sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Minha Fuga

Muitas vezes eu saio desse mundo, me recolho no meu próprio universo, de belezas abstratas e de sons melindrados. Não é um mundo melhor do que o real, na verdade ele até é bem pior, a diferença mesmo é que eu prefiro o meu pior a o pior real. Pois o pior real também está empregado à hipocrisia, não digo que o meu pior também não tenha essa banalidade só que pra mim ele soa mais natural, diferente com a do outro mundo que soa muito forçado, às vezes nem era pra ter, mas tem apenas de pirraça.
São aqueles momentos em que eu não agüento mais ouvir aquele noticiário repetitivo, ou ler aquele boletim, com o furo de reportagem, que é sempre igual ao da concorrência. Quando o caos me parece monótono, ou até muitas vezes, bem engendrado, eu me desligo. Não suporto. Como pode me parecer haver uma desordem controlada? Não entendo, busco entender, não gosto do que leio ou do que ouço e simplesmente me desligo.
Fico olhando para a hélice do ventilador, que gira até bem rápido, ou fico olhando para fora da janela, esperando alguma coisa acontecer, ou paro pra ler algo que me faça pensar em outras coisas decorrentes sobre o mundo real. Tento entender o mundo por fora, com a minha trilha sonora. O trompete é o meu melhor amigo: sempre estalando forte aos meus ouvidos, vindo violento e delicado, ou delicado e violento, ou delicadamente violento, porém fugaz, nunca importa a ordem ele sempre será uma saída de escape pra mim. A minha abstração, a minha nave para o meu mundo de ideais e idéias intransponíveis, de coisas perfeitas. O Mundo Inteligível, fluido, líquido, perfeito, onde somente eu o entendo, cada vez mais perto do Sol.
Como sempre, o trompete cansa e para. E eu sou queimado pelo Sol. E eu caio de volta a esse Mundo Sensível, e volto a me machucar com as sombras que me circulam. E eu estudo pra entender o que eu já entendo, porém não lembro apenas abstrações esquecidas pela falta de jazz.
Sofro, tentando viver, engasgado num mundo em que a cada passo dado para frente, dão-se dois para traz. Isso só traz isolamento, perda de amigos, entes queridos, fome e desespero. O Sol me queima, mas mesmo assim eu quero chegar mais perto dele, ousando tanto quanto Ícaro. Só que eu sou mais esperto que ele, estou mais calejado que ele também, por isso larguei há tempos as penas e a cera, hoje em dia só vôo com minhas asas de metal, meus foguetes de trompetes.

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