domingo, 12 de abril de 2009

A Loja De Cerveja

Existia um cara que amava cerveja. Ele realmente tinha problemas sérios em relação a essas loiras. Sempre que podia dava suas palestras criticando as pilsens brasileiras, que são falsas que não fazem jus as verdadeiras thecas. Mas por falta de dinheiro sempre acabava bebendo as brasileiras, ou explicando estilos de cerveja, tudo isso baseado no que lia na internet, pois este não conseguia achar livros sobre as divinas. Na verdade até achava, mas tinha o medo de se aprofundar e se meter a fazer seus próprios monstros de cevada, lúpulo, água e levedura, como sempre seguindo a grandessíssima lei da pureza alemã.
Um dia desse ele foi a uma loja especializada, fazer umas compras rotineiras. Nunca tinha ido a essa loja, mas tinha ouvido falar bem dela. Ao chegar ao recinto ele ficou extasiado, todas aquelas marcas, tudo aquilo, ele estava atônito, parecia uma criança numa loja de brinquedos. Seus olhos brilhavam. Tantas possibilidades, seus sonhos de jovem bebedor estavam lá, todos aqueles devaneios embriagados, fermentados e nomeados estavam lá, presentes, lhe olhando, lhe sussurrando; “beba-me”.
Enquanto ia entrando a loja ele ia sendo encarado por cada rótulo: as belgas, as alemãs, as tchecas, as inglesas, as holandesas, as irlandesas. Ele percebeu uma coisa: precisava de ajuda. Precisava de alguém para ajudá-lo em sua nobre busca. Então seguiu reto desviando os olhos delas e parou retilíneo ao balcão e falou:
-Boa tarde! – não sabia a quem perguntara apenas falara com a primeira sombra que aparecera a sua frente.
-Boa tarde! Em que posso lhe ajudar? – para sua grande sorte quem respondeu era um funcionário da loja, o nobre ser que ia lhe ajudar.
-Eu queria saber se vocês têm Guinness? – salve a Guinness, ele procurava pela tal pelos quatro cantos do Rio, há meses que estava nesta sede, há meses que estava na seca, lá era sua última esperança, a ultima ratio.
-Temos, temos. – respondeu tranquilamente o vendedor.
-Ta quanto? – perguntou afobado o rapaz.
-Ta X!
-Hum!... – estava no preço: nem tão caro nem uma pechincha, apenas no preço.
-Outra coisa...
-Diga!
-Tem aquela rauchbier alemã... – ele não sabia falar o nome, mas, sabia tudo dela, até do seu sabor metafórico, esperava há tempos para tê-la em seus lábios.
-Hum!...
-Aquela que tem um nome estranho, começa com “s”, eu realmente não sei falar aquele nome... – isso que dá a falta de um curso de alemão na vida de um amante de cervejas.
-Hum!...
- Vocês têm? – perguntou delicadamente, não podia mostrar suas emoções a esse tipo de pessoas.
-Se ta falando da Schlenkerla?
-É exatamente essa, e como é que você consegue falar isso?
-Eu estudo alemão. A loja ta pagando o curso, saca? – filho da mãe, quero trabalhar aí também, tem vaga não?
-Entendo, então tem? Ta quanto?
-Temos, ela ta Y!
-Hum, tem também Erdinger? – mas por questão de curiosidade, para ficar mais íntimo com o vendedor.
-Temos, mas o senhor está procurando qual?
-Pô, to procurando a Dunkel, a Kristall e a Pikantus.
-Temos as três, elas tão Z, cada, mas se o senhor levar as três por mais X, o senhor também leva o copo.
-Vocês realmente são profissionais mesmo hem?
-A gente tenta! – o funcionário ficou surpreso com a frase e lançou essa ironia rindo maliciosamente.
-Ta bom então, se vocês realmente são bons, vocês tem Deus? – e ele duvidara que tivessem.
-Temos. – respondeu o funcionário, com a maior calma do mundo. Essa frase foi como um tiro para o rapaz, ele parecia o Kennedy degolado e seu assassino muito calmo.
-É mesmo, e ta quanto? – ele pensou que era um blefe...
-Ta 300 reais, aceitamos dinheiro, cartão, cheques, parcelamos em até três vezes sem juros. – e não foi. No momento que o funcionário terminou de falar ele apontou para garrafa que estava ao lado do balcão, e lá estava Deus.
-Então valeu. – falou arrasado o rapaz, dando as costas ao vendedor. Arrependido e arrasado, e com todas aquelas loiras do salão rindo dele, até mesmo Deus ria de sua burrice ele saiu para voltar nunca mais.
E nesse momento eu acordei do meu sonho irreal, da minha realidade atemporal. Com o questionamento de preferir morrer ateu a comprar meu Deus. Esse lindo sonho só reflete a minha triste situação sem a minha linda Guinness e sem Deus, um clássico problema de um burguês insatisfeito sem dinheiro para comprar Deus, mas como já disse prefiro morrer ateu e bebendo Guinness a comprar minha passagem para o céu.

2 comentários:

  1. Eu já passei por uma situação dessa. Só que não foi com cerveja. Era uma boutique chiquérrima, a roupa era linda! Eu tinha de ver de perto! Mas, dinheiro nada! Aí entrei, olhei a roupa, perguntei pelo preço e disse tchau!!!!

    ResponderExcluir