segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sexo Platônico Com A Srta.Tédio

A única mulher com quem eu tenho saído ultimamente se chama Tédio. Tenho que parar de flertar com ela, só me tem trazido dor de cabeça essa mulher. É complicado se desvincular dela, até porque ela já me dominou de um certo modo que eu toda hora que penso em fazer alguma coisa acabo pensando nela e ai vem o tédio que acaba com os dias.
Acho que culpa do nosso relacionamento mal resolvido, está beirando a um Amor Platônico, esse amor no campo das idéias gera uma problemática enorme, várias redundâncias, um grande paradoxo. É vero que és mui bonito essa coisa de contemplar a beleza intelectual recíproca, mas também é um pé no saco, pois sabes há quanto tempo pleiteio eu tê-la em minha cama? Já perdi a conta dos anos!
É meio cansativo esse papo de Amor Platônico, que nem Platão seguia a vera, ele dava as suas escapadinhas com seus discípulos. Era uma bicha velha hipócrita mesmo, com todo o respeito.
Mas tem seus pontos altos, como não rola esse lance de contemplação entre eu e a Srta.Tédio, longe de nós todo esse romantismo blasé de amor verdadeiro nós sabemos as nossas falhas e ela sempre vive a me lembrar das minhas piores: gordo, babaca, sedutor, filósofo, bem dotado, vouyer, e que não larga os malditos óculos escuros! Essa é a coisa que ela mais reclama de mim, é claro que depois das maravilhosas piadas redundantes e de duplo sentido com intuito de me humilhar ou para me fazer emagrecer, algum desses dois, mas a mais provável é humilhar mesmo.
Às vezes eu tento tomar um porre para ver se eu me esqueço dela e da minha realidade abiótica, mas quase nunca da certo, e quando deu certo tudo ficou chato e logo veio ela sorrindo, feliz e contente me infernizar, essa succubus que me atormenta em meu pesadelo existencial, que nem ao menos me devora com seus lábios flamejantes ou que me sufoca entre duas pernas suscitantes, fervorosas coxas que me tiram o ar e me deixam taciturno, e eu em minhas poucas palavras vou proferir:
-Meu bem, vamos fu... – E antes deu acabar com o meu argumento ela vai embora, acho que porque eu estava começando a me divertir, acho que terei que omitir a Alegria para eu poder enfim ter o meu Sexo Platônico com a minha analista de cama chamada Tédio.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Do Temaki De Salmão Com Tabasco Ao Churrasco Misto De Carne E Linguiça Com Farofa E Molho À Campanha

