível, uma potência, uma profundidade, uma sensualidade sem igual!
Geraldo ficou terrivelmente hipnotizado por Martha, que cantava belamente, acompanhada pelas congas, pelo bongo, pelo contrabaixo e pelo piano. Ele não pestanejava, talvez não respirasse, apenas suspirasse a cada palavra entoada pela cantora. Geraldo ficou sem palavras e quase sem dinheiro, consumiu quase metade do chope da casa. Quando terminou o show, às duas da manhã (ele já estava sem condições de levantar cedo, e quisá de viver), ele decidiu que precisava falar com ela. E conseguiu, ele disse que sabia um pouco de espanhol e pediu pra ela falar devagar, e ela disse que entendia um pouco de português e que ele falasse algo inteligível. E começaram a conversar, ele falou sobre a vida dele, como adorou ela, como ela era linda, como adorava música cubana. Ela escutou, entendeu metade das coisas, e falou que gostava quando as pessoas gostavam da música dela, falou da infância dela, da vida dela em Miami, de seus avós, de suas experiências com alucinógenos e seu envolvimento com um movimento revolucionário de libertação da América do imperialismo Norte Americano. Ele escutou, entendeu menos que a metade das coisas que ela disse, entendeu que ela gostava do Che, e disse que morava sozinho e que adoraria passar aquela noite com ela e talvez o resto de suas vidas. Ela parou, sorriu, envergonhada, chegou perto dele, beijou a boca e disse em seu ouvido direito, que estava louca pra conhecer a cama dele.
Pagou a conta. Pegou o táxi, se pegou no táxi. Pagou o taxista. Pegou o elevador, se pegou no elevador. Abriu a porta de casa, jogou ela na parede e ficaram se pegando por um tempo. Depois mostrou a cama dele, ela disse que tinha que tomar um banho, ele mostrou o banheiro a ela. Ele foi até a sala pegou um uísque, e foi tomar banho com ela e o uísque. Findado o banho caíram na cama e de lá não saíram. Rolaram para todos os lados possíveis, suspiraram, gritaram, rimaram, se amaram, por uma noite inteira de amor e selvageria interamericana.
O sol batia na sua cara, ele estava deitado, do seu lado, aquela linda cubana. Devia ser perto do meio dia, pouco importava, ele estava feliz, muito feliz. Levantou pra buscar uma água. Voltou e viu aquela doce criatura despertando, com seus lindos olhos verdes fitando-o. Ela linda, sorria pra ele. Ele disse a ela que estava disposto a largar toda a vida dele pra viver com ela. Ela disse “bueno”, levantou (nua, linda), buscou seu celular, ligou pra alguém, com quem falou meia dúzia de coisas e depois disse a ele pra se arrumar que ela queria ir a praia. Ele se arrumou sem piscar. Afinal, como ele conseguiria dizer não a ela? Quando estava dobrando a esquina pra tomar o ônibus, uma van parou na frente deles, ela saiu correndo, quatro caras mascarados saíram de dentro dela e bateram nele.
O sol batia em sua cara, mas era um sol diferente, parecia ter outra intensidade, parecia mais forte. Ele levantou a cabeça e lá estava a sua cubana, vestida com roupas militares, dentro de um jipe, dizendo que hoje era o dia da revolução, que ainda bem que ele estava com ela, que ela queria dividir aquele momento com alguém especial no meio de uma floresta da Colômbia!