sábado, 27 de agosto de 2011

Penso nos poetas,

que gloriosos seres iluminados
pois conseguiam proferir seus célebres versos
sobre o efeito dos mais variados narcóticos.
Gostaria de ser assim, como eles, ou pelo menos
como eles foram eternamente consagrados:
boêmios, existenciais e com boas memórias!
Falta-me essa tal boa memória, que me anda falhando horas a fio
fazendo-me divagar sobre os versos proferidos ao leito do amor...
Bate-me uma imensa culpa em não poder lembrar
de todas a palavras que eu te disse,
mas de todas somente poucas iam mesmo importar,
principalmente aquelas mais obscenas e apimentadas
que somente após de ter me embriagado com seu cheiro
rompem o seu ouvido com palavras que cortam o ar por serem tão violentas e quentes
soltando aquele vulcão que há dentro de nós dois.
Jorrando o alegre gozo das horas de perversão, nos exaurindo a humanidade
e apenas restando o divino descanso do sublime prazer
à luz de velas.

domingo, 7 de agosto de 2011

Cogitando A Não Existência

Ressaca. Lembranças parciais sobre a noite passada. Boca seca. Lembro que tinha muita gente e tava rolando um som. Ou seja, temos uma margem de possibilidades impossíveis para saber onde estava, podia estar numa micareta como num bizarro culto pagão, visando à ascensão do Grande Templo de Odin no Rio de Janeiro. Ou podia estar pela Lapa mesmo, o que poderia ser mais possível dentro destas impossibilidades. Ou não.
E o que importa com isso? Eu poderia ter presenciado o surgimento de uma nova consciência política ontem, mas não sei, não lembro e também pouco me importo. Também não há como se importar com o mundo com essa dor de cabeça absurda, só gostaria de permanecer na cama. Entre o labirinto de lençóis e as grandes dunas dos travesseiros. Será que eu presenciei algo primoroso ontem? Algo que deveria ser lembrado, algo pra ser inesquecível, algo para entrar na História?
Seria a minha existência vazia e conflituosa interessante o suficiente para isso? Ou relevante. Não sei... Acho que serei mais um dentro daquela massa cinzenta e esquecida que meche a vida e que nunca e lembrado, vários casos aleatórios e altamente pessoais que por serem demasiadamente, e subjetivamente, importantes são esquecidos a sombra dos fatos e dos “grandes vultos da humanidade”. E mais um monte de besteiras vazias e cheias de epistemologia visionária do século passado. E eu um mero receptor e agente social não valho de nada?!
Foda-se! Não adianta, só saberei disso só depois de morto.
Mas de quem serve as flores amigas depois de morto? Os consolos, a amizade, os presentes, a consagração deve ser feita em vida, como Nelson já havia dito, pois depois de morto pra que serve tudo?
Maldita dor de cabeça, maldita ressaca, talvez se eu escrever esses pensamentos eu possa ser lembrado. Com uma pessoa que sofria de uma ressaca absurda, e que após de uma possível amnésia alcoólica reflete sobre as variáveis e efemeridades da existência, tendo sempre em mente a sua triste e irredutível vida pacata. Mas que maldito pessimista inconformado alguém pensaria ao ler esse texto num futuro (não) muito distante.
Acho que é isso só escrevendo, somente escrevendo eu poderei tocar alguém que está fora do meu alcance, seja este geográfico ou temporário. Apenas escrevendo, tantas palavras que algumas delas terão de dizer alguma coisa que preste, só assim...
Chega! Não agüento tanto devaneio sem o menor sentido, pra que tudo isso? Não quero mais pensar nisso, nem em onde estive ontem, nem na minha dor de cabeça, nem se tenho algum dinheiro para comer, nem em porra nenhuma! Só quero uma cerveja. E voltar para o aconchego dos grandes lençóis felpudos, cogitando a não existência.
E alguém ainda disse que a vida é justa...