Acordo em pleno domingo, meio desnorteado como sempre e um tanto pensativo. Pensando no que fazer. Logo que abro os meus olhos e viro para o lado me deparo com a minha mãe (não faço a menor idéia como ela chegou lá, aliás, os meus pais sempre “brotam da terra” nos momentos mais, como poderia dizer, inusitados), falando que a minha prima ligara perguntando se eu queria comer sushi com ela e com o namorado, eu respondi que sim, minha mãe a ligou respondendo que sim. Não adianta as mães são as melhores secretárias de um homem.
Levantei-me, falei com o meu pai, vi um pouco da Formula Um acompanhado de um bolo de chocolate, desisti da corrida, contudo terminei com o bolo, sabe como é esse relacionamento homem bolo: tu o comes e ele nem reclama, na maioria das vezes, e essa não foi uma dessas perfeitas ocasiões. Comecei a me preparar psicologicamente pro rodízio de sushi, eu nunca havia comido sushi, minto, “comi” uma vez em Guarapari, na verdade pus na boca e não consegui come-lo. De todo jeito fui me concentrando, meditando ao som de Samba em Prelúdio e Rio Ancho, expurgando todos os males do meu corpo, para ir puro para o sushi, tudo para não pedir malembe.
Depois de sei lá, quase uma hora, eu já refletido, de banho tomado, a prima liga dizendo que está a sair de casa. Ponho o xadrez, pego os micos, me despeço do Paco e do Powell, beijo meus pais e entro no carro celta, rumando ao Leblon.
Grajaú, Vila Isabel, Tijuca, Maracanã, Praça da Bandeira, Rio Comprido, Lagoa, Leblon. Chegamos ao boteco, ainda fechado. Largamos o carro perto de uma árvore, e rodamos na Noruega do Rio de Janeiro. Que local lindo! Seguro. Até os mendigos são mais limpos e cheirosos, parecia que não estávamos no Rio.
Deu a hora, duas horas da tarde, exauridos e esfomeados rumamos em direção ao boteco do sushi. É estranho falar ou pensar isso: um boteco com sushi. Na verdade ele esta mais para botequim, mais pomposo e maior. Era um daqueles botequins de chope Brahma a quatro reais, batata a dezesseis e rodízio de sushi trinta! De primeiro momento eu não me adaptei muito bem a idéia deveras estranha de estar num botequim para comer peixe cru. Não me lembro de seu nome, só sei que o jargão era: “a verdadeira comida boêmia”, ou algo assim.
Sentamos a mesa, nos entregaram o pratinho, os “pauzinhos” ou hashi, o potinho do soyo, e o soyo, eu queria saquê, mas a dose era muito cara. E a minha prima e o namorado dela, se puseram a escolher as peças, na verdade ele, o senhor Fantasminha Camarada, um exímio sushiman, fora escolhendo o que me servir. Antes ele me fez a pergunta do dia:
- O que você vai querer Léo? – E eu respondi:
- Tudo! Hoje eu estou aberto a novos sabores... – E assim foi.
Califórnia, Filadélfia, Hot Filadélfia, Makimono, Sashimi, Tofu, Lula, Salmão, Atum, Camarão, Temaki, Namorado, Wasabi, Nori, só faltava botar uma japa na minha mesa para eu traçar. Estava eu endiabrado, alucinado, pelos novos sabores borbulhando na minha boca, na minha barriga, tudo isso harmonizado como água com Coca, o clássico macete de bar, enche o copo de gelo, para deixar o estrato americano aguado, eles devem achar que isso deve enfraquecer a força de coesão da bebida, ou para o freguês pedir mais ao burguês. Fora um almoço completo, com explicações dos pratos, aliterações sobre a culinária japonesa e jogo de futebol, tudo isso em mais de duas horas de almoço. Me sentia um glutão, mas não parava de tirar o olho do bifão com fetuccine ao alho e óleo da loira do lado, eu e o Fantasminha babávamos pelo bife, minha prima não compreendia como podíamos querer aquilo, depois de comer todo aquele outro aquilo, simplesmente respondíamos a ela em trissílabos e monossílabos átonos, frases curtas mas com amplo significado filosófico:
-É comida boa! - Balbuciávamos isso feito dois insaciáveis seguidores de Baco, enfiando o makimono goela a baixo, pensando no sabor da picanha.
Por fim, não comemos o bife, nem eu a loira, apenas um temaki de salmão com tabasco, que fechou com chave de ouro o meu primeiro mergulho antropofágico na gastronomia japonesa.
Depois de lá, fomos para o Estácio, deixamos a minha prima dormindo na casa do Fantasma, e fomos nós jogarmos sinuca no pé sujo. Levei uma surra, mas tive meus momentos, bebemos uma Boa, escutamos um pagode, jogamos mais sinuca, desta vez em outro pé sujo. Voltamos a casa dele, ele acordou a minha prima, apanhamos o carro, me deixaram em casa no Grajaú, subi a casa, soltei os peixinhos de volta ao oceano, e tratei de rumar ao meu pé sujo costumeiro, para comer com meus genitores uma porção de batatas fritas, amendoim, e o clássico churrasquinho misto de carne com lingüiça acompanhado com molho a campanha e farofa, tudo isso suavizado com mais Boa. Esse realmente foi um dia de extremos gastronômicos, no fim tudo se deu bem, todos se encontraram no mesmo lugar. Alegres e felizes confraternizaram uma festa e no final todos saíram juntos e misturados rindo e cantando felizes para sempre.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Zero

