quarta-feira, 13 de maio de 2009

Síncope Do Snoopy

Estava eu sozinho no banheiro, só eu e o meu eu lírico. Estava a trocar de roupa com todo o lirismo que se possa colocar nessa simples ação de um mero mortal. Escutava o lindo trombone de major Glenn Miller, no Blues do Santo Louis.
Botava as calças, eu acho, quando escutei o latido do cachorro. Era noite, e tem um cachorro bem pancada no prédio ao lado que gosta de latir à noite sem o menor motivo. Não ele não esta a uivar! Ele quase sempre olha pro nada ou para minha janela, ou para mim, com aquele olhar negro e áspero banhado daquele ódio ancestral de repressão canina, não sei se ele realmente sente isso de mim, mas eu sinto isso dele! Acho que ele nem consegue me enxergar a noite, mas sei lá, quiçá um dia tenha eu essa resposta.
Se o infeliz sente ou não sente algum sentimento a minha pessoa naquele presente momento não importava, pois ele não me via. Só como desencargo de consciência, acho que pra ele eu devo ser o saudosíssimo Manfred von Richthofen, o vulgo Barão Vermelho, pobre Snoopy.
E lá estava eu, de calças arriadas, ouvindo ao major Miller, pensando numa Miller, quando o cachorro latiu perfeitamente dentro do tempo! A coisa foi assim: -magnífica! Parece que eles tinham ensaiado quando os trompetes subiram para fazer o belo fraseado, o cão entrou rasgando, pois foi tão perfeito que quebrando fica feio, até porque os metais já faziam isso. Foi rasgante, foi divino, foi canino, foi elementar. Aquele dó maior com sétima, quebrando em dois por quatro aquele compasso quatro por quatro, desmantelando toda aquela síncope perfeitamente hermética.
Pena que esse tipo de coisa só acontece a cada mil anos, mas bem que o Snoopy poderia quebrar essa regra.

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