domingo, 1 de fevereiro de 2009

A Fome Da Malandragem Carioca

Uma boate na Zona Sul, lá pra meia noite e uma da manha. Tem um cara na fila. Ele ta sozinho e ta a mais de meia hora na fila, e ainda estão seis pessoas na frente dele, mas ele ta tranqüilo. Estava tudo bem errado, mas o sujeito não se incomodava, pouco ligava, até que chegam quatro loiras acompanhadas de um playboy, esse fura a fila fala com o gorila da entrada como se fossem grandes amigos, ele troca abraços com o armário e entra, para dentro da boate com as quatro loiras.
O cara ficou irritado, não era a primeira vez que isso acontecia na vida dele, ele sempre ficava fora por causa de um playboy e quatro loiras. Sendo assim o sujeito muito endiabrado, fula da vida, alterado emocionalmente, foi até o negão e falou:
-Cara eu to aqui a mais de meia hora, não agüento mais essa fila maldita, muita gente ainda não entrou, e como é que você deixou o cara entrar?
- Sagatiba - o negão respondeu gargalhando - Sacanagem. Mas falando serio com tigo porque hoje eu to calmo. Se liga meu irmão, primeiramente o cara fecha comigo e depois o cara ta botando mulher na casa. Entendido?
Um tanto assustado o rapaz respirou fundo e gritou:
- Entendido porra nenhuma chefia. Alias, tu sabe quem eu sou?
O negão rindo perguntou gentilmente:
- Sei não. Quem é tu?
- Po, sei lá, eu sou eu saca? Na verdade eu também não sei quem eu realmente sou, eu tenho buscado isso pela minha vida inteira e acho que vou morrer sem saber - alegou o rapaz - Acho que isso tudo é culpa do meu pai, porque um dia ele foi comprar cigarro e nunca mais voltou, acho que isso me traumatizou profundamente, saca?
O segurança em um tom sincero respondeu:
-É chara, eu sei como é isso. Pelo menos tu conheceu o seu pai. Po se liga vamo beber uma cerveja no boteco ali. Bateu uma dor de cabeça, não quero mais trabalha hoje não – e o negão pediu para um outro segurança o substituí-lo.
O rapaz achou um tanto estranho, começou a achar que o negão era gay e logo que chegaram ao bar ele falou:
-Po cara, eu não sou gay não ta?
E Marcus respondeu rindo:
-Bom pra você. Mas eu sou – o cara começou a ficar com medo – Mas eu não gosto de branquinho como você não, pode ficar tranqüilo – e este realmente ficou.
E começaram a beber, falaram sobre muita coisa: futebol, mulher e carro, ou carro, mulher e futebol, também discutiram sobre casamento gay, sobre o problema do Brasil, sobre o Lula, sobre a violência no Rio, sobre a liberação da maconha, até sobre como foi a primeira vez de cada. E lá pelas tantas o negão fez uma pergunta ao rapaz:
-Ai tu quer entrar na boate semana que vem bem acompanhado por quatro loiras?
- É claro que sim! – respondeu eufórico o rapaz, não podia se concluir se ele estava eufórico pelas loiras, pela loira, ou era natural mesmo.
- Então ligue pra esses números.
E assim ligou, pegou os msns e depois de umas conversas todas toparam na hora, coincidentemente elas eram todas amigas de longa data. Achou estranho mais não ligou, pois gostava daquela boate, ia ser vip e o melhor de tudo: ser vip na boate que gosta com quatro loiras maravilhosas.
O dia foi que nem o combinado na sexta passada, chegou à boate com as quatro loiras, furou a fila, abraçou o armário e este o deixou passar. E todos seguiram felizes da vida.
Mas, o mais legal dessa historia é que: o cara não tinha perdido o pai, ele só não tinha dinheiro; o segurança realmente se chamava Marcus, mas não era gay, só falava aquilo pros enganados do golpe só pra ver a reação deles, e por ultimo e muito importante, as loiras não eram loiras de verdade, em todos os sentidos.
Moral do conto, todos somos malandros, e o que importa é a vantagem. Mesmo se depois as coisas não saiam como deveriam ser o que importa é o prazer de tirar vantagem dos outros, o lance é a competição desleal, como diz a musica do Nação Zumbi: sem fastio com fome de tudo.

Um comentário:

  1. desisto de tentar imaginar o final das suas estórias!!!

    com certeza foi bem criativo esse conto!

    kemmely

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