Lembro-me da primeira vez que eu tirei zero, fiquei bem feliz até, alias era só um zero, na verdade foram os três primeiros zeros, tudo em um dia só, é muita felicidade junta. Já no terceiro eu estava soltando fogos, comemorando e bebendo um champanhe francês. Que saudades dos velhos tempos do Ferreira Viana, de seu saudoso paredão, de suas árvores, que sombras deliciosas; de seus arredores, a Confraria do Bode Cheiroso, a Rua Luís Gama, o China; que saudades daquele hiato de três anos muito bem vividos e aproveitados. Foi também no Ferreira que eu entrei técnico em mecânica e sai jornalista, tudo por causa dos zeros.
Sabe o que é você poder ver o seu futuro esculpido nas caras dos outros. Aquela cara de zero, cansada de ver zero, mas que tem muitos zeros em sua conta. Percebi que não era aquilo que eu queria para mim e nessa eu tratei de me debandar de lá. Zero!
O zero para mim é um numeral mal compreendido. Por muitas questões ele foi se excluindo da sociedade. Essa segregação ocorreu só porque o zero responde por coisas incoerentes como: o final da comida, estabilidade das coisas, o término do dinheiro, negação da existência de Deus, e o mais e menos importante a crise pela estiagem da cerveja na minha singela mass de um litro. E por essas questões esse redondo número recebeu tais conotações de ser o semeador do caos e da discórdia, de ser um terrorista, ou um revolucionário, ou coisa que o valha. O que mesmo importa é que ninguém gosta de zero! Todos aprenderam que tirando zero eles não iam passar de ano e que a mamãe não ia ficar muito feliz, que com zero reais não se pode comprar nada, que com zero por cento de álcool ninguém pode ficar bêbado, e que o zero a esquerda não vale nada! Mas ai você fica mais velho e aprende que zero atrito é bom, que com zero a substância ta equilibrada, que no ano zero nasceu Jesus, ou seria no ano um? Que depois de uma epopéia numérica de quatro folhas achar zero quer dizer que a porra da treliça esta equilibrada e pronta para o uso! Maldito método dos nós! Maldito Bernoulli! Nessa também você vai comprar um carro a sei lá quantas mil parcelas a zero por cento de juros, até parece nessa compra ad eternum não há uma sacanagem no meio de tudo.
Esse paradigma tinha que ser quebrado as pessoas deviam ficar felizes com essas coisas simples da vida. O jovem brasileiro devia ficar feliz no dia que se tira zero na prova de matemática, que a seleção fez zero gol, na França, na seleção da Holanda, e que o índice de roubos em Brasília caiu para zero.

O Dia Do Quartel

Depois de tanto esperar, a minha hora chegou. Mas que felicidade, essa alegria tomou o meu ser no último dia do mês de julho e me fez despertar às cinco da manhã. Parecia pinto no lixo, não parava quieto, estava todo serelepe e animadinho indo para um tal bairro chamado Triagem, num tal de quartel com nome estranho, cujo nome não consigo me lembrar, mas que deve remeter a uma pessoa que fez algo grandioso e grandiloquente o suficiente para receber tal homenagem. Exatamente caro leitor, você já dever ter entendido muito bem, eu fui me alistar.
Primeiramente pensei que estaria eu entrando no inferno, quer dizer, indo para um circulo inferior, pensei que iam me xingar, me insultar, falar mal da minha família, salgar a minha terra, me dar um tapa na cara, duvidarem da minha orientação sexual, me chamarem de baleia, mas, contudo, todavia, entretanto, não foi nada assim. Digo-te que me senti um tanto decepcionado, não que eu seja masoquista muito menos mulher de malandro, mas um homem pode se dar ao luxo de pelo menos uma vez na vida viver um clichê destes.
Por outro lado, me trataram super-bem. Acho que o exército quer apagar essa mancha que eles têm com a sociedade brasileira. Até porque, tu só deixas de ser civil mesmo quando tu és aprovado para tal cargo patriótico com fins paramilitares e oriundos de vários adjetivos com caráter camonista meramente ilusórios para tentar enaltecer o sentimento do povo em meras palavras brancas sem sentido que por fim são dejetos cuidadosamente depositados como epitáfio é cuidadosamente esculpido no túmulo.
Também dera eu muita sorte de poder gozar da felicidade de possuir uma respeitável médica na família, que aspira ser um tenente sendo uma aspirante. Fora de muita sorte isso ocorrer, e que um de seus camaradas do quartel veio a calhar de servir no santo quartel que eu fora me apresentar, salve o santo tenente Euvaldo, que me livrou desse problema, ele ainda me xingou, não o crucifico, faz parte do trabalho dele, xingar os outros. Até que não é um mau trabalho...
Por fim, a minha experiência no quartel não fora nada traumatizante, nada de mais aconteceu, nada de incrível se sucedeu. Foi apenas um dia que eu acordei muito cedo, escutei muitas pessoas falarem, fiquei muito tempo em pé, me acidentei vendo um Chevette, voltei a casa feliz, joguei poker como meu amigo, recebi uma boa resposta de uma pessoa, comi caldo verde, bebi vinho e para finalizar o dia bebi Licor de Merda. Até que esse fora bom dia que me proporcionou duas certezas: a primeira que eu to livre do exército e a outra que talvez os meus dias comecem a ser mais felizes daqui para frente...

