sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um Perdido Amor Sincopado, Encorpado E Encontrado

Eu não estou me sentindo bem.
Eu não vou nem um pouco bem hoje.
Primeiro, o nosso amor que acabou;
Depois, esse calor que não bastou;
Também tem essa ressaca que hoje me contemplou!
Acabar assim não é pra mim.
Eu fico perdido e distante,
A procura de uma bacante,
Ou de uma saia dançante,
Com todo o seu lirismo empregado ao balanço,
Assim tão delirante.
Não me resta mais outra opção!
Além de por o chapéu e me mandar pro bordel!
Mandando aquele scat no meio do salão.
TCHUM DAREM PDEREM PÉ RI DOM DOM
TCHUM DAREM DÉ DEREM PÉ DÉ DÉ
DÁ DÁ DIM DOM BOM DOM DON
(O amor cansa)
BARA DIM DEM DA DUM DOM
(E acaba perdendo-se no fade out do sax)
TCHE DAREM TCHE DAREM PÁ DA BARA PABARABÁ
(No final as pessoas aplaudem)
TCHUM DAREM DÉ DEREM PÉ DÉ DÉ
TCHUM DAREM PDEREM PÉ RI DOM DOM
Um bom amor perdido é como um belo show,
Pois quando ele acaba você sente saudades,
Daqueles momentos bonitos.
Mas hoje eu apenas procuro uma mulher perdida.
Para satisfazer a minha fome,
Para que ela ria da minha fala.
Espero que ela ainda esteja lá em casa!
Perdida entre os lençóis da minha cama...
Ou entre as águas da banheira...
Espero que ela esteja apenas lá:
Perdida.
Para eu encontrá-la...

Annus Invictus

— Acorda! — Falei pra mim mesmo, após um estrépito momento de despertar. Devia ter tido um pesadelo. De todo jeito não deu muito certo. Tentei conversar comigo mesmo, mas não deu em nada. Apenas tragava aquele ar poluído e devolvia-o ainda mais abatido a cada baforada.
Lutei contra o sono e o cansaço, mas os deixei ganhar-me.
Não sei por quanto tempo mais eu padeci naquele leito aconchegante e frio. Mas sei que depois de muito tempo fui acordado por uma voz feminina. A voz dizia que era para eu levantar para comer. Pelo menos eram duas boas notícias pra quem estavam acordando: que eu estava na casa de uma mulher e que eu era para eu me vestir para comer.
Levantei-me com dificuldade, fui até o banheiro, tomei um banho, enxuguei-me, pus uma roupa e fui comer. Guiei-me pelo som dos talheres, tilintando nervosamente, pareciam talheres esfomeados de pessoas afobadas, também senti os cheiros das comidas, parecia ter bacalhau, batatas, e coisas do gênero que leva muito azeite. Aquelas típicas comidas natalinas... Não!
— Não pode ser! — Eu pensei. Como já poderia ser o Natal? O ano passara assim tão rápido? Maldição!
Cheguei à sala de jantar, aquela mesa enorme cheia de comida e cheia de gente. A primeira vista pude concluir duas coisas: primeiramente eu não conhecia nem metade daquelas pessoas que estavam ali e a outra coisa era que como sempre tinha mais comida do que pessoas. Isso é até bom, mas o desperdício é uma coisa lamentável. Essa é uma das coisas que eu mais abomino do Natal.
Sentei junto à horda e me acabei! Realmente aquilo tava mais para uma festa romana. No começo, quando eu cheguei, as pessoas estavam esperando outras pessoas chegar, estavam falando as trivialidades básicas, aquela salva de “nossa como você cresceu!” ou “você não esta mais com ela?” ou “porque você não me contou que isso tava acontecendo... é claro que eu te ajudava.”, resumindo: babaquices. Quando todos estavam presentes as pessoas começaram a comer. Foram perfeitos cavaleiros e damas da corte inglesa usaram todos os talheres possíveis para fazerem as coisas mais irrisórias como por a comida na boca. Mas não sei direito quando as coisas começaram a desandar, talvez quando todos perceberam que ia sobrar comida, foi naquele momento que o circo pegou fogo e que eu ri. Do nada as pessoas começaram a pegar a comida com a mão, e não só por na boca, mas a esfregar na cara também, passavam azeite nos cabelos, enfiavam as batatas nas orelhas e coisas piores.
Eu estava na minha, no meio daquele tumulto que se iniciava. Que crescia como uma doença. Era uma verdadeira balburdia, as pessoas pareciam porcos, mas elas ainda estavam sentadas. Pois quando elas se levantaram e deixaram de sentar a mesa para sentar na mesa que foi lindo! Um cara gordão lá pela casa dos cinqüenta começou a gritar e reivindicar o porco, que o porco era de ele e tal. Foi uma coisa assim no mínimo dantesca, sabes? Vi uma sociedade aristocrática ir da socialização a tomada de terras, de propriedade privada.
Privada, porque não tinha uma lá? As pessoas não concordaram com o velhaco e começaram a brigar pelo porco, de fato era um belo porco e que valia uma boa briga, mas cadê todo aquele sentimento “Natal, Natal, Natal sinta essa magia no ar!”? À medida que os socos foram trocados as roupas iam rasgando e eu permanecia no meu lugar distante com o meu bacalhauzinho, o meu cigarrinho, o meu vinhozinho e os meus óclinhos.
Lá pelas tantas, quando o gordo estava quase morrendo, parece que ele teve uma ereção e uma mulher começou a transar com ele (aliás, porque ela não transou comigo?), todos pararam de se bater e fizeram o mesmo. Uns até que gostavam de apanhar fizeram dos dois. Eram mais ou menos uns sessenta corpos juntos se mexendo de um lado pro outro e para todos os lados uns encima da comprida mesa, que devia chegar até o final daquela sala, que mais parecia um corredor; outros pelo chão e acho que tinha até um povo dependurado no lindo lustre no centro da sala.
Sêmen, sexo e sangue. Acho que eu devia estar... com certeza devia estar na festa errada! Aquilo estava mais para uma orgia swinger louca com fortes tendências sádicas. Era incrível ver aquela massa de pessoas se embrenhando, se entrelaçando, se engalfinhando. Eles chegaram a fazer uma pilha, quase que alcançaram o teto, aquilo foi interessante, o problema foi quando eles caíram em cima das louças, ai sim, todos sangraram. O cheiro estava horrível suor, sangue, sêmen, vômitos, comida amassada, fezes! O som era o mais legal, um misto de palavras soltas sem sentidos que faziam uma poesia, era como ver a inteligência coletiva ali na minha frente fazendo um poema dada.
Eu só sei que eu fiquei muito tempo os observando, e no final não deu em nada. Apenas um belo passeio antropológico vendo que como a humanidade não tem jeito. Resolvi sair daquela sala, dei um adeus aos animais eles não me retribuíram nada, ainda bem. Achei uma porta, sai por ela e vi fogos no céu, estava em Copacabana. Meti a mão no bolso achei meu celular. Vinte mil ligações não atendidas. Dia primeiro de dois mil e dez. Droga! Passei numa birosca bebi uma cerveja, tomei um táxi fui pra casa. E dormi. E assim mais um ano se acaba rapidamente e mais um ano começa estranhamente, moral da história: viva o Sol Invictus!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Digníssimos Senhores

A cara do Brasil,
É a bunda de Brasília!
A Babilônia do país!
Onde homens erram e são agraciados.
É a cidade sem pecado.
Onde tem um pinico a cada esquina.
Mas lá não há esquina você pode dizer,
Mas mesmo não existindo eles deturparam
O seu significado e agora existem esquinas.
Onde existem pinicos públicos para senadores e deputados,
Também existem ventiladores caso eles queira ser mais carnavalescos!
Quem sabe?
Eles podem escolher tudo e de tudo!
Mandam em tudo, quer dizer desmandam em tudo.
O certo deles é o nosso errado!
Não há parâmetros nem paralelepípedos.
Pois palavras difíceis são difíceis,
E para eles é tudo fácil, mas não para nós.
Que pagamos pelos seus pequenos caprichos,
Se eles ao menos fizessem algo eu não os culpava.
Desculpem-me falei calunias, que audácia a minha, é claro que eles trabalham!
De fato não posso os culpar, pois eles trabalham muito bem!
Enganando-nos e botando em nossas bundas!
É verdade não podemos os culpar, eles fazem o trabalho sujo e que ninguém quer fazer:
—O triste trabalho de roubar dinheiro de um país

Cãe

Começa o sofrimento.
A agulha enterra,
Na terra do corpo,
Que agoniza e sangra
E grita calões,
Que não calam a agulha certeira,
Que golpeia a carne
Lateja!
Faíscas saem.
Dum corpo grunhindo,
De uma dor diferente,
Uma dor agradável.
O som do motor indesligável,
Produzindo uma obra de arte indiscutível.
O corpo quer chorar, mas não chora.
O corpo quer gritar então grite!
A alegria pela sua dor.
De uma alma em transe,
No som fustigante,
De repente vem o silêncio num rompante!
Uma voz agradável o tira do transe.
Um acabei foi o que ele disse.
Um amei foi o que o outro disse sorrindo!
E lá se foi emocionado.
Um homem com o coração reconstruído.
Levando em pele o nome de uma amor para sempre tido,
Um belo monossílabo:
Cãe!

La Vie En Noir

Eu adoro narrações noir.
Vida noir.
Tendo aquela esperança de não estar
Lá.
O mundo podendo desabar,
Mas o cigarro estará sempre
Lá.
Para enfumaçar o ambiente,
Para manter a calma no batente.
E você olha pela janela,
Vê um mundo que não está
Lá.
Nem como cá.
Meu mundo apenas desaba,
Quando a bebida termina.
O espelho apenas se quebra,
Quando alguém o atira,
Noir.
NO,
AR!
Mas,
NÃO,
VÁ!
Pois eu ESTAREI
LÁ!
NO,
AR!
Há te esperar a te abraçar
Noir e para depois viver,
Pelo ar:
Poluído, negro, ordinário,
Cinzento, escuro, reacionário!
Pronto para me impedir
De viver.
Pronto para me ver morrer.
Mas eu não
Estou a fim de o fazer.
Ficarei apenas esperando.
O momento certo.
O dia certo.
Pra eu erguer as minhas mãos contra você:
— Vida maldita,
Vida noir!
Vida,
NO,
AR!
Vida,
NÃO,
VÁ!

Pesadelo De Calor

Sonhei um poema,
Veja meu problema:
Beijei uma ema
No meio do cinema.
E ninguém reclamou!
Ninguém resmungou!
Do meu amor animal,
Que parecia normal.
Mas não para mim,
Eu meio tigre beijando um herbívoro assim.
Mas não desisti,
Somente prossegui,
Levei-a pra comer,
Pensei em comê-la,
Mas bem no final,
Deste encontro casual,
Lá veio o fiscal
Dizendo assim:
“Agora o predador não quer caçar,
Agora o predador quer se casar!”
Aí dei-me um grito assustado.
Acordei em um lago
De meu próprio suor.
Olhei pro relógio, quatro da manhã,
Quarenta graus no Rio, que horror!
Apenas mais um pesadelo de calor!

Bala

Duas balas são compradas no mesmo instante.
Por duas crianças de realidades distantes.
As duas servem para a diversão,
Mas não com a mesma denotação,
Uma simples palavra com ampla conotação.
Que só depende de seu estado e de sua ação.
Tudo depende dos verbos e dos versos.
De quem alveja ou de quem a almeja.
Que de resto não seja e que eu não veja,
Um pior futuro que o nosso presente
Por favor! Mente, invente, tente!
Mudar este nosso lar, pois não quero pensar
Em comer uma bala na sala de estar

Nenêm

Restam mais de doze horas para o combate. Estou aqui no frio e no conforto do meu alojamento esperando para a batalha. Sei que o desembarque às doze horas de amanhã será terrível. Muitos podem não chegar até os portões do inferno. As tropas devem chegar a tempo, mas acho que talvez a ressaca complique um pouco a trajetória dos carros anfíbios. Amanhã é o dia D. Depois de tantos rumores e distúrbios, de espionagens e contra espionagem o momento chegou, e ninguém poderá apartar esta guerra, contra as forças do Inep.
Várias ondas estudantis desembarcaram, lutaram para a sua sobrevivência, dormiram em estado de vigília, alertas e assustadas com os horrores da guerra e voltaram a lutar pela sua liberdade e pelo seu ingresso a faculdade até as seis horas do domingo. Será uma luta revolucionária, “totalmente” guerrilheira, porém sem ideologia concreta e com pouca organização; contra as forças ditatoriais das questões malditas, manipuladas pelo sultão Haddad, o Filósofo, que em seu reino da Educação engendrou um imperialismo intranacional. Formulando uma prova “anti-decoreba”, uma forma de alto promoção para talvez uma elevação de poder, quem sabe vir a se tornar um Xá. Uma forma de tentar revolucionar com o ensino brasileiro, tentado unificá-lo sem acabar com as disparidades criadas através de anos de falta de planejamento.
Sei que cometi uma infração gritante acima, porém o meu objetivo é fazer o improvável. Nunca um turco virará persa. E muito menos o contrário. Esse tal “Novo Enem” é uma digna falcatrua tupiniquim, alegando que tudo irá mudar, porém nada muda. Tá minto, mudou sim a prova: o maior número de questões, o menor tempo para fazê-las, a transdisciplinaridade da prova, a maior interpretação, maior número de textos insignificantes, maior cunho social (tentando pagar as dívidas que nunca foram quitadas antes).
Porém a prova não ficou mais ridícula até por causa da relação de pouco tempo pra muita questão, ademais, a prova nunca fora tão idiota assim, tanto é que não é todo mundo que tem bolsa de cem por cento nas melhores universidades particulares do país.
O falar que uma coisa é nova é instigar a curiosidade das pessoas, fazendo-as roubar a prova e entregá-la para um jornal; também falar que o novo é obrigatório é totalmente antidemocrático! Sendo assim, prefiro o antigo. Não sou contra mudanças, mas não gosto de mudanças que não mudem nada. As pessoas querem mudar a educação por cima, queria entender este ato pedagógico, talvez isso deva ser de uma nova escola de pedagogia, criando uma mudança demagógica. Nunca vi isso, construir um arranha-céu em cima de uma laje de barraco. Mas fazer o que, mudar a educação assim pode dar voto se der certo, se colar. A política certa não da voto, demora muito, não é imediatista como o nosso mundo moderno.
É horrível sentir que eu estou indo para um campo de extermínio. Ou para um Vietnã. Amanhã será o: ou dá ou desce. Mas se todos descermos, não iremos para o inferno mal acompanhados, levaremos conosco todos os demônios santos ou santos demônios da nossa louvável nação. E lá faremos a nossa justiça pelas nossas próprias mãos.

