quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Verdadeiro Muro De Berlim

Tava no ônibus hoje, voltando do Cosme Velho, não estava pensando em nada construtivo até aquele seguinte momento. Estava apenas curtindo a chuva que caia, e molhava o meu braço, e pensando em algum blues, tentando cantarolar. A cena era até muito boa: o ônibus quase vazio eu esparramado no banco com a janela parcialmente aberta, com a cabeça apoiada naquela barra de ferro entre as janelas, se isso tive-se sido filmado em preto e branco daria uma bela cena de filme cult, que o ator principal é um tanto perturbado e que anda em ônibus circulares quando não tem mais nada pra fazer, poderia até parecer com O Selvagem Da Motocicleta do Coppola. Talvez quem saiba, mas acho que eu não com essa bola toda não.
Depois de alguns minutos o ônibus começou a encher, quando, de repente, quer dizer, naquele ponto, subiram quatro surdos. Dois rapazes e duas moças, eram jovens, deviam estar voltando de alguma aula, ou de um bar, quem sabe, deficientes auditivos também bebem cerveja. Então estes sentaram cada um em um banco voltado pro corredor do ônibus, e começaram a conversar. Não foi a primeira vez que eu vi surdos conversando mais foi a primeira vez que eu fiquei curioso pra saber o que eles estavam falando, eu realmente queria saber libras naquele momento.
Em um primeiro momento é um tanto triste ver pessoas surdas, não poder escutar musica não poder falar, não poder escutar aquelas palavras ao pé do ouvido à meia-noite em um bar na lapa; mas veja bem o seguinte, elas não são iludidas tão facilmente pelos meio comunicativos. O problema é da sociedade que não ajuda o suficiente essas pessoas que são tão normais quanto nos, fazendo uma comparação muito apelativa é como eles fossem Vasco e agente Flamengo, é o preconceito que nos afasta dessas pessoas excepcionais.
E eu lá, observando descaradamente para a conversa deles, salve o voyeurismo, vendo a beleza da conversa empolgada e silenciosa de quatro amigos, o silencio no caos, a conversa que não podia ser interrompida por palavras mais sim por uma parede de bundas cansadas voltando do trabalho, tocadas pelo caos urbano, ali poderia ser ter o verdadeiro muro de Berlim, o muro que impedia a comunicação, a liberdade de expressão de quatro pessoas, o muro das desigualdades, o muro das lamentações pos-moderno, o muro do preconceito.

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