segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Falta de Palmas

Estava quebrando um galho num evento lá no Centro, lá na querida casa onde vou aprender o meu oficio de investigador, era uma festa de recepção aos calouros e mais uma das festas de integração entre os cursos. Bem, ia rolar um som lá, havia uma possibilidade deu tocar, haveria palco livre depois das bandas. Dei um chega na passagem de som, descobri que havia uma falta de bateristas, parece que o dono da bateria e o batera da banda tinha ido embora sabe-se lá o por quê, o que importava é que eles precisavam de um batera e eu estava ali. E toquei, devo ter tocado bem umas duas horas, não sei, toquei bastante, foi maneiro, foi divertido, me davam cerveja, as pessoas curtiam, se balançavam, conversavam, se pegavam. As pessoas estavam realmente tendo momentos legais por lá. Só que eu notei uma coisa. Uma coisa que eu já vinha achando estranho.
Era um sábado, era aniversário de um motoclube lá por Vila Isabel. Tinha churrasco 0800 (para os de colete e pros caras de pau) e cerveja. Fora isso tinha o som de uma banda, banda de uns coroas gente fina que eu virei a tocar. Fui lá pra prestigiá-los e tal. Isso tudo era lá na sede do motoclube, bem legal, todo preto, cheio de caveiras, fotos de moto, pessoas barbudas, loiras, sinuca, chamas, tabaco, cerveja, a única coisa de pitoresca era a escola de balé na frente da sede... Mas tudo bem, viva a diversidade! E se eles não se importam, quem sou eu para falar algo? Bem, a banda começou a tocar, o repertório deles foi legal, as pessoas realmente curtiram, dava pra ver em suas faces rosadas e empolgadas totalmente embriagadas. Mas havia algo estranho lá, era estranho, de vez enquanto, entre uma música e outra, pra ser mais preciso, acontecia um silêncio. Um silêncio mortal, que remetia morte e desanimo, falta de graça e vergonha. Um silêncio que tomava conta daquela sede do motoclube, mas aquelas pessoas de preto pareciam não se importar, e logo após alguns segundos dessa angustia desconcertante a música recomeçava e ninguém parecia se importar, só tinham que levantar um pouco a voz e nada mais. Ao término do show falei com o baixista:
— Cara, por que eles não batem palmas? — Ele riu e simplesmente disse que não entendia aquele povo.
Pois bem, tive essa revelação lá, naquele dia no IFCS, quando percebi que as pessoas não se importavam com a música. Tanto faz como tanto fosse. Só batia palmas quem realmente estava perto do “palco”, assim como no motoclube, e só realmente bateram palmas algumas vezes, porque na maioria das vezes eles nem ligavam. Não entendo mais essas coisas. Antes quando alguém tocava alguma coisa em algum lugar às pessoas paravam de conversar, batiam palmas e voltavam a se falar. Era como reticências na conversa. Isso me leva a pensar por que isso esta acontecendo?
Levanto duas ideias. Uma é que hoje em dia qualquer um pode tocar qualquer coisa, aumentou o número de músicos (profissionais, amadores, de fins de semana, de carnaval, de acampamentos, recreativos), por isso as pessoas perderam o valor a música tocada ao vivo, parece o rádio, só que mais alto e às vezes com versões piores. Outro ponto é o do músico ao vivo no recinto, a questão dos cantores de churrascaria, e dos músicos de MPB de barzinhos, que estão ali apenas para você pagar mais caro à conta do bar, e para servir de música ambiente. E talvez seja nesse ponto que o problema começou a existir (pois um maior número de músicos de bar implica num aumento do número de músicos, na acessibilidade e facilidade de se aprender música), porque no barzinho as pessoas não vão pra escutar aquele músico, pois se fossem o cara estaria numa casa de show, não num bar. Logo a música no bar é música ambiente, ou seja, na cabeça das pessoas, aquilo que está tocando pode facilmente ser uma rádio, ou a seleção mp3 do bar. Ou seja, a música é ambiente, a conversa está em primeiro plano. O músico só trás a trilha sonora singular para as diversas cenas que acontecem no local onde ele está se apresentando que vai da comédia ao drama passando por memoráveis tragédias de amor. E por isso que as pessoas não batem palmas, porque não há nenhuma norma de etiqueta que mande aplaudir o sistema de som.

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