Tirano Liberal

Tirano liberal
Te amo no carnaval
Um maldito regional
Que tramou no canavial
Apenas outro bacanal
Um tango lateral
Leitura labial
Soutien no varal
Um arraiál a esmo
Para sair do mesmo
E pra cantar bebendo
E pra dançar chovendo
Correndo pego
Te pego e não solto
Pois pra mim amor não é como voto
Pois se escolheu é pra ir até o fim
Pra um lugar sem fim
Onde não se precise de rins
E que haja a fugacidade irreal
Pois lá, baby, eu me tornarei
O Tirano liberal!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Estrépito Sossego Desordenado

O caos gera um silêncio mórbido na cidade
Que aflige meus ouvidos que doem de tanto silêncio
Ao ouvirem o rancor que trás o funesto vento
Da calmaria no olho do furação
Que será qualquer hora interrompida
Por uma rascante bala de tufão
Prateada, compenetrante,
Procurando aflita uma vítima
Um dia de caos, uma semana, um ano
Quem sabe sempre?
Nunca estivemos tão próximos de uma guerra civil
Nunca estiveram tão próximo Ruanda, Angola, Iraque e Brasil!
Quando eu enfim escutar o estardalhaço,
Voltarei a me sentir na mão do palhaço.

Orgia Musical

Então eu peguei a Augusta e meti o pau nela. E ela gritou. Gritou, gritou, gritou até não poder mais gritar. Estava endiabrado fui com força, penetrando a sua pele com audácias e sem compaixão. Ela gritava e gritava. Havia uma atmosfera densa no quarto, um misto de essências aromáticas fortes. Aquilo me deixava ainda mais voluptuoso. Fui batendo também na Clara, na Ana, na Lúcia fui metendo o pau nelas com força. Eu estava fora de mim, só metendo, e metendo. Não me entendia, nem entendia o comportamento delas. Elas gemiam e gritavam, resfolegavam e de novo chafurdavam naquele nosso chiqueiro do amor. Até que estava saindo um som muito bom. Bem ritmado, era uma foda rock meio jazz com influências de samba. Era um arranjo divino de barulhos de e de porradas.
No final fiquei meio cansado, porém aquecido, saiba que dar conta de quatro ao mesmo tempo é complicado. Parei um pouco com elas para elas descasarem. Olhei para perto da parede avistei a Aline lá, parada, olhando, mordendo os lábios, com as mãos entre as pernas, tentando se conter. Meti a mão nela, bem lá no fundo. E ela foi tremendo, e gemendo contra a parede. Sons agudos, sons médios, sons graves. Pequei-a no chão, fiquei por cima. Todo aquele vai e vem da minha mão dentro do seu corpo, todo aquele movimento dos nossos corpos fazendo o chão vibrar, incomodando o vizinho de baixo. E ela foi agüentando e eu fui mais me aprofundando na nossa música visceral. Foi como um tango bem orquestrado, meio papai e mamãe, meio de lado. Uma coisa meio pura, simples e suja tal como um amor louco de dois animais. Naquele momento o quarto devia estar perto dos cinqüenta graus, o ventilador não mais dava conta. As paredes pareciam estar avermelhadas, pulsantes. Eu estava lá: como um demônio gordo e vermelho envolto por uma nuvem de perfumes e de incensos. Aquele cheiro de sexo, suor e rock and roll no ar.
Deixei-a descansar um pouco. Estava tão cansada a coitada de tanto eu tocar nela com força. Fui para a cama, fui de encontro a Anita e comecei a chupá-la. Tentei ser bem suave no início tentei ser delicado, mas não consegui. A minha barba roçando em tua pele, a minha boca em teus lábios e a minha língua em teus buracos. E lá fui eu no meu blues me lamentando pra ela e ela se abrindo para mim. Comecei e pegá-la de jeito. O show só estava começando e os teus gemidos que eram baixos e fracos começaram a se transformar em lindos gritos agudos de paixão e de prazer. Fui chegando ao teu ponto minha língua lá dentro fazendo todo o trabalho. Enlouquecendo-a. Baby que loucura você me dizia e quanto mais me dizia mais eu ia lá dentro lhe tirando os sons mais belos e mais tênues.
Quando acabei o meu ensaio estava eu rodeado pelas minhas seis belas amantes, minhas lindas mênades. Augusta, Clara, Ana, Lúcia, Aline e Anita. Minhas belas mulheres, minhas seis deusas do amor, do som e da poesia. Vi-me em uma poça de suor e de alegria, sai do quarto, fui ao banheiro, tomei um banho. Me recompus, adentrei o quarto e fui arrumar a bateria, guardar os pratos, colocar o cajon no lugar e botar a gaita na caixinha. Guardei as minhas damas para uma próxima sessão de amor e música.

A Táque-la Se Tu Pudertes

Até quando você vai permitir tudo isso? Até quando você vai os deixar passar a vaselina na sua bunda para você não gritar?
Grita! Grite! Gritemos! Gritais! Gritem!
Hoje você tem todo o direito de se queixar contra este sistema. Eles hão de explicar tudo muito bem, nos mínimos detalhes, pois conseguir enganar as pessoas dizendo:
—“O Apagão do dia 10 de novembro aconteceu porque um raio, causado por uma grande chuva perto da Foz do Iguaçu, caiu na subestação de distribuição de energia danificando as vias de transmissão e causando o desligamento das vinte turbinas de Itaipu. Houve também uma falha no problema auxiliar, pois logo depois da queda dos dezesseis mil megawatts de Itaipu deveriam ter entrado em funcionamento as Usinas termelétricas para segurar a baixa da energia, pois as vias de transmissão são interligadas e tal...”. E a seqüência continua bem circular redundante em cima do raio que provocou o “mega curto”; mas eles nunca vão conseguir me enganar com estes discursos maniqueístas e manipuladores.
O Rio quase que foi tomado pelo caos. O Apagão geral mostrou a ineficiência do nosso sistema de transmissão de energia. Poderia também ter havido uma crise de abastecimento de água no Rio, pois as bombas da Cedae não podem limpar/purificar a água desligadas. Os arrastões já estavam começando, a oportunidade para a barbárie e o vandalismo das camadas populares, seria instituído o poder paralelo. Tudo isso seria causado pela fome que se alastraria até a Queda da Bastilha.
A bosta que fora há muito para o ventilador está começando a respingar e nem adianta se proteger com os guardas-chuva, pois quando nós os fecharmos estes vão feder, feder muito. O melhor jeito é encarar de cara a merda ácida que voará contra nós. E se nós pudermos, jogaríamos as nossas bostas endurecidas para quebrar o ventilador!

A Geopolítica Da Maxwell

Há de se convir que existe uma difícil situação na classificação da Rua Maxwell. Há uma grande disparidade na conjectura urbano social desta região. Pois brigam por seu interesse fortes bairros que se situam ao longo de sua grande extensão geográfica. Os bairros que a disputam são: o grande bairro do Andaraí, o forte bairro do Grajaú, o oligopólio da Tijuca e o decadente bairro da boêmia carioca, assim também chamado de Vila Isabel. Esses bairros há anos tentam impor suas regionalidades nesta grande rua que esta dentro dos limites de cada um destes bairros. Até hoje não se sabe ao certo a qual bairro faz parte a Rua Maxwell, mas uma coisa eu digo: um dia esta minoria irá se mobilizar e emancipar-se-á do domínio e da opressão desses grandes bairros e soerguerá como o grandioso bairro Maxwell!

De Volta Ao Muro Em Vinte Anos

Parabéns mundo! Vinte anos sem o Muro de Berlim! Dezoito sem a ameaça vermelha! Há vinte anos atrás começava a desmoronar o mundo bipolar. A Guerra Fria escancarada acabou. Noventa e um foi apenas a reorganização desta guerra, entramos numa guerra intrabloco, multipolar, transterritorial, de disputa de mercado e do mundo.
A coisa mais bela é ver as homenagens, os textos, os documentários, as palestras, as falas de gente importante que aparecem nos canais dos televisivos ou pelos radiofônicos ou pela imprensa gráfica. É lindo, rever as cenas daquela alegre noite chuvosa de nove de novembro de oitenta e nove, lá pelas às onze horas o Berliner Mauer foi abaixo.
Aqueles rostos chorosos de pessoas alegres bebendo e pensando no seu futuro num mundo sem ameaças, numa Berlim mais justa e igual! Famílias se reencontrando, amores se achando, risos, choros, a alegria encobria a merda que viria. A triste ressaca que já dura vinte anos e que parecer não ter fim.
E o último jornal da noite faz aquela reportagem bonita, comovente mesmo sabe? Entrevista o casal que foi entrevistado há vinte anos atrás, para saber como a vida deles mudou. De fato a vida deles melhorou bastante, isso é uma verdade, mas é muito piegas dizer: “que eles ainda não sofrem e achar que só porque é na Europa que as pessoas tem finais felizes”. A tristeza atinge tanto o primeiro mundo quanto o terceiro. O casal nunca mais retornou a Berlim mora em outro país vivendo como o nosso povo: marcado e feliz.
Que lindo!
Depois mostrou a reportagem dos muros. O Muro fronteiriço Estados Unidos-México, que não deixa escapar os chicanos das fábricas maquiladoras, daquele escravismo implementado pelo norte americano em cima do mesoamericanos pré-colombianos que tentam ir para a terra dos livres e para o lar dos bravos. Do muro da Cisjordânia feita por Israel, para os judeus defenderem a terra que é deles por direito, a terra da qual eles fugiram no século I d.C.; para se defenderem dos árabes palestinos que a ocuparam desde que os judeus fizeram a sua fuga do Império Romano, a famosa Diáspora. O muro que está sendo criado pela Arábia Saudita para não haver nenhum combate entre eles e o Iraque, para que grupos islamitas da Arábia entrem no Iraque e que se unam com os outros grupos para tentar derrotar as tropas da coligação multinacional. Sendo que esse não é o primeiro país que faz isso com o Iraque, o Kuwait já havia feito o seu muro de segregação na década de noventa. A Linha de Demarcação Militar que separa as duas Coréias existe desde o final da Guerra da Coréia em cinqüenta e três, como forma de conter o avanço comunista, para o país não ficar todo vermelho. Fora estes Muros da Vergonha existem ainda outros muros desses que servem para dificultar a passagem de pessoas em Ceuta, Melilla e no Marrocos. Fora realmente uma matéria triste, realmente me tocou... Como o mundo é injusto! Mas eu realmente fiquei com uma dúvida: por um acaso o Muro do Dona Marta já caiu?
Acho que não. Nós ficamos olhando pro nariz do outros e esquecemos dos nossos umbigos. E porque ele não foi lembrado pela matéria do noticiário? Talvez porque ele é o único, dentre estes muros, que não é um Muro da Vergonha (um muro criado com intuito de impedir a passagem de pessoas de outra região, migração, por causa de questões: ideológicas, políticas, econômicas, etc.). O muro do Dona Marta, na favela Santa Marta é um muro que separa pessoas de floresta, da tal “mata virgem” e que deve ser preservada. Que ao meu ver já tem mais de quinhentos anos que já perdeu o selinho. Mas você é contra o muro do Dona Marta? Eu também não disse que sou a favor. Entenda que todo e qualquer muro é feito para segregar, excluir e renegar. Impor um muro para uma comunidade não avançar mais é para mim um ato nefasto e terrível, devia ter sido tomada outra forma de preservação. Talvez conscientizando a população ou fazendo um desses assistencialismos baratos que são feitos todos os dias; mas há também de se preservar esta meia dúzia de árvores, que é apenas uma desculpa barata para conter a proliferação das favelas, um jeito estapafúrdio de segregação, criando uma cerca entorno das favelas, meio que como um burgo, um ato medieval como disse Saramago. Para mim não deveria existir aquele muro, como não deveriam existir favelas e como sempre tudo no Brasil é erro de base.