(A Cidade) Lhe Devoras

Ser cidadão, citadino, cidadania, essas coisas todas, são as chaves para muitas perguntas. Parece bobo, e até papo de político, mas acredite esta é a real verdade do nosso existir, nós vivemos para a cidade e a cidade vive para nós! É basicamente um mutualismo, uma simbiose, pois sem o cidadão a cidade não vive, e sem a cidade o cidadão não vive.
Realmente parece muito estranho falar isso, mas é a verdade. Não é nem por causa do sistema, na verdade é uma questão humana porque desde quando vivemos em uma sociedade vivemos na cidade, e mesmo os que não vivem nela dependem dela, é muito difícil virar um ermitão, um lobo solitário, por isso mesmo que poucos conseguiram, e mesmo quando não há uma, nós a criamos.
Nós sustentamos o nosso grande Deus o nosso grande ídolo de concreto, asfalto e tijolo, nós o alimentamos com o nosso suor, nossas emoções, nosso rancor, nosso trabalho, nós damos tudo por ele, e ele tenta nos dar tudo de volta. Nós morremos por esse Deus preto e cinza, mas ele não morre para nós. E se nós o maltratamos, ele nos maltrata severamente, nos punindo, acabando com a nossa vida. A cidade é o caos, e nós amamos esse caos!
Faz parte de qualquer sistema, ele sempre estará lá, não adianta se esconder dele, pois a metrópole te persegue, ela acaba com o seu emprego, ela acaba com a sua vida, ela acaba com a sua alma, ela te devora por inteiro, acabando com a sua existência. Não adianta o lobo sempre vai estar à solta, esperando uma brecha na cerca para pegar as ovelhas, nem adiantar ter pastor, porque se ele bobear o lobo também o comerá.
Ela, a vadia, a leviatã, a santa, não precisa ter forma correta, pode ser errônea mesmo assim como o seu berço humano, os meios podem ser corretos, errados, não importa os resultados sempre estarão a seu favor. A provedora, a acolhedora, como toda senhora que se preze, tem o seu preço, tem que pagar para ficar, mas se não quiser pagar, tudo bem, mas se garanta pelas consequências. A monstra se alimenta de todos, todos tem o seu preço, e todos tem o seu valor, no final estas duas resultantes vão tender a zero, pois morto não tem preço e quiçá valor.
Ainda acha louco, e bobo? Se tu achas, por favor, para a sua salvação escute mais Nação Zumbi, leia mais Will Eisner, e veja mais Fritz Lang, só para citar contemporâneos do século passado. Cidadão informe-se, leia mais, veja mais, escute mais, abra os seus olhos para ver a realidade, ilumine-se! Ou tu preferes viver na cegueira imposta pela Metrópole?

