sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Aves Malditas

Tenho sofrido muito ultimamente. Acordo todo dia tranqüilo, no limite do possível, quando que subitamente sou atingido por um ataque sonoro o qual me deixa atucanado. É sempre na hora que estou eu tomando a minha bela xícara de café. Saibas tu que eu, in natura, não sou um cara muito feliz quando acorda, nunca fui e talvez nunca seja. Mas na medida do possível tento viver em harmonia até a próxima dose de cafeína. Só que isso não é possível, pois esse ciclo é sempre interrompido pelos gritos lamuriosos dos cantos dos passarinhos que são meus vizinhos, em especial do maldito Bem-Te-Vi!
Na verdade são vários desses bastardos que vem para me pentelhar. Acho que cantar perto da minha janela seja a boa, deve ser o pico deles sabes? Parabéns os passarinhos que cantam perto da minha janela, no prédio ao lado, são surfistas. Sensacional! Parece muito esdrúxulo, mas até que nem é tanto. Pense que os picos são os locais com as melhores ondas, logo o melhor local para surfar. Então vários surfistas vão aos picos esperar a sua onda na imensidão azul do mar que se encontra num perfeito paralelismo com o cósmico azul do céu. Então, partindo dessa premissa, o prédio que se situa vizinho ao qual eu moro deve ser o melhor local para se cantar, por isso que os passarinhos e os Bens-Ti-Vi esperam a sua vez para cantar, logo me infernizar.
É um porre, todo dia de manhã escutar essas pequenas formas de vida comemorando o seu viver. É bom por um lado, porque se eles ainda estão cantando quer dizer que eles ainda estão vivos, mas quando eles pararem de cantar vai significar que eles já não estão mais lá, ou seja, que a gente corre sérios riscos de vida. Seguindo analogamente, essa seria a mesma tática usada pelos mineiros, o passarinho morria pela falta de oxigênio — afinal nós vivemos em uma mina a céu aberto.
Mesmo sabendo de sua extrema necessidade e utilidade para a sobrevivência urbana, eu continuo não gostando deles porque além deles me tirarem o sono, a reflexão racional, eles me tiram a coisa essencial para a vida do homem moderno, o tédio.

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