Minha Mais-Valia

Nós filósofos sofremos uma mais-valia intelectual, pois pensamos muito e ganhamos muito pouco pelo que produzimos na existência, ganhamos poucas mulheres! Eu pessoalmente não me incomodo muito em não ganhar muito dinheiro. Eu só quero ter ou receber o dinheiro necessário para eu poder pensar livremente, expressando a minha arte. Mas, o que eu quero mesmo é mulher!
Nascemos de uma mulher, vivemos para uma mulher, queremos uma mulher, morremos por uma mulher, e voltamos para uma mulher no final da vida. Não tem jeito às mulheres sempre estarão em nossos caminhos. Quantos poemas já foram feitos a uma dama, e quantos já morreram por uma puta.
Vendo por esse aspecto altamente positivo, a maior inutilidade é a vida eterna. Tudo bem ao longo da sua cruzada existencial pelo mundo você irá conhecer várias mulheres diferentes, com gostos diferentes, personalidade diferentes, mas você nunca irá conhecer a Mãe Terra, a mulher das mulheres, a grande Gaia.
Ao longo da minha vida conheci e ainda conhecerei centenas de mulheres. E qual seria o problema deu socializar com elas um pouco do meu pensamento, um pouco da minha ciência intrapessoal, de autoconhecimento mútuo da criatura visando à grandiosidade divina da criadora? Não vejo problemas nisso. Vejo problema na minha condição de ser explorado intelectualmente pelo acaso, pela existência e não receber nada em troca, não estou pedindo um salário formal, talvez casual (até porque casual é mais gostoso), ou até mesmo um escambo para parar com a mais-valia. To aceitando qualquer coisa, porque eu estou cansado de ficar na mão... .
Mas com o meu “pagamento” eu entraria num paradoxo de parar de produzir por causa da(s) mulher(es) e produzir mais por causa da mulher. Outra coisa é saber quem me explora. Seria o acaso, a existência, a vida ou o sistema?
Analisemos primeiramente que a existência, a vida e o acaso estão interligados por essa ordem de grandeza. Porque a existência criou a minha vida, a qual existe — “Penso logo existo”, como já dizia Descartes — e a vida criou o acaso, o belo e lindo caso de casos que acontecem aparentemente do nada, assim como o livre e belo pensamento, que ratifica o meu existir e emana a minha vida. Mas se neste caso eu tivesse sendo explorado por algum desses três, logo os três, eu estaria sofrendo uma tripla mais-valia, estariam lucrando cada vez mais e eu recebendo basicamente nada. Coisa que de fato esta acontecendo, mas prefiro avaliar o outro antes de dar o meu parecer final.
Se for o sistema, faria também muito sentido, pois ele me é uma fonte de crítica muito grande. Toda hora aparece algo a minha frente que parece estar bem encaixado, mas se olhares mais a fundo tu irás perceber que aquilo só esta coberto por um pano grosso para esconder o defeito. Mas se eu tivesse de depender do sistema para ter mulheres eu realmente iria estar ferrado, acho que nunca conseguiria, talvez conseguisse se eu parasse de depreciá-lo e começasse a enaltecê-lo, aí sim eu teria as minhas robôs recém saídas da linha de montagem.
Esta difícil de saber quem é pior: a burocracia estatal com bonecas pré-fabricadas ou a minha sorte do acaso. Prefiro deixar os grandes cães brigando a cerca do lucro que vão ter sobre os meus pensamentos, sobre a minha arte. Pois o que me importa mesmo é saber quando há de chegar o meu salário, pagamento mensal, anual, casual. Isso é o que me importa.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Et Heat Calore Wärme Caloris Do Calor Quente Calor!

O que fazer?
Calor!
O que comer?
Suportar esta dor!
O que beber?
Algo sem calor!
O que entender?
Algo que tire o amargor!
O que estender?
Entender o calor!
O que procurar?
Uma rede pra espantar a dor!
O que fazer?
Achar um congelador!
Que me livre logo deste calor,
Pois não estou agüentando essa dor!
Tomarei um banho para aliviar,
Mas se isto não me aliviar,
Terei de ir pro pólo Norte!
Para um urso eu abraçar,
E para eu me congelar!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

XXI Vampir

Chega! Chega de vampirismo! Já estou por aqui com esse revival pós-moderno de vampirismo light. Light, porque é sem sangue e não tem putaria. E todo vampiro que se preze bebe sangue e come donzelas!
Esses contos “lunares”, “crepusculares” de vampiros que andam no sol, já sendo isso um absurdo, eles brilham feito diamantes ao sol. Também sofrem de dramas existenciais e crises de identidades típicos dos dezesseis mesmo tendo mais de 200 anos de existência sinistra e cadavérica. Que não querem morder o pescoço da sua donzela, com medo de perder a virgindade, de cair nos pecados da carne. Além deles não caírem com a boca nos pescoços alheios eles não tem nomes dignos de vampiros. Eu não confiaria num Edward, você confiaria?
Pra mim vampiros tem de ter nomes difíceis e enrolados, que só de falar já dão medo, nomes com influências diretas do francês, do russo e quisá do romeno! Eu citaria exemplos, pensei até em criar nomes vampírico, mas não há exemplo melhor do que o mais famoso deles o Vlad III, o Empalador. Sei lá, o cara é medieval ou até pode ser da década de 1920, mas que este tenha um pseudônimo ou uma alcunha medieval!
Ultimamente os morceguinhos estão sendo ridicularizados em praça pública. Pois as pessoas tentam humanizar de uma forma banal e um tanto americanizada uma criatura que tem origens feudais, se é que não bíblicas! Querem humanizar os verdadeiros libertinos. Essas coisas não deveriam acontecer.
Afinal, o que é um vampiro? Pra mim o vampiro é um paradigma medieval, ou até mesmo bíblico, que serviu durante a Idade Média para conter os cidadãos através do medo do inexplicável e parar dizer que só a religião e a fé poderiam responder certas coisas. Para mim, esta foi uma das ferramentas para manter os cordeiros dentro do cerco, talvez não a mais expressiva, até porque algumas milotogias já falavam sobre isso. Ou então o vampiro foi pego de alguma mitologia européia, posto como um modal pela Igreja para instruir o medo nas pessoas e explorado pelos literários em meados do século XVII até então. Transformando-o em um forte paradigma que desperta tentação e repulsão, o transformando no amante imortal transtornado, mas que não perde a pose e que não foge de uma boa briga e de uma boa conquista e que ama sangue!
E se acontecem é porque um bando de menininhas vêem nestes vampiros idealizados a fugacidade de seus mundos sem sentimentos e sem romantismo. Bando de otários cheios de clichês mela cuecas e desajustados. Há de se convir que isso realmente sempre possa ter acontecido, mas só que não como agora. As pessoas desconstruiram o vampiro e tem a audácia de dizer que aquilo é um imortal bebedor de sangue. Admito que não li, mas vi o filme, e do muito que vi não gostei nem um pouco. Talvez sejam preconceitos preconcebidos, mas certas coisas eu não posso mudar (como o caso deu não gostar de Paulo Coelho), não é que eu não aceite mudanças, gosto de mudar, mas certas coisas eu não mudo, prefiro viver no senso comum destas beiradas da sociedade. Retomando, o mundo é frio, cruel, e os vampiros são maus.
As pessoas sempre fazem isso com os grandes malditos, os tornando bons selvagens, bons cristãos, cavaleiros medievais e românticos idealizados. É uma total asneira da sociedade tentar entender com os olhos de hoje o passado, quer dizer, com os olhos mal instruídos um passado já concebido e complicado. Não adianta idealizar os malditos, nem os tornarem membros do AA, muito menos da bíblia, ou capitalizá-los. Piratas, cavaleiros medievais, libertinos, celtas, vikings, romanos, espartanos, ninjas, samurais, maias, zulus, maoris, etc... Todos têm seus altos e baixos, se eles eram ruins eles tinham suas razões, ou se eram bons também tinham tais razões. Não se pode olhar o passado com olho do futuro, você tem que os compreender dentro de suas respectivas épocas e sociedades, para poder entender os hoje ditos “malditos” e também “heróis” . Tentam “humanizar” estes que nem que fazem com os vampiros. Essa dita “humanização” desumana, indecente, imoral, anacrônico só mostra o lado mais fraco do ser humano: o de não querer aceitar as coisas como elas são!

Ego!

Uma vida boa para mim é: poder ir ao Taj Mahal, poder ser a sua irmã (se você quiser, se você estiver precisando de um amante), poder ser um factótum, poder ser um anjo da gula. Tentar ser um filósofo pitagórico, tentar ser um historiador marxista, tentar ser um jornalista impessoal e extrovertido. É poder todos os dias escolher que personagem ser que papel tomar no teatro da vida. É poder escolher o uísque e a água, ou os dois, juntos, porque não? Uma vida boa nunca é vaga, é sempre cheia, cheia de coisas, mulheres, poesias, músicas, cervejas! Ter uma vida boa é difícil, tentar tê-la não é impossível. Não quero que este texto lhe faça refletir, pois este texto já é um reflexo de uma alma gorda. Ser gordo é mais que viver comendo ou comer vivendo, mas sim tentar ser bom em tudo, ou pelo menos tentar fazer tudo! Ter uma alma de gordo é saber apreciar a vida de uma ótica mais redonda, onde tudo volta para tudo, pois tudo é composto por tudo e tudo tem tudo. Ter a alma gorda é tudo, é tentar tudo, saber tudo. Depois de muito tempo eu consegui achar a palavra que faltava para explicar o que é ser gordo, a palavra explica tudo — pelo menos para mim.
— Ser gordo é ser um factótum!

Cerveja, Política E Furacão

Já era... Nosso lindo paraíso continental cheio de diversidades culturais está cada vez mais indo mais para o brejo ou para o fundo do poço ou as duas coisas juntas. Sempre tivemos os políticos, os espertinhos, os franceses, os americanos, os portugueses, os defensores públicos, os garçons, os gigolôs e por fim os empresários sempre nos roubando. Estamos bem cascudos contra as artimanhas desses filhos das santas, mas acho que ainda não estamos preparados para a revolta da natureza.
Cuja tal vem nos atochando com uns certos furacões, tremores, quisá uns tsunames, aqui e acolá. Nós somos marrentos mesmo, mas acho que não deveríamos sofrer destas coisas da natureza. Tudo bem! Temos culpa no cartório sim, nós poluímos muito, desmatamos, sujamos nossos mares com óleos negros e com lixos, roubamos faunas, acabamos com praias virgens transformando-as em dignos bordéis de nenhuma estrela. Não fazemos por onde, nossas ações benéficas, filantrópicas, são muito pequenas em relação ao que já destruímos de nossa natureza, desde nosso início e o que se intensificou nos últimos anos.
Não somos os únicos que acabam com a natureza, os outros também o fazem, em maiores proporções, e pagam com diversas vidas por isso. Mas cá entre nós, já sofremos muito com os corruptos e corruptores brasilienses, esses seres já deturpam muito a nossa existência e ter que sofre desses “atentados” naturais já seria demais para nós. Até porque somos muito cascudos, quando chegam esses desastres ficamos mais moles que clara de ovo.
O outro presságio do apocalipse que chegou aos meus ouvidos recentemente é que a cerveja vai piorar também. Os oráculos me falaram de coisas que me deixam muito triste. Que a Ambev irá lançar mais cervejas de alto consumo, cervejas de massa, ou então cervejas populares. Na verdade eles estão fazendo uma cerveja mais ao gosto do consumidor, eles conseguiram abrasileirar a já abrasileirada cerveja brasileira de alto consumo. Não posso chamá-las de merda, pois ainda as consumo, ainda não tenho dinheiro para me embebedar de Chimay Grande Reserve, mas posso chamá-las de “quase-cervejas”, pra mim é esse tipo de vetor social que faz abaixar o nosso IDH!
Porque quase sempre as coisas vêm em três, quase sempre as coisas ruins vêm em três (queria eu três pares de boas pernas na minha cama). Políticos sem papas na língua, a natureza com raiva e “quase cervejas”. Se esse for o nosso futuro, ainda prefiro votar no cyberpunk comportado e rotineiro de deflagrações multinacionais, atmosfera poluída e cerveja padronizada.