Férias Curtas

O tédio me é tão grande neste momento que eu não consigo pensar em nada produtivo. Ultimamente o meu tédio parece um tenaz quente levando um ferro vermelho sangue, que ferve o meu sangue. Tal ferro acabara de sair da brasa quente e pulsante, de um efervescente e alegórico carnaval de chamas dentro do braseiro que até me lembra o Brasil. Vivo assolado pelo meu próprio isolamento da realidade tropical, do meu carnaval bacanal totalmente original, vivendo num tempo de afastamento cultural e de permissão verbal, que faz as rimas serem fracas e obsoletas, verdadeiras lástimas de prateleiras, que só servem para enfeitar a ignorância, florear o vacum da discrepância intelectual de nossos poetas da mitologia contemporânea. Nem o berro dos cachorros, a algazarra dos felinos, o assobio das aves, o latir do síndico, o ronronar das moças, e o piar da vossa santa, me fazem voltar para o meu lugar. Nem a pizza, a minha dama, o drama, a cerveja, o jazz, o samba, o rock, a bateria, o vinho, a piscina, o filme noir, à noite, o boteco, os óculos escuros, nada! Nada me tira deste meu estagio deplorável de um coma auto-sustentável de lixos urbanos, caos, falta de ordem (pois mesmo desordem sendo seu sinônimo, o primeiro causa um maior impacto textual), burocracia, tráfico, o tudo, o nada, o existir. O meu diagnóstico é simples, férias curtas demais depois de um longo período de rotina desgastante, falta de mulher, falta de Guinness, falta de filmes bons, excesso de jazz, muito tempo em casa sozinho sem fazer nada, excesso de poemas para tal dama mencionada acima e o maior problema: falta de dinheiro. Para fins de conversa, o meu tédio se resume em uma semana de férias, grandes planos e pequenas ações. Você espera tanto para tal e no final ela já passou e você nem percebeu, tantos planos, tantas fugas, e nenhum verbete verde, ou azul, com algum animal estampado. É um horror.

O Primeiro, O Tédio Numero Um

Quarta-feira, dia dezessete de março, véspera de Páscoa, vendo uma aula de literatura com uma “boa” professora. Inquieto, estressado, puto da vida, preciso de um porre! Pensado que na quinta irei a praia com meus amigos, pensando também em uma possibilidade de como eu diria “sexo”, e a professora falando de romantismo.
Acabei de mostrar o meio que me encontro, e começo a refletir sobre um assunto que me deixa muito nervoso: a rotina, que para mim é apenas um sinônimo para tédio! Me lembro de uma conversa que tive com uma amiga minha, que eu disse:
- O tédio é a pior invenção do homem! – Ela riu e concordou.
Acabo de mudar de lugar, pois começaram a cuspir, malditos “colegas” de turma. Mas o tédio, porque ele existe? Porque coisas simples não são vividas intensamente?
Um filho da santa me tacou uma bola de papel alumínio, espero que ele não me taque a maçã...
O tédio, a rotina, emoções intensas, tempo esta tudo relacionado, mas porque eles acontecem e por quê? Eu não sei, mas gostaria de saber, sabe? Parar uns anos para refletir, mas isso me faria perder muito tempo e o que no começo era excitante (intenso), seria um tédio, viraria uma rotina, uma coisa chata, uma prisão!
- Na minha terra tem palmeiras... – Recita docemente a professora acalmando as bestas mecânicas.
Viva la revolucion! Não sei por que disse isso, mas deu vontade, e isso foi bom e feliz.
Coisas felizes. Acabei de sequelar; a professora olha para mim afirmando o nacionalismo, tentando achar a confirmação nos meus olhos.
- Moro num país tropical... - A turma canta em um lindo e desafinado coro a grande música do mestre Jorge.
Sai da minha linha de raciocínio, mas vou voltar...
Uma coisa eu posso afirmar: mesmo não sabendo muito que é isso, sei que só aprimorarei isso na minha vida.
Acho que devemos tomar cuidados porque tudo pode virar rotina, tudo vai virar um tédio, devemos relembrar grandes ditos populares: “alegria de pobre dura pouco”, “programa de índio” – como a professora acabou de citar, que pelo acaso caiu bem.
Merda! Mais uma coisa que esta relacionada: acaso, destino, déjà vu, puta que paril, vou deixar isso para depois.
Mas no final das contas eu acho que se você sempre fizer coisas diferentes, como sair para novos lugares, não cair na rotina de locais, porque mesmo uma coisa legal pode virar chata de uma hora para outra, como já havia dito em umas linhas acima.
Na vida tem coisas que devem ser aceitas, contornadas, suportadas. Essa é a palavra, a rotina tem que ser suportada, o tédio aturado, e as emoções intensas, as boas experiências devem ser muito bem aproveitadas.
Alias, a vida é feita para viver e não para morrer.

