sábado, 3 de outubro de 2009

Cabeça Cheia De Pensamentos Vazios

Anda nada tranqüilo; trabalha todo irritado. Trânsito, caos, farra, porre, cerveja, uísque, vodka, cachaça. Poker, Trinca, Full House, sem House. Putas, vadias, escuro... Boteco, Sinuca, Bola Oito. Rotina crônica, cavalos, bichos, ventilador de teto quebrado girando lentamente. Miles Davis, Chico Buarque, Motorhead, Buddy Guy, bateria, gaita. Mais cervejas, Brahma, Boêmia, Heineken, Duvel, Jack Daniels. Becos, Alentejo, sushis, bacalhaus, rocamboles, nhoques, pesticidas, iates, guerra eminente da América Latina, devassas ardentes. Lapa, Carioca, Largo do Machado, Ipanema, Irajá. Polícia, críticas, e mais críticas, sou criticado. Cinema, Kubrick, Coppola, Spike Lee, Billy Wilder, Oscar Peterson, Herbie Hancock, Magic Slim, Cartola, Bezerra, Tom! Mangueira, Sapucaí, Petrópolis, Berlim, Corona, Paulaner, vitrola com LP. Ensaios, Sócrates, Kant, sarcasmo, ironia, dor, amor, falta de consciência. Chapéu coco, óculos escuros, cara de mal, aparência cheia de pecados, meus demônios estão à tona — “sou um livro aberto com páginas bem viradas”. Tatuagens para se marcar e lembrar das dores do passado, das farras, barba por fazer. Cara de bunda com diarréia, olhar decadente, o cara não é valente, só se garante com a quarenta e quatro. Chuva, calor. Barca, ônibus, táxi, moto, banco, boteco, casa, trabalho, livro, CD, sem fama, viver noir, morrer noir, fama noir! Fim!
Espasmo, o braço moveu-se com toda a espontaneidade dada a uma ereção, o punho acompanhou com maestria os movimentos bruscos e suaves e a caneta cravou tudo no papel. Sem medo, sem coerência, sem, vontade, sem, te-são! Pirei por minutos, por segundos, por décadas, por séculos. Meu braço se auto elocubrou, acho que é castigo dado a quem escreve e pensa muito. As palavras estavam relapsas por causa de todo esse movimento afobado. Estavam guardadas pelo tempo dentro de uma mente desgraçada atordoada.
Se as coisas não fazem sentido, beba. Primeira dose, nada, talvez no terceiro trago haja alguma coisa. Estamos chegando lá. Talvez na décima. Essa não ocorreu. Escrever pensando bêbado ou bêbado de escrever? Assim é a arte, se a obra não fizer sentido, beba até achá-lo! Assim, a análise da arte de uma pessoa será sempre a sua arte, pintada por outra, chegamos à interpretação intrapessoal anfótera! Nessa linha de pensamento chegamos a grande questão da humanidade, a de que ninguém entende a obra como o próprio obreiro.
Chegamos ao cúmulo da velocidade, a falta da expressão. Ou será que chegamos ao cúmulo da modernidade, o fator que engloba a velocidade inexpressiva? Será o fim da dialética construtiva do passado, pois o meu presente é passado, ou seu presente é o meu futuro? Logo eu sempre viverei atemporalizado num vortex de obras paradoxais!
Se você não entendeu nada do texto escrito acima, sugiro que você veja um jornal pela televisão e tente se lembrar, após o jornal acabar, da primeira notícia dada pelo âncora. Depois releia o texto e de um grito de guerra tupi e taque o seu televisor pela janela. Defenestre o Rei!

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