Barrado Pro Bastardos

— Duas meias pro Bastardos Inglórios! — Disse eu a moça da bilheteria do cinema, com uma voz firme e forte.
— Carteirinha, por favor. — Pediu a moça, sem braço, da bilheteria.
Junto ao documento entreguei o dinheiro também. A moça olhou, olhou, sussurrou alguns números — noventa e um, vinte e cinco, dez — por um acaso eram os números da minha chegada ao mundo. Ela fez contas, elocubrou e por fim disse:
— Senhor, você não tem idade para ver esse filme!
— Porra, mas eu faço dezoito só daqui a duas semanas! E até lá o filme vai estar com certeza fora de cartaz. — Puto estava eu, mas me controlei. O melhor foi a cara de desprezo dela, tipo um: “foda-se” como e “eu com isso”. Além de não ter um braço ela não devia ter coração, ou talvez tenha um coração tão diminuído, reprimido e ofendido por anos de xingamentos e preconceitos. O legal é que todos esses anos de encruamento do coração dela vieram com aquele olhar de menosprezo e reprovação acompanhados por suas grossas sobrancelhas erguidas. Fiquei meio que rendido, a única resposta, coerente a situação, fora:
— Tudo bem... Eu posso conversar com o gerente? — Falei meio que cabisbaixo meio sem emoção, me preparando para enfrentar o chefão.
— Pode! Ele esta ali ao lado! — Apontando com a sua cabeça o gerente que estava numa das outras bilheterias. Ele devia ser mais gordo do que eu, moreno, parecia um árabe, devia estar pela casa dos cinqüenta e sete, tinha cara de certinho, dava para ver pela sua barba bem feita, pelas suas roupas bem ajeitadas. Ele estava esparramado a cadeira me encarando. Fui até outra janela de vidro, cheguei perto daquele fone escroto para me pronunciar com o sujeito:
— Boa noite! — Disse eu, ele respondeu acenando com a cabeça. — O caso é o seguinte: eu queria ver Bastardos Inglórios. Só que eu só faço dezoito daqui a duas semanas... — Tentei fazer uma cara de desespero, mas pela resposta dele acho que não deu certo.
— Só com dezoito completos! — Disse o árabe.
— Mas eu estou no mês do meu aniversario! Só faltam duas semanas! E com certeza até lá o filme já vai estar fora de cartaz...
— Só com dezoito completos! — Disse o sarraceno me cortando a fala.
— Porra, que coisa escrota! — Falei meio puto.
— Regras são regras! — Dirigiu-me o gerente com o tom forte, tentando-me por de volta aos eixos.
— Tá bom, mas eu poderia lhe mostrar outra visão, para você me deixar ver o filme?
— Claro! Vamos lá, me convença! — Me mostrando um sorriso cheio de maldade, lançando-me um olhar de reprovação.
— Bem, começo eu dizendo que entendo a razão pro filme ser dezoito anos, talvez seja pelo exagero de violência e sangue usado com maestria pelo Tarantino, coisa que já lhe é comum em muito de seus outros filmes. Mas não consigo achar isso tão pior do que os tiros que ouvimos todos os dias dos morros e das favelas. Então, a meu ver, acho que a cidade do Rio de Janeiro, assim como as outras grandes cidades com alto nível de violência e criminalidade, deveriam ser inadequadas a menores de dezoito anos? Pois nós já vivemos o que vemos nas ficções através das películas trazidas pelos cinemas, DVDs e internet. Ou então deveríamos censurar os meios de propaganda e informação que vinculam a violência a nós? O que tu achas pior a nossa realidade violenta ou uma ficção violenta? Acho que pra você deva ser a ficção, pois a realidade é incensurável. Também entendo que regras são regras, mas às vezes até um juiz concede a não acusação a alguns em detrimento da sua boa defesa. Regras existem para nos auto-regularmos, só que a flexibilidade dos regulamentos também deixa os cidadãos felizes, pois se todas as regras fossem seguidas à risca ninguém poderia ser feliz pelo menos uma vez na vida. Alguma vez em sua vida você não fora barrado? Essa é a segunda vez que o meu acesso à cultura me é impedido por causa de não ser apropriado a minha idade. A primeira vez foi no show do Motorhead, e segunda foi, ou será agora, não podendo ver o filme de um diretor o qual eu gosto muito. É uma situação chata, pois o acesso à cultura nesse país já é para poucos, pois é cara e de difícil acesso. E agora tu queres me limitar deste acesso, há duas semanas deu atingir a maioridade, mesmo sabendo que vivenciamos coisas piores, e que nada vai mudar em mim daqui a duas semanas! E que este filme não irá mostrar nada que me deixe abalado por nunca ter visto ou que eu já não tenha visto coisas iguais; e mesmo sabendo da flexibilidade que um juiz concede a um indivíduo que fora erroneamente culpado. E agora tu, meu atual juiz desta corte, que veredicto tu pretendes me dar?
Um tanto surpreso, chocado, o mouro assim disse:
— Quatorze reais! — Eu lhe entreguei o meu dinheiro, ele me entregou os ingressos, lhe dei um “boa noite e muito obrigado” e fui me embora indo ligar a minha amiga.
Sei o que você deve estar pensando, esse gordo é o cara, ou nossa como ele conseguiu falar tanta asneira em tão pouco tempo, pois bem para sua alegria ou infelicidade isso não aconteceu. Pelo menos toda essa dialogação socrática que gastou de toda a minha retórica não aconteceu. A minha história acabou falando com gerente e vendo que não daria em nada gastar todo o meu latim com ele. Com isso fui à livraria e entreguei o meu dinheiro cultural à outra cultura. E segui numa sexta feira chuvosa até o bar a fim de beber eu, a minha amiga e o Bukowski. Ela me sacaneou, riu de mim, eu a mandei para aquele lugar inúmeras vezes. A cerveja foi boa, a companhia dela idem, dada a hora dela, ela partiu a casa dela, e eu a minha com a minha cultura em mãos.
Minha noite terminou com eu defecando e discutindo com o Bukowski, não estava mais tão nervoso, não estava mais tão puto da vida. Olhei pelo lado bom, pelo menos falta pouco e como todo bom carioca eu dei a volta por cima.

PF Da Nação

Primeiramente é necessária, do leitor, a perfeita compreensão do termo PF. Se você não é freqüentador desse círculo boêmio acho complicado da parte de vossa eminência entender o que é este clássico temo usado mundialmente por bares e pé sujos da vida.
O termo PF é uma sigla que tem origem da antiga sigla latina CF (catillus factum), que em posteriori sofreu inúmeras derivações do italiano ao espanhol passando pelo inglês até chegar ao português. E com esse breve intróito sobre as raízes etimológicas desta sigla podemos concluir o seu atual significado.
Esse é o tal famoso prato feito! Grande prato grande que nutre a base da nação brasileira. Composta por trabalhadores liberais da engenharia civil, os chamados peões; profissionais liberais da educação, os heróicos professores sem dinheiro e com pouco tempo para refeições; alunos nem ou pouco liberais com fortes ideais esquerdistas e com pouco de dinheiro no bolso; passando por outros trabalhadores, patrões, policiais e camelôs.
Acho que essa cultura do PF esta inclusa dentro da cultura do pé sujo. Pois duas verdades incondicionais, inalienáveis e incontestáveis são: todo pé sujo que se preza além dos pratos típicos (ovo colorido, rabada, carne assada, cachaça mineira braba sem rótulo [o vulgo etanol “engarrafado” em uma garrafa de vidro fumée], entre outros elementos de comida típica e pitoresca), tem que ter o PF do dia; a outra verdade faz menção a qualidade e a quantidade do PF. Todo o PF é bom, digamos assim, comestível, bem temperado (mesmo que seja a rabo de rato e a assas de barata) e que todo PF tem muita comida. Não se pede um PF grande, pois seria um exagero lingüístico tanto como exagero alimentar — o PF não precisa de aumentativos, pois o PF é gigante por natureza.
Digo-te, caro leitor, que sou muito freqüentador de pés sujos. Que sempre que saio a fim de beber paro em uma dessas mazelas ordinárias com o fim de me deleitar em uma bela harmonização entre a clássica cerveja de alta consumação bem gelada e o quitute típico da espelunca. Isso é claro à noite, pois no meio do expediente peço para descer o belo PF do dia, quase sempre composto por muito arroz, muito feijão, carne ou frango moderado e com escassez de batata frita (cuja qual sempre a peço com maior ênfase dentro do prato, mais sustância na batata, meus pedidos quase nunca são atendidos, mas se eu pedisse arroz ou feijão, me trariam a panela pra eu raspar), e quase sempre me desintoxico da comida me intoxicando com o mijo capitalista avermelhado.
Acho que os PFs assim como as mulheres, são as soluções para os problemas. Pois se eu fosse o presidente deste país eu conferiria a todo cidadão o meu bolsão assistencialista chamado: Bolsa PF, assim o pobre comeria com gosto e o rico não roubaria por nojo! Pena que tudo na vida tem que ser relativizado, porque há de se descobri donde está o nojo burguês, se em um prato de escargot a cem reais ou num prato feito a base de arroz, feijão, bife e batata frita de oito reais? Talvez se o preço fosse invertido o burguês comesse o PF e o pobre continuaria comendo escargot, que na terra dele ele chama de caramujo e que lá é só catar do chão e comer... Quem tem fome tem pressa e também não tem nojo!

Dezesseis

Mais uma vez fomos tocados pelo nosso espírito festivo. Com a grande notícia do ano, que o Rio vai sediar as Olimpíadas em dois mil e dezesseis. Nossa foi realmente uma festa linda, Lulu Santos, Revelação e a bateria do Salgueiro, em plena praia de Copacabana. Sensacional, milhões de pessoas naquela quente e suja areia, festejando se embriagando e se esfregando com desconhecidos e conhecidos ao som do pagodão.
É incrível como as pessoas não perceberam que a vaselina foi posta paulatinamente para que o famoso Dezesseis toneladas entrasse apertadinho, mas confortável, para não haver reclamações alheias. Até porque o Quatorze já estava dentro dos bundões alheios cariocas e agora brasilenses.
Acho lindo essa visão romântica das coisas. Se o romantismo carioca fosse funcional, a gente já tinha barrado os nossos brothers of USA, e até mesmo os nossos fellows of Europe. Pena que esse gênero se acabou junto com o nosso saudosíssimo Brasil Império, junto de nossas esperanças de um novo Brasil; as quais já deviam estar a tempo enterradas em algum cemitério de nossa Confederação com os dizeres na lápide:
— “Aqui jazem as esperanças de um país tropical.”.
Não paro por aí! E digo mais: que se eu acreditasse no meu país eu ficaria muito feliz, assim como estão todos os meus concidadãos. Estaria vibrante, bobo, eufórico e satisfeito. Como eu gostaria de estar assim, mas não posso me deixar a mercê desta onda de festividades inconseqüentes e incandescentes, cujas quais me deixariam em uma grande galera sem velas com uma galera embobalhada, Deixando se levar pelo negro oceano da mídia manipulada. Por Netuno! Que chegue rápido o dia da ressaca destes pobres marujos, que eles se lembrem que a propriedade privada deles já não é mais deles, que o Estado já as coletou; que eles acordem deste sonho utópico de um Brasil cheio de verdadeiros deuses globais do esporte. Essa acrópole tupiniquim nunca sairá do papel. Os investimentos só saíram de um bolso para outros bolsos.
Mas o que adianta gritar essas coisas aos ventos até ficar rouco se ninguém vai me escutar. O lance mesmo é curtir o pagode e já botar a minha vaselina, pois quando entrar vai doer muito e muitos vão chorar.

As Rainhas Que Não Me Deram...

Sábado, luz baixa, mesa de forro verde, cinco caras, cinqüenta e duas cartas, uísque. O crupiê já havia dado as cartas, e também já havia aberto as cinco na mesa pros cinco da mesa. Estavam presentes à mesa: uma rainha de ouros, um sete de copas, um rei de espadas, um singelo sete de ouros e o bendito dois de paus. O jogo não estava muito bom. Dava parar ver pela cara desesperada dos meus adversários, mas para mim, estava ótimo, estava eu com duas rainhas na mão! A Rainha de Copas e a Rainha de Espadas. Raramente tenho a oportunidade de ter duas em minhas mãos, e com a terceira na mesa, piscando para mim. Estava ótimo faria um ménage à quatre na cama do chateou da Rainha do meu Coração. Empanturrar-me-ia naquele banquete real.
Há quanto tempo que eu não fazia uma trinca de Rainhas tão bonita com dois setes de penetras, estava alucinado por trás da minha máscara infalível de cachorro louco. Estava numa boa posição (bem por cima das rainhas), com uma boa condição monetária, na mesa e no banco; estava com uma ótima mão, estava excitado, não parava de dedar as minhas Rainhas. Fui com tudo até o final. Eliminei todos os quatros, só um teve a ousadia e a coragem de querer tirar a minha posição Real e Divina. O trono é meu! E só Deus pode me tirar! Sentia-me um Absolutista francês, todo prosa. E no final quando as cartas foram reveladas, senti minha cabeça ser degolada. Maldito seja ele, Danton! Robespierre! A Revolução eclodira a minha frente, aquele bastardo os outros dois setes que faltavam, o de espadas e o de paus.
Perdi tudo, reconheço isso. Fui deposto a força do meu trono, merde alors! A casa caiu de vez. E como Noel previu, realmente ouve barulho no chateou. Quando sai da mesa, a caminho do banheiro percebi porque eu perdi. Porque a Rainha de Copas me lembrou da última mulher que eu tive, da Alegria que eu tive, e a Rainha de Espadas me lembrou da espada que ela cravou no meu coração após me deixar. Uma ferida ainda aberta... Chegando ao banheiro, mijei, joguei uma água na cara, lavei as mãos, depois fui ao bar, bebi um uísque, e resolvi: ia ao samba, fui ver se acho uma outra Rainha que me desse... Sorte.