Bola Na Rede

Vou começar a infringir
Fui...
Não conheço Futebol, ou Football, ou Soccer.
Não sei que jogo é esse.
Não conheço esta moda antiga
Conheço sim um esporte novo, um tal de Bola na Rede.
A Bola na Rede é legal, dizem que parece com Futebol
Nisso indago: se são tão semelhantes,
Porque não usar o nome em português coloquial?
Ah! Já sei, porque somos influenciáveis a paradigmas estrangeiros.
Que coisa heim?
Bem, vocês já podem me infligir
Tragam as tochas e a cruz, eu não ligo
E digo mais, é só me achar no gramado
Pois estarei jogando bola na rede totalmente endiabrado.

O Morcego Inglês

Me senti arrepiado, horrorizado,
Quando o morcego invadiu a minha casa.
Ele bem que fora tranqüilo comigo,
Mas eu fiquei amedrontado pelo seu bater de asa
Me senti perdido como um mendigo,
Bêbado e mal parido em meu próprio lar!
O morcego inglês me desterritorializou
Expulsou-me de minha casa atormentado!
E com toda a sua finesse este a morcegou.
Por um momento me senti na Índia,
Colonizada e saqueada,
Pelo menos meu coitado lar não foi envernizado.

Erotidiano

O pequeno recruta,
Acorda todo dia pela manhã injusta,
Para o quartel.
Fica em guarda toda hora,
Naquele corre, corre,
Naquele entra e sai.
Entra disposto e sai indisposto.
O cachorro passa o dia na rua,
Tentando entrar por toda porta.
Fica olhando rabo de saia e roendo osso,
Todo dia, os dias inteiros.
E ainda existem pessoas falando que são pudicas
Com um cotidiano apelativo destes, acho isso impossível!

Nuvens Globais

Paro à minha janela
Olho para o céu e vejo nuvens:
Nuvens de chuva, nuvens brancas.
Nuvens de Boeing, nuvens de condensação!
Paro meia hora a observar,
Vendo cinco aviões a passar,
E filosofo:
Em uma hora dez
Em um dia duzentos e quarenta aviões a passar
E a minha casa a ficar!
Meu Deus! Nós somos globalizados!
Levei quase meia vida para ver esta verdade universal
Agora só me resta uma dúvida ancestral
Serão os deuses astronautas ou comissários de bordo?

Barreira Social

Hoje eu vi um encargo social. Este é o problema de conceitos, eles são conceitos. E muitas vezes, como neste caso, não são muito concretos, e por causa desta invisibilidade, não são nada práticos.
Mas esta é a coisa bonita de um cotidiano paradoxal de um cronista, fazendo da realidade uma irrealidade cômica através de uma lente esverdeada presa por uma armação negra.
Todas estas coisas sociais são impossíveis de se entender facilmente, porque não há uma visualização perfeita das tais. Para tu veres, até o conceito de classe social já esta mais difícil. Antes era a clássica tríade (rico, classe média e pobre), agora, porém, existem tríades dentro das tríades! A clássica classe média já se dividiu em baixa, média e alta. São essas coisas que complicam, que deixa tudo isso no campo das idéias. São essas coisas que fazem as pessoas virarem no caixão, como por exemplo, Marx, este deve ser se revirar sempre que ouve coisas destas, pois imagine a luta de classes dentro de classes, seria a luta de subclasses. Se eu fosse Freud eu receitaria a Marx, Platão e Prozac, quisá Balzac, só para ele relaxar em completo, nada como um romantismo realista do século dezenove para amenizar a situação.
Mas hoje o conceito saiu do etéreo, se concretizou, via a mais perfeita idealização concretizada de conceitos sociais. Vi a real barreira social: um mendigo dormindo na porta de um banco!
Que cena, que horror, uma barreira suja, mas sincera; dormindo perante a soleira da porta suja de um banco nada sincero. O pacifismo dele era digno ao de um revolucionário igualmente mal lavado, que enojava a porta do banco, tinha vontade de cuspi-lo de sua boca que estava fétida e que não conseguia seduzir ninguém.
Sei que esta parece ser uma cena muito normal do Rio de Janeiro, e realmente é. Não sei se isso acontece em outras cidades, ou outros estados brasileiros, enfim em outro canto no mundo, minha ignorância me permite somente falar da minha cidade. Para muitos talvez esta seja uma cena comum, de uma comum metrópole comum, essas coisas já estão enraizadas em nossas entranhas, coisa que não deveria ter acontecido, mas aconteceu, e o que eu posso fazer? Nada, talvez apenas me dar ao luxo de tentar falar para as pessoas que não é normal, não é estético, não é aceitável, não é carioca, ver um mendigo dormindo aos pés do banco. É realmente paradoxal ver a pobreza dormindo na frente da riqueza.

