sábado, 17 de outubro de 2009

Bala No Ventilador

Agora não há mais volta. A merda já esta a caminho do ventilador, a hélice deste já esta sedenta pelo dejeto. Não querer esconder o que já virou verdade, o Rio já virou guerra civil! Estamos no caminho de Ruanda com os nossos próprios Hutus e Tútsis (C.V., T.C., A.D.A., fora as novas facções dissidentes dos dissidentes T.C. e A.D.A.). Nossa guerra não é étnica, mas é de poder. Poderia virar étnica, mas não se pode fazer isso no Brasil antes de se fazer uma esterilização em massa, por essas razões a guerra pelo poder — das drogas, das armas, da vida — é mais fácil.
Não sei como eu sempre consegui dormi bem. Nunca havia eu prestado a atenção aos tiroteios, mas ontem à noite fora diferente. Estava tentando dormir a mais de uma hora, rolando de um lado e pro outro, daí vieram os tiros. Muitos tiros, de todos os calibres e formatos. Veio também aquela sensação meio que claustrofóbica de que aquilo estaria passando rente a minha janela, de que eu seria acertado e morreria como um grande alvo gordo. Entraria com forte peso para estatística. Aquela cena me tirou o sono, esperei os tiros acabarem, levantei-me bebi uma água, fui até o banheiro dei uma mijada, estava eu de pernas bambas quase que não acertei o vaso, joguei uma água a cara, me enxuguei, tomei mais um gole d’água e me pus de novo a tentar dormir. Quando estava conseguindo chegar ao país dos sonhos os tiros vieram e mataram as minhas ovelhinhas. Depois acho que voltei a me acostumar com a sinfonia metálica e cai no sono (até que o crime organizado atira com certa cadência, respeitando uma harmonia de timbres, deve haver uma boa regência por trás disso).
Quando acordei pela manha de sábado ouvi mais tiros, vi que eles haviam derrubado um helicóptero da polícia, que eles tinham queimado ônibus, que a comunidade em desespero fechou uma rua. Acordei meio chocado, meio Roméo Dallaire, parece que a tela de proteção que esteve sempre ali acabou de desabar, estava vendo a desarmonia a minha frente e as pessoas pouco se importando para ela.
Das duas umas: primeiro a violência é um comportamento tão natural do ser quanto ficar excitado (já dizia Hobbes: “o homem é o lobo do homem”), ou então a violência é uma coisa que já esta tão entranhada nosso ser que ela já caiu no senso comum. Talvez seja o misto das duas. Nós somos sádicos por natureza, rimos das desgraças dos outros, rimos de tiros e de explosões. Gostamos disso, achamos engraçado, até que o esquartejador bata a sua porta. Já banalizamos tanto a violência que ela agora nos banaliza, mostrando ser um sistema muito mais complexo e mais bem preparado do que imaginávamos.
Não deveríamos achar normal um cara matar o outro no meio da rua a queima roupa no meio de uma rua movimentada, se fosse no campo seria outra história. É normal morrer? De certo é! Tanto é que cada um só morre uma vez, é só esperar. É normal viver? De fato é! Então, essas coisas são normais, pessoas morrem toda hora, mas morrer por causa da violência não é uma coisa certa, nunca foi e nunca será. Quem ta certo o bandido ou policial? Mas quem é o policial e quem é o bandido? Depende do ponto de vista. No Brasil é tudo erro de base, a polícia só tem duzentos anos, então quer dizer que nos outros trezentos a putaria corria solta? A Falange Vermelha nasceu em plena ditadura quando os presos políticos ficaram encarcerados juntos aos presos comuns lá no Caldeirão do Diabo, na Ilha Grande, onde ambos os presos conviviam trocando conhecimentos, nisso os políticos ensinaram técnicas de guerrilha aos comuns, daí o resto é C.V. mesmo.
Hoje a bandidagem conseguiu materializar a grande metáfora das pessoas que estão na vala: eles tacaram merda no ventilador! Estamos perdidos.

2 comentários:

  1. Cara, não tinha nem ônibus pra ir pro trabalho. Bagulho endoidou.

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  2. Realmente foi um dia tenso, o pior foi a árvore ter caído aqui em frente no próximo dia, coisa de louco.

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