Rimas A Maranhense

Não me fales que só faz isto comigo, baby,
De grafia a aliteração
Tu bem sabes que adoro uma bela rima, baby,
E que amo uma insinuação
Se persistires em falar direito comigo
Eis que vou me apaixonar
Por tuas palavras eu bem já meu fui
Por teus verbos bem já estou
E por teus lábios...
Cá estou a lhe esperar
No corredor, no seu platô, com meu amor.

Arte À Preço Agregado

Há certas coisas que me deixam um tanto enjoado. Também quem mandou ser voyeur? Quem mandou se preocupar com os outros? Quem mandou você criticar a realidade?
O lance é que eu não entendo certas coisas da sociedade, como valorizar o artista por quanto ele tem no bolso. Eu não consigo compreender como as pessoas dão mais valor ao valor agregado da obra do que o próprio valor elementar da obra! E nisso a música pop sempre vai se atualizando, piorando, cheia de novos e eternos artistas que acabam ganhando mais dinheiro, os best sellers vão piorando e seus autores enriquecendo. Só que os artistas, estão pouco se lixando para os reles mortais, os quais matariam toda a humanidade por alguém que difamasse o nome do seu ídolo. De seu deus multimilionário com iates de dez mil pés, mansões de oitenta quartos, castelos na França, Ferraris, Lamborghinis, e mais todo o etc dourado e luxuoso!
Digo que é legal saber da vida dos artistas que você respeita. É legal saber o porquê da obra dele, o que o levou a escrever, ou tocar, ou pintar, ou atuar, daquela maneira tão singular e única que lhe chama a atenção e que desperta o fascínio de todos por ele. Mas avaliar a grandeza do artista pela sua conta bancária é pra mim, a coisa mais babaca e fútil que há! Até porque, partindo dessa premissa altamente capitalista, você nunca iria reconhecer grandes gênios da humanidade que muitas vezes viveram e morreram sem um puto no bolso. Até porque se tu gostas de dinheiro, de saber do dinheiro dos outros, sugiro que tu acompanhes o Ibovespa! Invista em estatais ou em grandes conglomerados, acompanhe a cotação do Dólar. Lugar de quem gosta de dinheiro é na Bolsa e não na Arte!

Aves Malditas

Tenho sofrido muito ultimamente. Acordo todo dia tranqüilo, no limite do possível, quando que subitamente sou atingido por um ataque sonoro o qual me deixa atucanado. É sempre na hora que estou eu tomando a minha bela xícara de café. Saibas tu que eu, in natura, não sou um cara muito feliz quando acorda, nunca fui e talvez nunca seja. Mas na medida do possível tento viver em harmonia até a próxima dose de cafeína. Só que isso não é possível, pois esse ciclo é sempre interrompido pelos gritos lamuriosos dos cantos dos passarinhos que são meus vizinhos, em especial do maldito Bem-Te-Vi!
Na verdade são vários desses bastardos que vem para me pentelhar. Acho que cantar perto da minha janela seja a boa, deve ser o pico deles sabes? Parabéns os passarinhos que cantam perto da minha janela, no prédio ao lado, são surfistas. Sensacional! Parece muito esdrúxulo, mas até que nem é tanto. Pense que os picos são os locais com as melhores ondas, logo o melhor local para surfar. Então vários surfistas vão aos picos esperar a sua onda na imensidão azul do mar que se encontra num perfeito paralelismo com o cósmico azul do céu. Então, partindo dessa premissa, o prédio que se situa vizinho ao qual eu moro deve ser o melhor local para se cantar, por isso que os passarinhos e os Bens-Ti-Vi esperam a sua vez para cantar, logo me infernizar.
É um porre, todo dia de manhã escutar essas pequenas formas de vida comemorando o seu viver. É bom por um lado, porque se eles ainda estão cantando quer dizer que eles ainda estão vivos, mas quando eles pararem de cantar vai significar que eles já não estão mais lá, ou seja, que a gente corre sérios riscos de vida. Seguindo analogamente, essa seria a mesma tática usada pelos mineiros, o passarinho morria pela falta de oxigênio — afinal nós vivemos em uma mina a céu aberto.
Mesmo sabendo de sua extrema necessidade e utilidade para a sobrevivência urbana, eu continuo não gostando deles porque além deles me tirarem o sono, a reflexão racional, eles me tiram a coisa essencial para a vida do homem moderno, o tédio.

sábado, 17 de outubro de 2009

Bala No Ventilador

Agora não há mais volta. A merda já esta a caminho do ventilador, a hélice deste já esta sedenta pelo dejeto. Não querer esconder o que já virou verdade, o Rio já virou guerra civil! Estamos no caminho de Ruanda com os nossos próprios Hutus e Tútsis (C.V., T.C., A.D.A., fora as novas facções dissidentes dos dissidentes T.C. e A.D.A.). Nossa guerra não é étnica, mas é de poder. Poderia virar étnica, mas não se pode fazer isso no Brasil antes de se fazer uma esterilização em massa, por essas razões a guerra pelo poder — das drogas, das armas, da vida — é mais fácil.
Não sei como eu sempre consegui dormi bem. Nunca havia eu prestado a atenção aos tiroteios, mas ontem à noite fora diferente. Estava tentando dormir a mais de uma hora, rolando de um lado e pro outro, daí vieram os tiros. Muitos tiros, de todos os calibres e formatos. Veio também aquela sensação meio que claustrofóbica de que aquilo estaria passando rente a minha janela, de que eu seria acertado e morreria como um grande alvo gordo. Entraria com forte peso para estatística. Aquela cena me tirou o sono, esperei os tiros acabarem, levantei-me bebi uma água, fui até o banheiro dei uma mijada, estava eu de pernas bambas quase que não acertei o vaso, joguei uma água a cara, me enxuguei, tomei mais um gole d’água e me pus de novo a tentar dormir. Quando estava conseguindo chegar ao país dos sonhos os tiros vieram e mataram as minhas ovelhinhas. Depois acho que voltei a me acostumar com a sinfonia metálica e cai no sono (até que o crime organizado atira com certa cadência, respeitando uma harmonia de timbres, deve haver uma boa regência por trás disso).
Quando acordei pela manha de sábado ouvi mais tiros, vi que eles haviam derrubado um helicóptero da polícia, que eles tinham queimado ônibus, que a comunidade em desespero fechou uma rua. Acordei meio chocado, meio Roméo Dallaire, parece que a tela de proteção que esteve sempre ali acabou de desabar, estava vendo a desarmonia a minha frente e as pessoas pouco se importando para ela.
Das duas umas: primeiro a violência é um comportamento tão natural do ser quanto ficar excitado (já dizia Hobbes: “o homem é o lobo do homem”), ou então a violência é uma coisa que já esta tão entranhada nosso ser que ela já caiu no senso comum. Talvez seja o misto das duas. Nós somos sádicos por natureza, rimos das desgraças dos outros, rimos de tiros e de explosões. Gostamos disso, achamos engraçado, até que o esquartejador bata a sua porta. Já banalizamos tanto a violência que ela agora nos banaliza, mostrando ser um sistema muito mais complexo e mais bem preparado do que imaginávamos.
Não deveríamos achar normal um cara matar o outro no meio da rua a queima roupa no meio de uma rua movimentada, se fosse no campo seria outra história. É normal morrer? De certo é! Tanto é que cada um só morre uma vez, é só esperar. É normal viver? De fato é! Então, essas coisas são normais, pessoas morrem toda hora, mas morrer por causa da violência não é uma coisa certa, nunca foi e nunca será. Quem ta certo o bandido ou policial? Mas quem é o policial e quem é o bandido? Depende do ponto de vista. No Brasil é tudo erro de base, a polícia só tem duzentos anos, então quer dizer que nos outros trezentos a putaria corria solta? A Falange Vermelha nasceu em plena ditadura quando os presos políticos ficaram encarcerados juntos aos presos comuns lá no Caldeirão do Diabo, na Ilha Grande, onde ambos os presos conviviam trocando conhecimentos, nisso os políticos ensinaram técnicas de guerrilha aos comuns, daí o resto é C.V. mesmo.
Hoje a bandidagem conseguiu materializar a grande metáfora das pessoas que estão na vala: eles tacaram merda no ventilador! Estamos perdidos.

sábado, 3 de outubro de 2009

Cabeça Cheia De Pensamentos Vazios

Anda nada tranqüilo; trabalha todo irritado. Trânsito, caos, farra, porre, cerveja, uísque, vodka, cachaça. Poker, Trinca, Full House, sem House. Putas, vadias, escuro... Boteco, Sinuca, Bola Oito. Rotina crônica, cavalos, bichos, ventilador de teto quebrado girando lentamente. Miles Davis, Chico Buarque, Motorhead, Buddy Guy, bateria, gaita. Mais cervejas, Brahma, Boêmia, Heineken, Duvel, Jack Daniels. Becos, Alentejo, sushis, bacalhaus, rocamboles, nhoques, pesticidas, iates, guerra eminente da América Latina, devassas ardentes. Lapa, Carioca, Largo do Machado, Ipanema, Irajá. Polícia, críticas, e mais críticas, sou criticado. Cinema, Kubrick, Coppola, Spike Lee, Billy Wilder, Oscar Peterson, Herbie Hancock, Magic Slim, Cartola, Bezerra, Tom! Mangueira, Sapucaí, Petrópolis, Berlim, Corona, Paulaner, vitrola com LP. Ensaios, Sócrates, Kant, sarcasmo, ironia, dor, amor, falta de consciência. Chapéu coco, óculos escuros, cara de mal, aparência cheia de pecados, meus demônios estão à tona — “sou um livro aberto com páginas bem viradas”. Tatuagens para se marcar e lembrar das dores do passado, das farras, barba por fazer. Cara de bunda com diarréia, olhar decadente, o cara não é valente, só se garante com a quarenta e quatro. Chuva, calor. Barca, ônibus, táxi, moto, banco, boteco, casa, trabalho, livro, CD, sem fama, viver noir, morrer noir, fama noir! Fim!
Espasmo, o braço moveu-se com toda a espontaneidade dada a uma ereção, o punho acompanhou com maestria os movimentos bruscos e suaves e a caneta cravou tudo no papel. Sem medo, sem coerência, sem, vontade, sem, te-são! Pirei por minutos, por segundos, por décadas, por séculos. Meu braço se auto elocubrou, acho que é castigo dado a quem escreve e pensa muito. As palavras estavam relapsas por causa de todo esse movimento afobado. Estavam guardadas pelo tempo dentro de uma mente desgraçada atordoada.
Se as coisas não fazem sentido, beba. Primeira dose, nada, talvez no terceiro trago haja alguma coisa. Estamos chegando lá. Talvez na décima. Essa não ocorreu. Escrever pensando bêbado ou bêbado de escrever? Assim é a arte, se a obra não fizer sentido, beba até achá-lo! Assim, a análise da arte de uma pessoa será sempre a sua arte, pintada por outra, chegamos à interpretação intrapessoal anfótera! Nessa linha de pensamento chegamos a grande questão da humanidade, a de que ninguém entende a obra como o próprio obreiro.
Chegamos ao cúmulo da velocidade, a falta da expressão. Ou será que chegamos ao cúmulo da modernidade, o fator que engloba a velocidade inexpressiva? Será o fim da dialética construtiva do passado, pois o meu presente é passado, ou seu presente é o meu futuro? Logo eu sempre viverei atemporalizado num vortex de obras paradoxais!
Se você não entendeu nada do texto escrito acima, sugiro que você veja um jornal pela televisão e tente se lembrar, após o jornal acabar, da primeira notícia dada pelo âncora. Depois releia o texto e de um grito de guerra tupi e taque o seu televisor pela janela. Defenestre o Rei!