Quando?

Quando é que você vai me jogar na parede
E me sussurrar ao ouvido: - Bu!
Para eu lhe dizer: - Ah!
Para tu enfim com um beijo
Engolir todo o meu ar
E o meu manifesto de dor
O transformando em um singelo amor
Usurpando o tempo e o deixando paradoxal
Fazendo-me esquecer do: - Au!
Pena que isso é só um sonho torto
Sobre um amor oco
De um gordo louco
Se ela pudesse ao menos entender o que digo,
Ao menos eu ia ficar menos sentido.

A Rotina Pós-Moderna De Um Gordo Realista

Aos Domingos me sinto um romântico de segunda geração
Com toda a minha morbidez em contemplação
Nas Segundas pareço um ateu
Questionando a existência do criador
Já na Terça me lembro que sou brasileiro
E que não desisto nunca
Na Quarta sou filósofo niilista
Relacionando o meio da semana ao paradigma do não existir
As Quintas viro um revolucionário
Arquitetando os meus planos para tomar o poder
Sexta sou um poeta goliardiano
Bebendo e criticando a Deus e o existir
Por fim no Sábado vou pro circo pra ser malabarista
Tentando fazer de tudo ao mesmo tempo na corda bamba
Mas se isso tudo não acontecer,
Se a rotina não acontecer
Eu desligo a TV
E trucido a mídia
Com uma crônica poética
Sem perder a minha ética
Pois o moderno esculhambou
E o pós-moderno esculachou com um massacre verbal.

Eu Tenho H.R.C.C., E Você?

Tu sabes o que é hiperatividade rítmica crônica compulsiva? Não?! Bem, saiba você, que você, pode ter e não sabe. Confesso que eu tenho este distúrbio nervoso, não sei desde quando tenho, mas sei que tenho (talvez desde quando eu comecei a tocar bateria).
Os sintomas são tão simples que o próprio nome explica. Analise morfologicamente o nome da síndrome, agora reflita, filosofe, respire fundo e veja que isso é basicamente a bateção de pé constante, só que ritmada.
Não é tara, nem psique, talvez trauma, possivelmente estresse, se esse estiver em um nível muito frenético, mas em base a maioria, em tese, é tédio.
Há também de se entender que muitos que têm essa mania escrota são em parte: bateristas, pessoas que gostam de bateria, percussionistas, pessoas que gostam de percussão, ou pessoas que escutam rock, ou metal, ou qualquer ritmo onde a bateria é exacerbada, ou não.
Em grandes crises de H.R.C.C. pessoas começam a tocar, imaginar, coisas loucas. Entenda que os casos são tão pessoais e isolados quanto às pessoas, por isso não há um padrão para essa doença.
Nessas grandes crises pessoas vão de Slayer à Afroreggae! E por falta de interesse e falta de estudo nesta anomalia psicopedagógica, pessoas normais sofrem todos os dias dessa moléstia. Na verdade, quem sofre é a pessoa ou as pessoas, que estão do lado do perturbado, o H.R.C.C. é que nem a maconha: da mó barato pro usuário e mó incomodo ao não usufrutuário!