segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Do Temaki De Salmão Com Tabasco Ao Churrasco Misto De Carne E Linguiça Com Farofa E Molho À Campanha

Acordo em pleno domingo, meio desnorteado como sempre e um tanto pensativo. Pensando no que fazer. Logo que abro os meus olhos e viro para o lado me deparo com a minha mãe (não faço a menor idéia como ela chegou lá, aliás, os meus pais sempre “brotam da terra” nos momentos mais, como poderia dizer, inusitados), falando que a minha prima ligara perguntando se eu queria comer sushi com ela e com o namorado, eu respondi que sim, minha mãe a ligou respondendo que sim. Não adianta as mães são as melhores secretárias de um homem.
Levantei-me, falei com o meu pai, vi um pouco da Formula Um acompanhado de um bolo de chocolate, desisti da corrida, contudo terminei com o bolo, sabe como é esse relacionamento homem bolo: tu o comes e ele nem reclama, na maioria das vezes, e essa não foi uma dessas perfeitas ocasiões. Comecei a me preparar psicologicamente pro rodízio de sushi, eu nunca havia comido sushi, minto, “comi” uma vez em Guarapari, na verdade pus na boca e não consegui come-lo. De todo jeito fui me concentrando, meditando ao som de Samba em Prelúdio e Rio Ancho, expurgando todos os males do meu corpo, para ir puro para o sushi, tudo para não pedir malembe.
Depois de sei lá, quase uma hora, eu já refletido, de banho tomado, a prima liga dizendo que está a sair de casa. Ponho o xadrez, pego os micos, me despeço do Paco e do Powell, beijo meus pais e entro no carro celta, rumando ao Leblon.
Grajaú, Vila Isabel, Tijuca, Maracanã, Praça da Bandeira, Rio Comprido, Lagoa, Leblon. Chegamos ao boteco, ainda fechado. Largamos o carro perto de uma árvore, e rodamos na Noruega do Rio de Janeiro. Que local lindo! Seguro. Até os mendigos são mais limpos e cheirosos, parecia que não estávamos no Rio.
Deu a hora, duas horas da tarde, exauridos e esfomeados rumamos em direção ao boteco do sushi. É estranho falar ou pensar isso: um boteco com sushi. Na verdade ele esta mais para botequim, mais pomposo e maior. Era um daqueles botequins de chope Brahma a quatro reais, batata a dezesseis e rodízio de sushi trinta! De primeiro momento eu não me adaptei muito bem a idéia deveras estranha de estar num botequim para comer peixe cru. Não me lembro de seu nome, só sei que o jargão era: “a verdadeira comida boêmia”, ou algo assim.
Sentamos a mesa, nos entregaram o pratinho, os “pauzinhos” ou hashi, o potinho do soyo, e o soyo, eu queria saquê, mas a dose era muito cara. E a minha prima e o namorado dela, se puseram a escolher as peças, na verdade ele, o senhor Fantasminha Camarada, um exímio sushiman, fora escolhendo o que me servir. Antes ele me fez a pergunta do dia:
- O que você vai querer Léo? – E eu respondi:
- Tudo! Hoje eu estou aberto a novos sabores... – E assim foi.
Califórnia, Filadélfia, Hot Filadélfia, Makimono, Sashimi, Tofu, Lula, Salmão, Atum, Camarão, Temaki, Namorado, Wasabi, Nori, só faltava botar uma japa na minha mesa para eu traçar. Estava eu endiabrado, alucinado, pelos novos sabores borbulhando na minha boca, na minha barriga, tudo isso harmonizado como água com Coca, o clássico macete de bar, enche o copo de gelo, para deixar o estrato americano aguado, eles devem achar que isso deve enfraquecer a força de coesão da bebida, ou para o freguês pedir mais ao burguês. Fora um almoço completo, com explicações dos pratos, aliterações sobre a culinária japonesa e jogo de futebol, tudo isso em mais de duas horas de almoço. Me sentia um glutão, mas não parava de tirar o olho do bifão com fetuccine ao alho e óleo da loira do lado, eu e o Fantasminha babávamos pelo bife, minha prima não compreendia como podíamos querer aquilo, depois de comer todo aquele outro aquilo, simplesmente respondíamos a ela em trissílabos e monossílabos átonos, frases curtas mas com amplo significado filosófico:
-É comida boa! - Balbuciávamos isso feito dois insaciáveis seguidores de Baco, enfiando o makimono goela a baixo, pensando no sabor da picanha.
Por fim, não comemos o bife, nem eu a loira, apenas um temaki de salmão com tabasco, que fechou com chave de ouro o meu primeiro mergulho antropofágico na gastronomia japonesa.
Depois de lá, fomos para o Estácio, deixamos a minha prima dormindo na casa do Fantasma, e fomos nós jogarmos sinuca no pé sujo. Levei uma surra, mas tive meus momentos, bebemos uma Boa, escutamos um pagode, jogamos mais sinuca, desta vez em outro pé sujo. Voltamos a casa dele, ele acordou a minha prima, apanhamos o carro, me deixaram em casa no Grajaú, subi a casa, soltei os peixinhos de volta ao oceano, e tratei de rumar ao meu pé sujo costumeiro, para comer com meus genitores uma porção de batatas fritas, amendoim, e o clássico churrasquinho misto de carne com lingüiça acompanhado com molho a campanha e farofa, tudo isso suavizado com mais Boa. Esse realmente foi um dia de extremos gastronômicos, no fim tudo se deu bem, todos se encontraram no mesmo lugar. Alegres e felizes confraternizaram uma festa e no final todos saíram juntos e misturados rindo e cantando felizes para sempre.

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