BurreauKrátos

A ignorância burocrática de nossos meios governamentais, jurídicos, legislativos, médicos, policiais, realmente me assusta, na verdade me enjoa. Esse poder que emana dos escritórios é realmente muito intrigante, pois a burocracia é burocrata. Pois as divisões de poderes, com intuito de fazer um sistema de engrenagens verticalizado, que funcione como um relógio suíço, através da impessoalidade e a limitação de poderes de cada uma dessas engrenagens subordinadas numa sucessiva ordem de divisão de poderes e responsabilidades seria realmente um sistema bem interessante. Se antes a burocracia não emanasse de subservientes. É uma coisa perfeita para robôs que não tivessem chipes de emoções e de ganância, e que também não fossem ousados o suficiente parar tentar atirar a primeira pedra da luxúria na vidraça do caos.
Divisão de responsabilidades nunca dá certo. E isso é uma lição que as pessoas levam de casa, pois nunca dá certo com a divisão das tarefas do lar, o filho reclama, o pai se omite e a santa mãe faz todo o serviço nefasto, tudo culpa de seu sentimento maternal.
Acho que não conseguiria viver num mundo sem burocracia. Num mundo em que você vai ao banco resolver a questão da previdência e é bem atendido, vai ao cartório tirar toda a sua culpa de lá num piscar de olhos, vai ao hospital público e é bem atendido sem demora, vai a um restaurante e o garçom não demora parar lhe atender! Seria um realidade utópica, nada de filas, nada de juros, nada de caras feias, nada de problemas, mas como já disse Sócrates — “ Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
Não deveria haver mais discussões sobre burocracia, também como hipocrisia, futebol, mulher, religião, política, efeito estufa, mas também não haveria mais conversas nem provas de vestibular. Ou então deveriam dar aulas nas escolas sobres esses “assuntos polêmicos” (as aulas de filosofia que ninguém dá valor). Porque se as pessoas já estivessem mais familiarizadas com esses termos elas não se assustariam tanto pela vida e não fariam mais perguntas inconvenientes e idiotas. Coisa que também nunca irá acontecer, pois o sistema educacional é tão burocrático quanto o Congresso. Povo burro é mais fácil de governar, quer dizer ordenar, pois ele não tem discernimento para retrucar coisas além de cerveja, samba e futebol (coisa que também não fazem direito, falta um pouco de virtù da parte da população). O sistema tarda, tarda, e acaba falhando; a corda sempre rompe pro lado mais fraco; a ocasião faz o ladrão; e mesmo sabendo que macaco velho não mete a mão em cumbuca, sei que cedo ou tarde a nossa burocracia o derruba.

Versos Singelos

Eu te levo pro bar e você nem reclama
Somos apenas amigos que nunca se viram em cama
Somente duas pessoas do sexo oposto que gostam de beber
E esquecer de suas vidas
Tento te levar a bons locais
Para beber uma cerveja ou ver um filme
Mas logo que me empolgo você me corta sutilmente
Reclamando das minhas moedas que são decadentes
Sei que estou longe de ser um bom amante
O que posso fazer, sou apenas um gordo cronista
Que se mete a escrever uns blues que no final viram poemas
Um cara que vive falando da sweet little girl you ain't never had
Não sei como ainda tu me aturas
Queria saber como tu me suportas
Só quero que você saiba que eu te amo
Te amo como amigo
Pois depois de tanto tempo que te conheço
Não quero te perder por um mal entendido
Confesso também que quando lhe conheci te desejei
E como já disse não gostaria de correr o risco e perder uma amizade
Prefiro terminar como você disse pra mim dia desses:
Eu quero mesmo é me divertir.

Conte-me

Eu sou babaca,
Mas você diz que eu sou bacana.
Você diz que eu presto,
Mas eu só quero te levar pra cama.
Eu digo, escrevo, canto coisas feias para você,
Você diz que são todas lindas
E diz que sente saudades,
Mas não sente as mesmas que eu sinto por você.
Eu quero lhe ver e te comer.
Você quer me ver, por ver.
Não agüento mais tanto tormento,
Tento te esquecer mais não consigo,
Se você não me quiser, fale sério comigo.
Não quero viver de falsas esperanças e de sobrevidas.
Só não quero sofrer mais!
Não deite com outro
Pra me deixar louco e para eu te odiar.
Se tu tiveres de deitar com outro
Antes me diga que não quer me amar.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Futebol, O Ópio Do Povo!

A única coisa que Marx errou, a meu ver, foi na questão do ópio do povo. Que a religião é o ópio do povo isso é inegável, ainda mais este belo argumento da sustentação a sua tese e a sua crítica a Igreja. Mas para mim, o verdadeiro ópio do povo é o futebol, pelo menos no Brasil.
Na verdade me sinto muito ousado a discutir com um cara desses, mesmo este estando morto a mais de um século me sinto um tanto envergonhado em discutir com uma barba daquelas, quando tiver uma barba tão imponente quanto à dele vou começar a criticá-lo duramente, mas ainda não é hora nem lugar para tal.
Tudo bem, religião é ópio do povo, concordo, nunca irei discutir quanto a isso. Ainda mais vivendo num país “cristão”, que de cristão não tem nada, o povo brasileiro é cristão para inglês ver. Pois já me cansei de ver pessoas que se diziam da Bíblia, fazendo despachos e depois criticando as pessoas que fazem o mesmo. Acho muita babaquice destas pessoas que criticam e não respeitam o credo das pessoas. Ainda mais das riquíssimas religiões afro-brasileiras como o Candomblé e a Umbanda, isso é parte da nossa cultura, da nossa pluralidade cultural. E se um desses hipócritas estiver lendo esse texto, aprenda de uma vez: macumbeiro é quem toca macumba, e macumba é um reco-reco. Também não ouso discutir sobre as religiões de esquina que crescem até ocuparem um quarteirão e para onde vai esse dinheiro doado filantropicamente pelos fiéis para iates de mil pés.
Como já disse não discordo, mas acho que essa observação não poderia ter sido tomada em pleno século dezenove. A primeira associação de futebol foi em mil oitocentos e sessenta e três, na Inglaterra. O jogo se tornou olímpico na virada do século, e a primeira Copa do Mundo foi em trinta. A coisa ainda era muito nova para poder virar uma droga.
Irei apenas me restringir ao Brasil, veja que alguns clubes de futebol foram oriundos de grupos de trabalhadores de algumas fábricas, criados com ajuda do patrão, para desmobilizar a prática de idéias esquerdistas através de sindicatos. Já começa mal, já começa com a idéia de mexer com a cabeça do operário, depois fora piorado com a bela “política” de cerveja, samba e futebol, usada durante o período da Ditadura Militar, artifício para deixar a classe média menos triste. “Todos juntos vamos pra frente Brasil! Salve a seleção!”. Sensacional esse amor eloqüente de verbos mais hipócritas que o próprio milagre que acontecia no país no momento. O vulgo “Milagre Econômico”, a classe média teve mais poder de aquisição e o pobre de degradação, sem esquecer os “Anos de Chumbo” que tangenciavam também esse lindo momento Brasileiro. Mas a seleção ganhou! O Brasil é o país do futuro! E dá lhe sarrafo, cerveja, repressão e futebol nas costas do povo brasileiro.
Passamos por tudo isso, cheio de mortos e feridos, saímos traumatizados, quando tivemos a chance de votar, votamos na careca Neves, mas levamos o bigode Sarney. Ferramos-nos, fomos ainda mais roubados. Como aquele bigode deve ser sujo, por ter se empanturrado tanto tempo nas tetas da porca. Depois fomos surpreendidos pelo filho da oligarquia de Alagoas, que deveria ser filho da outra, pois este foi o ladrão metido a esperto, quis roubar o bolo todo e de todos, resultado impeachment. Depois veio o real topete Itamar, o cara que nos salvou. E mais recentemente o FHC e o Lula, que tem mantido bem os seus papéis. Eu não posso falar muito mal do FHC, pois na época eu era uma criança feliz que achava ele um tio do bem. O Lula vem seguindo “basicamente” a mesma política do FHC. Os maiores problemas de seu governo foram: a sua posse conturbada, os seus discursos, os quais eu acho que ele mesmo com a pouca instrução sabe mexer com a “platéia”, e os piores foram os escândalos de corrupção que vieram à tona ao longo de seu mandado.
Mas no final das contas o povo, nesse inteirinho de quarenta anos descritos acima, só se importou com: a perda da seleção em setenta e oito, a aquisição do tetra em noventa e quatro, graças ao Romário (que pessoalmente eu não gosto); a derrota para os franceses em noventa e oito, o penta em dois mil e dois, e a derrota em dois mil e seis. Isso deixou o país tão atormentado quanto todos esses escândalos políticos, mas as pessoas esquecem da política, do futebol não. Vide os enúmeros Campeonatos Brasileiros, Séries As, Copas Brasil, Campeonatos Cariocas, que são construídos em revanchismos quase que seculares.
Eu não quero que todos do Brasil entendam de política, acompanhem a nossa política, até porque se acompanhassem alguma medida já teria sido tomada, mas o que eu mais quero é que reduzisse esse fanatismo. Que um vascaíno e que um flamenguista pudessem se falar dignamente depois do jogo, pois parece que muitas pessoas — grande parte do país — adotaram essa maravilhosa filosofia cerveja, samba e futebol as suas vidas. A qual em parte eu não condeno. Mas digo que quando um dia as canelas começarem a doer de tanto futebol, os calcanhares de tanto sambar, e os rins de tanto beber, não me venham com desculpas que eu estava certo, nós vamos pagar o preço do cabresto, e quando vocês vierem me gritando para salvá-los eu apenas suspirarei, não.

Quero

Quero lhe ver descabelada
Saindo da cama
Feliz e satisfeita
Com seus lindos olhos mel brilhando
Como olhos de gato ao luar
Quero ouvir o seu ronronar
Quero você vestida com o meu xadrez
Sem graça, sem jeito
Sem roupa
Seu vestido no chão do quarto
Da minha casa ou da sua
Ou de um motel barato
É só você escolher
Para o manjar a ti eu conceder
Para a gente enfim se conhecer.

Ode Às Safadas

Não gosto das modelos siliconadas
Nem mesmo das moças recatadas
Gosto mesmo é das safadas
Por poder falar e ser compreendido
Pois não gosto de me conter
Nem ser comedido
Gosto da mulher que não precisa
Ensaiar para me dar uma resposta
Aquela que como num rompante
Improvisa com perfeição
Aquela que vai chegar aos meus ouvidos
E sussurrar belas palavras para me provocar
Aquela que consegue transmitir tudo pelo olhar
Aquela que em cama será vulgar sem ter medo de errar
Eu busco a femme fatale do noir
Tenho buscado essa safada em algum lugar
Mas nunca acho
Parece que no mundo não se fabricam mais mulheres assim
Ousadas, seguras, sensuais, inteligentes
Acho que deve sair muito caro fazer uma mulher dessas
Maldita seja a linha de produção das siliconadas recatadas
Que acabou com as minhas pobres e belas safadas.

Um Filme

Me dê outro ângulo
Para eu poder te ver
Para uma nova cena acontecer
Escolha outro cenário
Para agente se amar
Vamos elocubrar, vamos improvisar
Escolha a sua roupa
De preferência sem roupa
Pois se você a puser
Esta eu vou ter de rasgar
Agora pegue o vinho
Deite na cama
Se ajeite, se acomode, apague a luz
Deixa que eu bato a claquete
-Ação! Esta na hora de me amar...
Baby, eu vou lhe realizar.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Reticências Para Calar Você...

— Só posso disser uma coisa...
É sempre assim... Começa bem e acaba mal... E você pensa... Malditas reticências! O clássico símbolo composto por três pontos finais em uma seqüência retilínea quase que ilógica... Hermeticamente posicionado em começos, meios e fins de outra seqüência, só que desta vez de palavras, cujas quais às vezes não querem fazer o menor sentido. Pelo dicionário as reticências servem para indicar a omissão de um comentário ou idéia que não quis ser expressa pelo interlocutor, com o intuito de deixar algo para ser subtendido, fazendo a multiplicidade de sentidos, coisa que deixa o outro locutor louco!
— Você sabe...
É sempre assim, você acha que sabe, mas não sabe de nada... Para mim as reticências são as expressões máximas do simbolismo modernista. Você há de concordar comigo, caro leitor, que os três pontinhos são largamente usados no dia-a-dia da rede global, através da grande teia internacional chamada Internet, através de seus meios de comunicação, sites de relacionamentos, programas de relacionamentos, ferramentas de relacionamentos, e-mails de relacionamentos, tudo de relacionamento! É para isso que serve a Internet: relacionar pessoas, animais, robôs, etc.
— Eu gosto de você...
Até parece. Rapaz enganche o seu computador no gancho. ¬Ela não quer nada com você, é sempre assim. Se você ainda não entendeu, vou dar uma dica, reticência vem do latim e quer dizer, a grosso modo, calar alguma coisa, no caso, você! É incrível como às vezes as pessoas não notam que é para ficar calado. E olha que esse termo tem muitos anos de existência, vários de derivação, sobreviveu bravamente até chegar ao século vinte e um para que até hoje algumas pessoas não entendam que o que realmente as pessoas querem quando usam deste artifício é que o outro fique calado!

