quinta-feira, 8 de abril de 2010

No Dia Que São Pedro Parou Sebastião

Tudo começou na segunda depois da Páscoa, dia 5 de abril, e como os jornais falaram foi a pior chuva que atingiu o Rio de Janeiro em 44 anos. Realmente eu posso falar que foi horrível, até a natureza deveria ter um pouco de escrúpulos ou pelos menos fingir que tem! Porra! Uma chuva em plena segunda-feira às seis da tarde, quando todo mundo ta saindo do trabalho, ou iniciando o seu expediente; hora do rush na cidade! Em bom funcionamento já é meio complicado transitar, seja a pé ou de meios de transporte. E foi mais ou menos isso: a chuva caindo tranquilona, cheia de raiva no coração e com aquele apetite maneiro por destruição, e foi alagando, que por sua vez foi parando, e parando, e parando e parou a cidade do Rio de Janeiro! E foi assim, eu tava no Centro, lá pelas oito ou nove horas, pronto para voltar pra casa, só que fui surpreendido pela fila de ônibus e carros parados no sentido Praça da Bandeira da Presidente Vargas, nas outras faixas não passava se quer uma alma vinda da mesma praça. Esperei um pouco, não deu em nada, a Praça da Bandeira devia realmente estar submersa. Resolvi tomar o metrô até a Saens Peña. Enfrentei uma fila gigantesca pra comprar o bilhete na Uruguaiana, esperei um pouco o metrô chegar, me joguei pra dentro dele quando este chegou, lutando por um espaço. Até que não foi uma luta tão pavorosa, cheguei rapidamente a Tijuca. Enfrentei mais uma fila de quase mesmo tamanho, desta vez na chuva, no ponto do ônibus da integração. Depois de um tempo chegou a minha vez de embarcar no ônibus. Cheguei rápido no Grajaú, até porque não tinha muito trânsito na rua. Ainda bem que não estava faltando luz da minha casa, porque ultimamente, caiu uma garoa falta luz!
Quando cheguei confirmei a calamidade em que nos encontrávamos. E foi assim, pelo menos até hoje (quarta-feira, dia sete), continua caindo chuva, até agora temos 138 mortos, segundo os bombeiros; mais de onze mil desalojados, pelo que nos informa a Defesa Civil. Ainda temos vários pontos de alagamento, estradas bloqueadas, muitos bairros ficaram sem luz nesses dois dias, muitas pessoas passaram muito sufoco na volta pra casa. E foi decretado estado de luto pelo Governador nessa terça.
Vivemos um momento de crise, uma séria crise que não deixa ninguém de fora. Essa chuva mostrou mais uma vez, pela segunda vez no ano, que há sérios problemas na administração da cidade e do estado. Voltamos àquele grande problema de ocupação irregular nas encostas, as famosas áreas de risco (que pra mim não devia falar que apenas um lugar é perigoso, ou mais perigoso, pois toda a favela é um risco). Pois o terreno foi desmatado para aquela construção irregular e precária, assim chamada de barraco. E quando chove muito, o terreno que foi devastado pelo arranque das árvores não consegue segurar o volume d’água e sede. E nisso o morro desce pro asfalto. Temos também os alagamentos que acontecem por causa de entupimento do esgoto pelo lixo que é carregado pelas águas da chuva, além disso, temos o problema da falta de ampliação desse sistema de esgoto, que não atinge todos os pontos da cidade; também carecemos de um sistema funcional de escoamento na cidade, pra mim ele não existe. Se nesse caso ele existe e é feito pelo esgoto... Eu realmente vou começar a me por a rir. Também temos os transportes, que normalmente já são precários e escassos. Foi muito legal, o ônibus não está passando, peguemos o metrô então, que está lotado; e o trem que não funciona... O que mais podemos pensar de legal? Temos a situação das ruas, hospitais, o problema da polícia, o problema do “terrorismo” carioca, a luta de classes... Tem aquele que tá na moda, o problema da emenda Ibsen, que propõe uma nova forma na divisão dos royalties do petróleo e do Pré-Sal, onde os estados produtores, como é o caso do Rio, perderiam muito dinheiro, pois os royalties seriam divididos por todos os estados e municípios da união de acordo com o fundo de participação. Porque, para Ibsen, “não existe estado produtor, no máximo tem uma vista para o mar, que é muito privilegiada”. O Senado voltou atrás, percebendo a grande burrada feita, propondo a divisão entre os estados da união sendo que existiria um percentual majoritário para os estados produtores. Verdade que não existe o estado produtor, então mande o dinheiro para Atlântida, eles precisam mesmo de uma grande verba para a reconstrução. O dinheiro vai para o estado ou município que tem em sua zona de influência um ponto de extração de petróleo, isso não é uma coisa privilegiada, pois aquela região tem que estar preparada para manter todos os trabalhadores daquela região! Se um poço de petróleo brotar no meio de Bangu ou no meio de Porto Velho os royalties, as infra-estruturas, tudo vai para lá! Pelo menos eu acho isso, é o meu ponto de vista, ao invés de fazer isso com o petróleo por que não faz com o latifúndio? Expropria-o, loteia-o, enche de novos proprietários e faz o Maranhão feliz!
Só digo que perdemos tudo! As Olimpíadas, a Copa, a promessa de vida nos nossos corações! Cabral chorou. Tadinho, como ele chorou ao ver que o seu sonho indo por água a baixo. Mas sua tristeza foi vingada, uma vingança divina, São Pedro agiu por si só! E como Cabral que lançou águas de tristeza, o grande Santo nos trouxe muitas outras carregadas de mágoas e angústias! A hedionda enxurrada mostrou que nós temos muito a melhorar, mostrou que o único órgão público que presta são os bombeiros, pois eles agem na hora certa, sabem aproveitar o momento e também que não se deve especular como fazer o resgate de uma pessoa: indo de imediato arriscando sua vida em detrimento do bem do outro, sem esperar o bote chegar.

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