Ponto De Ônibus

A vida começa e pode terminar lá. Tudo pode acontecer. O ponto de ônibus é sensacional, pois o ponto é cosmopolita, é politeísta, é apartidário, assim como uma bunda; o ponto é compreensivo, é repreensivo, o ponto é bipolar, apolar, o ponto de ônibus é a máxima representação do mais inegável do ser humano: a mudança.
Sempre mudamos isso é inevitável tal como um ponto de ônibus. Ele sempre esta diferente, toda hora ele muda. Temos essa rotina de mudança também, só que em períodos maiores. Mudar não necessariamente quer representar indiretamente uma evolução porque às vezes mudamos para o mal, regredimos, do mesmo jeito que evoluímos, por fim nós vivemos.
Já me despedi de amores e já vivi horrores, como já nadei em flores e já colhi meus louvores. O ponto é um voyeur, sempre presente presenciando a vida de todos, vendo a vida passar e se divertindo muito, é como a sua vida fosse estar dentro de um cinema vendo todos os tipos de filme, do pornô ao drama. Só não ganha das árvores, pois algumas até já mataram mais gente do que a guerra civil do Rio de Janeiro.
Os pontos de ônibus são um misto de divã com Shangri-lá. Na verdade parecem mais teatros, pois vivemos vários papéis diferentes como: revolucionários, caretas, canalhas, poetas, santos, políticos, mocinhos, bandidos. Sempre dependendo da situação, pois o homem é produto do meio.

Vinte Centavos

Sexta-feira de manhã, último dia da semana para as pessoas sensatas, penúltimo para os masoquistas como eu. Chego ao ônibus, sonolento como sempre, entro, paro em frente à roleta, abro a minha carteira com dificuldade e tiro a linda nota azul de dois Reais, deixando para trás uma irmã triste e solitária e um mico-leão-dourado, nem sei como ele sobreviveu a semana, é difícil para eu começar o fim dessa com algum bicho em extinção na carteira. Após retirar a nota, tarefa simples até para um bêbado. Parto para a outra não tão simples missão de pegar os vinte Centavos. Abro o porta-níqueis da carteira e começo a pescaria embriagada:
- Cinco. – Bom começo.
- Cem Cruzeiros. – Não nessa época.
- Cinco. – Agora só faltam dez. Já passara eu um ponto em pé catando moedas.
- Um Krone – Só na Dinamarca.
- Um Real – Muito.
- Um Dime – Só nos States.
- Dez Centavos – Até que enfim, dois pontos em pé para vinte centavos, que epopéia cabalística.
Finalmente entrego o dinheiro a trocadora, a qual lança a gracinha:
- Foi difícil, hein? – Sem graça eu respondo:
- Ham! Como Fora! – Passo a roleta, guardo a carteira, sento no banco. Meio estressado e acordado. Ainda com Morfeu ao meu lado, para piorar tudo, não cochilei, não dessa vez. Chegando ao ponto final saio do purgatórial coletivo gelado e volto a minha quente rotina infernal.

Parabéns Alegria

Tentei escrever algo mais poético ou sedutor,
Ou até mesmo eloqüente para lhe engrandecer,
Neste seu momento de louvor.
Não consegui escrever nada que prestasse.
Apenas rimas sem sal,
Com floreios sem alma,
Que com certeza nunca sairiam pela minha boca.
Serei o mais sincero com você, como sempre sou,
Digo apenas que guardo um presente pra você,
Em meus lábios.
Se você aceitar ficarei muito feliz,
Se não aceitar não ficarei triste,
O que importa é a intenção,
Pois eu só te quero ver alegre Alegria!

Acontece Conosco

Fico feliz por você ter entendido
Não gostei muito da resposta que você me deu
Mas já foi digerido
Entenda que tudo fora compreendido
Não fico triste nem machucado
Eu sou persistente e ainda terei você do meu lado
E como um grande sábio professor escreveu:
Eu sou um menino guerreiro
Um dia terei o teu amor por inteiro...

Ode À Onça

Me pedir um poema,
É como pedir para me amar.
E se tu muito insistires,
Um tango iremos, nós, bailar.
Vossa senhorita como uma onça prestes a me abocanhar,
Com teus selvagens lábios de mel tu irás me beijar!
Eu como um caçador que prezo
Recordo-me do clássico provérbio:
Dia da caça dia do caçador.
Enfim chegou à hora deu conhecer o seu amor!

Resposta Simples

Quando me perguntarem
Se eu prefiro ser solteiro ou mal resolvido
Vou responder que prefiro ser solteiro
Pois ter um relacionamento mal resolvido
É como fazer um samba no escuro
É como ter e não poder
O maior problema é o vínculo que se cria
E que não se quer desfeito
Eu ainda ousaria responder também com uma pergunta
Você quer?
Se quer, é só fazer...

Hipopotomonstrosesquipedalofobia

Só posso dar esse parecer sobre essa imensidão de letras que compõem esta grande palavra, caos. Palavra tão caótica que o meu lindo computador se recusou de me deixar inseri-la no texto. Ele fez birra, bateu pezinho, rodou a baiana, tentei três vezes ele a recusou em todas, também não tento mais. Acho péssimo quando o estrangeiro tem a oportunidade e não reconhece a grandiosidade do brasileiro.
Tem-se fobia há filia. É meio estranho pensar nisso, mas todos nós temos um pouco dessas duas, aquele medo irracional contra o paralelepípedo na segunda série e aquele tesão racional em poder usar do mesmo para encher linguiça no texto no último ano do colégio.
Eu digo logo, eu desde pequeno tenho medo de cachorro, antes era pavor, mas hoje em dia eu continuo tendo medo de todos os cachorros grandes, ou aqueles pequenos esquizofrênicos. Na verdade é aquilo, eu olho pro cão e se eu sentir nele aqueles pensamentos diabólicos de querer me assustar com o latido ou de se investir contra a minha pessoa, eu desvio do canino, se não eu permaneço no meu rumo. Fazer o que? Tem gente que não tem medo de paquidermes e equinodermes, ou então de pular de um edifício sem pára-quedas, mas eu não sou esse tipo de gente suicida.
Mas mesmo assim cada um com seu cada qual, essa maldita palavra é a incorporação do caos. Não há como enumerar os fatos, pois estão embolados. Tudo começa por essa palavra não ser muito corriqueira, não é muito fácil de usar no dia a dia. Com isso vem o problema da maneira certa de se falar, fora que até você conseguir fazer a pronúncia perfeita dela vai demorar uma eternidade. E também ela ocupa um período da sua sentença em uma conversa, pelo seu tamanho não da pra se falar rapidamente sem comer alguma letra, por fim, o hipopótamo monstro que tem fobia de esquiar com o pedal, além de ser inviável numa conversa seria uma cena muito esdrúxula para ser avistada e imaginada.

This Town Is A Lonely Town

—Forget it, Jake. It's Chinatown.
Mais de duas horas de filme para escutar essa frase, que me deixou sem palavras, não tenho adjetivos para me expressar, somente digo: é a frase! Bem para mim foi uma hora de filme, peguei o filme meio que da metade, coisa que me deixa bem chateado, mas pelo menos deu para entender um pouco o desfecho do filme. Não vou lhe dizer o filme, até porque não o sei todo para poder comentá-lo, apenas me resguardo a última frase.
Minha primeira crítica é bem simples, porque não se usam mais essas frases impactantes nos finais dos filmes? Entendes, é um porre parece que todo filme termina com morte, como o vilão do filme, maldito e clássico maniqueísmo; ou então com aquele ar de que vai ter uma continuação, como a justiça não foi feita, ou que o bruxinho vai ter que estudar mais para ser o cara! Isso também me lembra a grande pergunta e a bela resposta:
—Tell me. What is it?
—The stuff that dreams are made of.
É um problema muito sério, esse conformismo perante a violência, o problema é que essas coisas nunca saem de moda, sempre serão atuais. Posso ver esse filme de novo daqui a vinte anos que ele continuara atual a minha realidade carioca. E eu sempre vou dizer, a mim mesmo, a mesma coisa quando ele terminar:
—Esqueça isso, Léo. É o Rio de Janeiro.

Elegia Ao Mosquito Chamado Zé

Era eu ou ele, eu pensei.
Vendo o truculento, o assassino, o mosquito,
Me acanhei.
Ele estava parado, indefeso; seria eu o assassino do assassino?
Não importa!
Por este ser não morrerei,
Vou ser tão rápido que já minhas mãos eu sujei.
Fora uma sentença tão irrefutável,
Que por fim exclamei:
- Maldito, lhe matei!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sexo Platônico Com A Srta.Tédio

A única mulher com quem eu tenho saído ultimamente se chama Tédio. Tenho que parar de flertar com ela, só me tem trazido dor de cabeça essa mulher. É complicado se desvincular dela, até porque ela já me dominou de um certo modo que eu toda hora que penso em fazer alguma coisa acabo pensando nela e ai vem o tédio que acaba com os dias.
Acho que culpa do nosso relacionamento mal resolvido, está beirando a um Amor Platônico, esse amor no campo das idéias gera uma problemática enorme, várias redundâncias, um grande paradoxo. É vero que és mui bonito essa coisa de contemplar a beleza intelectual recíproca, mas também é um pé no saco, pois sabes há quanto tempo pleiteio eu tê-la em minha cama? Já perdi a conta dos anos!
É meio cansativo esse papo de Amor Platônico, que nem Platão seguia a vera, ele dava as suas escapadinhas com seus discípulos. Era uma bicha velha hipócrita mesmo, com todo o respeito.
Mas tem seus pontos altos, como não rola esse lance de contemplação entre eu e a Srta.Tédio, longe de nós todo esse romantismo blasé de amor verdadeiro nós sabemos as nossas falhas e ela sempre vive a me lembrar das minhas piores: gordo, babaca, sedutor, filósofo, bem dotado, vouyer, e que não larga os malditos óculos escuros! Essa é a coisa que ela mais reclama de mim, é claro que depois das maravilhosas piadas redundantes e de duplo sentido com intuito de me humilhar ou para me fazer emagrecer, algum desses dois, mas a mais provável é humilhar mesmo.
Às vezes eu tento tomar um porre para ver se eu me esqueço dela e da minha realidade abiótica, mas quase nunca da certo, e quando deu certo tudo ficou chato e logo veio ela sorrindo, feliz e contente me infernizar, essa succubus que me atormenta em meu pesadelo existencial, que nem ao menos me devora com seus lábios flamejantes ou que me sufoca entre duas pernas suscitantes, fervorosas coxas que me tiram o ar e me deixam taciturno, e eu em minhas poucas palavras vou proferir:
-Meu bem, vamos fu... – E antes deu acabar com o meu argumento ela vai embora, acho que porque eu estava começando a me divertir, acho que terei que omitir a Alegria para eu poder enfim ter o meu Sexo Platônico com a minha analista de cama chamada Tédio.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Do Temaki De Salmão Com Tabasco Ao Churrasco Misto De Carne E Linguiça Com Farofa E Molho À Campanha

Acordo em pleno domingo, meio desnorteado como sempre e um tanto pensativo. Pensando no que fazer. Logo que abro os meus olhos e viro para o lado me deparo com a minha mãe (não faço a menor idéia como ela chegou lá, aliás, os meus pais sempre “brotam da terra” nos momentos mais, como poderia dizer, inusitados), falando que a minha prima ligara perguntando se eu queria comer sushi com ela e com o namorado, eu respondi que sim, minha mãe a ligou respondendo que sim. Não adianta as mães são as melhores secretárias de um homem.
Levantei-me, falei com o meu pai, vi um pouco da Formula Um acompanhado de um bolo de chocolate, desisti da corrida, contudo terminei com o bolo, sabe como é esse relacionamento homem bolo: tu o comes e ele nem reclama, na maioria das vezes, e essa não foi uma dessas perfeitas ocasiões. Comecei a me preparar psicologicamente pro rodízio de sushi, eu nunca havia comido sushi, minto, “comi” uma vez em Guarapari, na verdade pus na boca e não consegui come-lo. De todo jeito fui me concentrando, meditando ao som de Samba em Prelúdio e Rio Ancho, expurgando todos os males do meu corpo, para ir puro para o sushi, tudo para não pedir malembe.
Depois de sei lá, quase uma hora, eu já refletido, de banho tomado, a prima liga dizendo que está a sair de casa. Ponho o xadrez, pego os micos, me despeço do Paco e do Powell, beijo meus pais e entro no carro celta, rumando ao Leblon.
Grajaú, Vila Isabel, Tijuca, Maracanã, Praça da Bandeira, Rio Comprido, Lagoa, Leblon. Chegamos ao boteco, ainda fechado. Largamos o carro perto de uma árvore, e rodamos na Noruega do Rio de Janeiro. Que local lindo! Seguro. Até os mendigos são mais limpos e cheirosos, parecia que não estávamos no Rio.
Deu a hora, duas horas da tarde, exauridos e esfomeados rumamos em direção ao boteco do sushi. É estranho falar ou pensar isso: um boteco com sushi. Na verdade ele esta mais para botequim, mais pomposo e maior. Era um daqueles botequins de chope Brahma a quatro reais, batata a dezesseis e rodízio de sushi trinta! De primeiro momento eu não me adaptei muito bem a idéia deveras estranha de estar num botequim para comer peixe cru. Não me lembro de seu nome, só sei que o jargão era: “a verdadeira comida boêmia”, ou algo assim.
Sentamos a mesa, nos entregaram o pratinho, os “pauzinhos” ou hashi, o potinho do soyo, e o soyo, eu queria saquê, mas a dose era muito cara. E a minha prima e o namorado dela, se puseram a escolher as peças, na verdade ele, o senhor Fantasminha Camarada, um exímio sushiman, fora escolhendo o que me servir. Antes ele me fez a pergunta do dia:
- O que você vai querer Léo? – E eu respondi:
- Tudo! Hoje eu estou aberto a novos sabores... – E assim foi.
Califórnia, Filadélfia, Hot Filadélfia, Makimono, Sashimi, Tofu, Lula, Salmão, Atum, Camarão, Temaki, Namorado, Wasabi, Nori, só faltava botar uma japa na minha mesa para eu traçar. Estava eu endiabrado, alucinado, pelos novos sabores borbulhando na minha boca, na minha barriga, tudo isso harmonizado como água com Coca, o clássico macete de bar, enche o copo de gelo, para deixar o estrato americano aguado, eles devem achar que isso deve enfraquecer a força de coesão da bebida, ou para o freguês pedir mais ao burguês. Fora um almoço completo, com explicações dos pratos, aliterações sobre a culinária japonesa e jogo de futebol, tudo isso em mais de duas horas de almoço. Me sentia um glutão, mas não parava de tirar o olho do bifão com fetuccine ao alho e óleo da loira do lado, eu e o Fantasminha babávamos pelo bife, minha prima não compreendia como podíamos querer aquilo, depois de comer todo aquele outro aquilo, simplesmente respondíamos a ela em trissílabos e monossílabos átonos, frases curtas mas com amplo significado filosófico:
-É comida boa! - Balbuciávamos isso feito dois insaciáveis seguidores de Baco, enfiando o makimono goela a baixo, pensando no sabor da picanha.
Por fim, não comemos o bife, nem eu a loira, apenas um temaki de salmão com tabasco, que fechou com chave de ouro o meu primeiro mergulho antropofágico na gastronomia japonesa.
Depois de lá, fomos para o Estácio, deixamos a minha prima dormindo na casa do Fantasma, e fomos nós jogarmos sinuca no pé sujo. Levei uma surra, mas tive meus momentos, bebemos uma Boa, escutamos um pagode, jogamos mais sinuca, desta vez em outro pé sujo. Voltamos a casa dele, ele acordou a minha prima, apanhamos o carro, me deixaram em casa no Grajaú, subi a casa, soltei os peixinhos de volta ao oceano, e tratei de rumar ao meu pé sujo costumeiro, para comer com meus genitores uma porção de batatas fritas, amendoim, e o clássico churrasquinho misto de carne com lingüiça acompanhado com molho a campanha e farofa, tudo isso suavizado com mais Boa. Esse realmente foi um dia de extremos gastronômicos, no fim tudo se deu bem, todos se encontraram no mesmo lugar. Alegres e felizes confraternizaram uma festa e no final todos saíram juntos e misturados rindo e cantando felizes para sempre.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Zero

Lembro-me da primeira vez que eu tirei zero, fiquei bem feliz até, alias era só um zero, na verdade foram os três primeiros zeros, tudo em um dia só, é muita felicidade junta. Já no terceiro eu estava soltando fogos, comemorando e bebendo um champanhe francês. Que saudades dos velhos tempos do Ferreira Viana, de seu saudoso paredão, de suas árvores, que sombras deliciosas; de seus arredores, a Confraria do Bode Cheiroso, a Rua Luís Gama, o China; que saudades daquele hiato de três anos muito bem vividos e aproveitados. Foi também no Ferreira que eu entrei técnico em mecânica e sai jornalista, tudo por causa dos zeros.
Sabe o que é você poder ver o seu futuro esculpido nas caras dos outros. Aquela cara de zero, cansada de ver zero, mas que tem muitos zeros em sua conta. Percebi que não era aquilo que eu queria para mim e nessa eu tratei de me debandar de lá. Zero!
O zero para mim é um numeral mal compreendido. Por muitas questões ele foi se excluindo da sociedade. Essa segregação ocorreu só porque o zero responde por coisas incoerentes como: o final da comida, estabilidade das coisas, o término do dinheiro, negação da existência de Deus, e o mais e menos importante a crise pela estiagem da cerveja na minha singela mass de um litro. E por essas questões esse redondo número recebeu tais conotações de ser o semeador do caos e da discórdia, de ser um terrorista, ou um revolucionário, ou coisa que o valha. O que mesmo importa é que ninguém gosta de zero! Todos aprenderam que tirando zero eles não iam passar de ano e que a mamãe não ia ficar muito feliz, que com zero reais não se pode comprar nada, que com zero por cento de álcool ninguém pode ficar bêbado, e que o zero a esquerda não vale nada! Mas ai você fica mais velho e aprende que zero atrito é bom, que com zero a substância ta equilibrada, que no ano zero nasceu Jesus, ou seria no ano um? Que depois de uma epopéia numérica de quatro folhas achar zero quer dizer que a porra da treliça esta equilibrada e pronta para o uso! Maldito método dos nós! Maldito Bernoulli! Nessa também você vai comprar um carro a sei lá quantas mil parcelas a zero por cento de juros, até parece nessa compra ad eternum não há uma sacanagem no meio de tudo.
Esse paradigma tinha que ser quebrado as pessoas deviam ficar felizes com essas coisas simples da vida. O jovem brasileiro devia ficar feliz no dia que se tira zero na prova de matemática, que a seleção fez zero gol, na França, na seleção da Holanda, e que o índice de roubos em Brasília caiu para zero.

O Dia Do Quartel

Depois de tanto esperar, a minha hora chegou. Mas que felicidade, essa alegria tomou o meu ser no último dia do mês de julho e me fez despertar às cinco da manhã. Parecia pinto no lixo, não parava quieto, estava todo serelepe e animadinho indo para um tal bairro chamado Triagem, num tal de quartel com nome estranho, cujo nome não consigo me lembrar, mas que deve remeter a uma pessoa que fez algo grandioso e grandiloquente o suficiente para receber tal homenagem. Exatamente caro leitor, você já dever ter entendido muito bem, eu fui me alistar.
Primeiramente pensei que estaria eu entrando no inferno, quer dizer, indo para um circulo inferior, pensei que iam me xingar, me insultar, falar mal da minha família, salgar a minha terra, me dar um tapa na cara, duvidarem da minha orientação sexual, me chamarem de baleia, mas, contudo, todavia, entretanto, não foi nada assim. Digo-te que me senti um tanto decepcionado, não que eu seja masoquista muito menos mulher de malandro, mas um homem pode se dar ao luxo de pelo menos uma vez na vida viver um clichê destes.
Por outro lado, me trataram super-bem. Acho que o exército quer apagar essa mancha que eles têm com a sociedade brasileira. Até porque, tu só deixas de ser civil mesmo quando tu és aprovado para tal cargo patriótico com fins paramilitares e oriundos de vários adjetivos com caráter camonista meramente ilusórios para tentar enaltecer o sentimento do povo em meras palavras brancas sem sentido que por fim são dejetos cuidadosamente depositados como epitáfio é cuidadosamente esculpido no túmulo.
Também dera eu muita sorte de poder gozar da felicidade de possuir uma respeitável médica na família, que aspira ser um tenente sendo uma aspirante. Fora de muita sorte isso ocorrer, e que um de seus camaradas do quartel veio a calhar de servir no santo quartel que eu fora me apresentar, salve o santo tenente Euvaldo, que me livrou desse problema, ele ainda me xingou, não o crucifico, faz parte do trabalho dele, xingar os outros. Até que não é um mau trabalho...
Por fim, a minha experiência no quartel não fora nada traumatizante, nada de mais aconteceu, nada de incrível se sucedeu. Foi apenas um dia que eu acordei muito cedo, escutei muitas pessoas falarem, fiquei muito tempo em pé, me acidentei vendo um Chevette, voltei a casa feliz, joguei poker como meu amigo, recebi uma boa resposta de uma pessoa, comi caldo verde, bebi vinho e para finalizar o dia bebi Licor de Merda. Até que esse fora bom dia que me proporcionou duas certezas: a primeira que eu to livre do exército e a outra que talvez os meus dias comecem a ser mais felizes daqui para frente...

(A Cidade) Lhe Devoras

Ser cidadão, citadino, cidadania, essas coisas todas, são as chaves para muitas perguntas. Parece bobo, e até papo de político, mas acredite esta é a real verdade do nosso existir, nós vivemos para a cidade e a cidade vive para nós! É basicamente um mutualismo, uma simbiose, pois sem o cidadão a cidade não vive, e sem a cidade o cidadão não vive.
Realmente parece muito estranho falar isso, mas é a verdade. Não é nem por causa do sistema, na verdade é uma questão humana porque desde quando vivemos em uma sociedade vivemos na cidade, e mesmo os que não vivem nela dependem dela, é muito difícil virar um ermitão, um lobo solitário, por isso mesmo que poucos conseguiram, e mesmo quando não há uma, nós a criamos.
Nós sustentamos o nosso grande Deus o nosso grande ídolo de concreto, asfalto e tijolo, nós o alimentamos com o nosso suor, nossas emoções, nosso rancor, nosso trabalho, nós damos tudo por ele, e ele tenta nos dar tudo de volta. Nós morremos por esse Deus preto e cinza, mas ele não morre para nós. E se nós o maltratamos, ele nos maltrata severamente, nos punindo, acabando com a nossa vida. A cidade é o caos, e nós amamos esse caos!
Faz parte de qualquer sistema, ele sempre estará lá, não adianta se esconder dele, pois a metrópole te persegue, ela acaba com o seu emprego, ela acaba com a sua vida, ela acaba com a sua alma, ela te devora por inteiro, acabando com a sua existência. Não adianta o lobo sempre vai estar à solta, esperando uma brecha na cerca para pegar as ovelhas, nem adiantar ter pastor, porque se ele bobear o lobo também o comerá.
Ela, a vadia, a leviatã, a santa, não precisa ter forma correta, pode ser errônea mesmo assim como o seu berço humano, os meios podem ser corretos, errados, não importa os resultados sempre estarão a seu favor. A provedora, a acolhedora, como toda senhora que se preze, tem o seu preço, tem que pagar para ficar, mas se não quiser pagar, tudo bem, mas se garanta pelas consequências. A monstra se alimenta de todos, todos tem o seu preço, e todos tem o seu valor, no final estas duas resultantes vão tender a zero, pois morto não tem preço e quiçá valor.
Ainda acha louco, e bobo? Se tu achas, por favor, para a sua salvação escute mais Nação Zumbi, leia mais Will Eisner, e veja mais Fritz Lang, só para citar contemporâneos do século passado. Cidadão informe-se, leia mais, veja mais, escute mais, abra os seus olhos para ver a realidade, ilumine-se! Ou tu preferes viver na cegueira imposta pela Metrópole?

Férias Curtas

O tédio me é tão grande neste momento que eu não consigo pensar em nada produtivo. Ultimamente o meu tédio parece um tenaz quente levando um ferro vermelho sangue, que ferve o meu sangue. Tal ferro acabara de sair da brasa quente e pulsante, de um efervescente e alegórico carnaval de chamas dentro do braseiro que até me lembra o Brasil. Vivo assolado pelo meu próprio isolamento da realidade tropical, do meu carnaval bacanal totalmente original, vivendo num tempo de afastamento cultural e de permissão verbal, que faz as rimas serem fracas e obsoletas, verdadeiras lástimas de prateleiras, que só servem para enfeitar a ignorância, florear o vacum da discrepância intelectual de nossos poetas da mitologia contemporânea. Nem o berro dos cachorros, a algazarra dos felinos, o assobio das aves, o latir do síndico, o ronronar das moças, e o piar da vossa santa, me fazem voltar para o meu lugar. Nem a pizza, a minha dama, o drama, a cerveja, o jazz, o samba, o rock, a bateria, o vinho, a piscina, o filme noir, à noite, o boteco, os óculos escuros, nada! Nada me tira deste meu estagio deplorável de um coma auto-sustentável de lixos urbanos, caos, falta de ordem (pois mesmo desordem sendo seu sinônimo, o primeiro causa um maior impacto textual), burocracia, tráfico, o tudo, o nada, o existir. O meu diagnóstico é simples, férias curtas demais depois de um longo período de rotina desgastante, falta de mulher, falta de Guinness, falta de filmes bons, excesso de jazz, muito tempo em casa sozinho sem fazer nada, excesso de poemas para tal dama mencionada acima e o maior problema: falta de dinheiro. Para fins de conversa, o meu tédio se resume em uma semana de férias, grandes planos e pequenas ações. Você espera tanto para tal e no final ela já passou e você nem percebeu, tantos planos, tantas fugas, e nenhum verbete verde, ou azul, com algum animal estampado. É um horror.